Diário de Uma Filha de Hades

Uma Última Jogada

Sempre pensei que filhos de Atena planejassem as demais estratégias de ataque e defesa, afinal eram os filhos da deusa da sabedoria. Mas no momento era Joshua que orquestrava tudo, fazendo anotações mentais e riscos no mapa de Alcatraz que conseguira de um amigo. Estávamos a sós em meu chalé, porém eu não movia um músculo, não conseguia. Sentia o gosto de meu próprio sangue de tanto morder o lábio inferior, e ainda assim persistia naquilo.

- Vai me contar o que tira seu sono, ou prefere me ajudar aqui?

Ergui o olhar para o filho de Nêmesis, negando levemente com a cabeça ao me levantar e chegar perto da mesa onde o mapa estava disposto. Meses antes nunca pensei que deveria por os pés em uma das prisões mais seguras dos EUA, mas o mundo insistia em dar umas voltas assustadoras a meu ver.

- Não é nada... Só estou pensando no que faremos com os guardas. - obviamente estava mentindo. Os guardas eram minha menor preocupação.

- Nath, você acredita que existam outros deuses fora daqui? - mas que merda de pergunta era aquela? - Bem, eu acredito. Conheci um semideus, filho de Hécate, que possui uma herança celta em seu sangue.

- E por que estamos falando disso..?

- Aí que ta a parte engraçada. O pai dele não consegue mentir, uma característica que ele disse ser comum na linhagem do povo feérico. - circulou mais uma área no mapa, ligando a mesma a um ponto na extremidade oposta - Mas acho que ele teria mais sucesso em mentir do que você está tendo agora.

Engoli em seco, encarando o mapa como se fosse a única coisa presente no lugar. Joshua tinha uma facilidade incrível de se meter no que não era de sua conta, daquela vez não era diferente.

- Se concentre apenas nos planos de batalha, não na minha capacidade de mentir. Estamos andando sobre as chamas, minha vida pessoal não importa agora.

Joshua apenas me olhou com espanto, pigarreando em concordância ao voltar a atenção para os planos de batalha. Não estava nem um pouco afim de ser delicada ou gentil quando faltava pouco pro mundo desabar ao meu redor.

*****

Todo o plano era relativamente simples. Joshua havia nos dividido em dez grupos, cada um seria responsável por cobrir determinada área e tornar possível a invasão. O objetivo era claro, impedir a vinda de Nyx para nosso plano, custe o que custasse.

Todos já estavam em suas posições como lhes foi indicado. Thays liderava a equipe principal, Gabriela a do flanco esquerdo e Joshua protegeria a retaguarda junto aos arqueiros. Se meu palpite fosse correto, Christopher estaria no centro de tudo, mais precisamente no subsolo. Eu iria invadir junto a Isabela, Fernando e Claudio pela ala das celas. Só esperava que nada viesse a dar errado agora.

Assim que o último raio de sol se pôs no horizonte vimos o sinal de Joshua para iniciar o ataque. Sinalizei para que Isabela começasse a atirar as flechas de ponta larga propícias a escaladas nas paredes de concreto, uma escada improvisada. Eu subiria antes, me livraria de qualquer ameaça que encontrasse e por fim jogaria uma corda para que escalassem.

Me impulsionei para cima, utilizando as flechas como ponto de apoio. Praguejou vez ou outra quando minha perna dava pontadas doloridas, mas não encurtei ao passo. Vamos lá, só mais quatro... O mínimo que poderia acontecer era acabar caindo, quebrando alguns muitos ossos como consequência. É, não seria nada bonito.

O telhado estava livre de ameaças, ótimo. Isso economizaria grande parte do meu tempo. Amarrei a corda em um ponto de apoio firme e a lancei para meus companheiros. Minha foice já estava preparada enquanto vasculhava o teto a procura de uma entrada para a ala das celas.

- O que fazemos agora?

A voz de Fernando tinha um leve tom de preocupação ao chegar perto de mim. Puxei a gazua que trazia no bolso e me coloquei a trabalhar na fechadura da clarabóia da ala das celas. Um sorriso sarcástico se formou em meus lábios quando três semideuses boquiabertos não acreditavam que a fechadura tinha se aberto tão facilmente.

- O que? Cinco meses é o bastante para aprender algumas coisas.

Tomei a foice em mãos e saltei para dentro do edifício, o mais silenciosamente que consegui. Athos emergiu das sombras e se colocou a minha frente, mas algo naquele lugar não estava me cheirando bem. Onde estavam os guardas? Os capangas de Christopher e até mesmo os prisioneiros?

- Fiquem juntos... - a voz de Claudio estava bem próxima, assim como Fernando e Isabela - Tenho a impressão de que...

- Silêncio. - interrompi para que pudesse prestar mais atenção aos sons. Ao longe consegui escutar o som do metal se chocando contra metal e o mais aterrorizante. Gritos... - Nos pegaram em uma armadilha. Temos que correr.

Nossos passos ecoavam pelos corredores vazios e escuros, ao que parecia toda a energia tinha sido cortada. Athos ia logo a frente, nos guiando pela completa escuridão.

- Vocês não acham que isso está... Fácil demais?

Não se passaram nem dois segundos para que os rosnados se tornassem audíveis. Athos se agachou, expondo a fileira de dentes mortais para outros três cães infernais que surgiram a nossa frente.

- Fernando Milligan, da próxima vez mantenha a boca fechada! Corram! - Isabela trovejou ao disparar pelo corredor esquerdo.

Não pude fazer mais do que segui-la. Athos ganharia tempo para nós, mas não tinha certeza de que meu companheiro sairia vivo daquela situação. Não, era tarde demais para pensar nisso agora, e ter cães infernais ao nosso calcanhar não era uma situação nada favorável.

Foi com esse pensamento que escutei o primeiro "crack". O chão a nossos pés pareceu vidro ao se partir e nos jogar em um amplo salão de mármore escuro. A queda havia me deixado um pouco desnorteada, não me dando tempo de reagir ao sentir as muitas mãos agarrando meus ombros e me mantendo imóvel para apreciar aquela cena.

Christopher estava ajoelhado em frente a um espelho negro, balbuciando as palavras de algum encantamento antigo. Diego se mantinha ao seu lado com uma lança em mãos, aquele ar predatório nos olhos obsidiana não o deixavam por um único segundo.

- Ora, ora... Vejam só meus amigos, o que o vento nos trouxe.

Christopher se ergueu lentamente, aquele sorriso maníaco se destacando na pouca luz emitida pelas tochas do lugar. Vestia um sobretudo escarlate, assim como trazia uma espada decorativa em sua cintura.

- Sejam bem vindos. Bem vindos ao fim do mundo que conhecem.

*****

Demorei não foi? Não me culpem, bloqueios criativos são fatais na vida de escritores :v

Enfim, reta final bitches. Só queria informar que vai sim haver uma segunda temporada, provavelmente quando minha linda e maravilhosa coautora finalizar Back To Me (spin off de Diário de Uma Filha de Hades na visão de Isabela Leto, vão lá e leiam! Não vão se arrepender!)

É só isso, nos vemos na próxima atualização carinhas!

Twitter: big_bad_unicorn