Diário de Uma Filha de Hades

Apenas Lágrimas

E eu me permitia perguntar se tinha culpa. Eu os chamei para essa missão. Eu fui a escolhida para ela. Então teria sido eu o motivo de ter destruído meus amigos?

De pé afastada do corpo sem vida de Diego, era possível sentir o clima pesado. O céu estava fechando, como se os deuses estivessem enfurecidos e as primeiras gotas de chuva caíam em cima de nós. Meu cão infernal parou ao meu lado e afagou sua cabeça em minha mão como se tentasse me reconfortar, mas em vão.

Isa não soltou Diego por um segundo, somente apertando seu corpo junto ao dela e chorando baixo. Fer tinha se juntado a ela em luto enquanto James tentava se comunicar com o Acampamento a todo custo debaixo da chuva que começava a ganhar força. Eles não haviam conseguido seguir o rastro de Christopher, parecia que o mesmo havia desaparecido no momento que se afastou. Nunca fui de chorar por nada, nem mesmo quando se tratava de morte, mas dessa vez algumas lágrimas rolavam por meu rosto, sendo disfarçadas pela chuva. James e Fernando haviam buscado abrigo de baixo de uma árvore, enquanto eu permanecia parada, observando uma Isabela totalmente destruída e seu namorado morto em seus braços.

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Já tinha se passado um dia desde que queimamos uma mortalha para simbolizar a morte de Diego, mas não o corpo. Isa insistira para que Quíron a deixasse preparar um tipo de enterro digno. Sabia bem pra onde eles iriam, um lugar mais afastado atravessando o riacho Zéfiro, porém preferi me manter afastada do grupo. Quíron carregava o corpo de Diego para o lugar apontado por James, onde já podia ser visto um buraco próximo a uma árvore, onde seria o lugar do "túmulo". Quíron ajudou a repousar o corpo na cova, fazendo uma breve reverência ao filho de Hades, se afastando para dar espaço a Isa. A loira ainda chorava bastante, enquanto pronunciava algumas frases que contribuíam para seu estado de espírito se tornar ainda mais melancólico. Por fim ela colocou algo dentro da cova, uma pulseira que ela sempre estava usando.

Quíron já havia deixado o lugar. Porém todos nós permanecemos ali, observando a loira sentada próxima ao túmulo de pedras negras. Deviam ter se passado horas, mas Isabela Leto não deixava o lugar por nada. Nunca poderia dizer que sabia pelo que ela estava passando, pois não tinha a mínima noção. Pelo que eu soube Isa já tinha perdido a tia, Diego era tudo o que lhe restava.

Foi quando senti uma espécie de frio subindo por minha espinha. Eu conhecia aquele tipo, eu o sentira quando estava no mundo inferior, mas agora entendi de onde ele vinha.

Ajoelhado ao lado de Isa um fantasma a observava. Mesmo morto ele ainda não parava de cuidar da loira, abraçando seus ombros por mais que ela não pudesse sentir sua presença. Diego voltou seu olhar para mim com desespero.

- "O que está acontecendo?" - seus lábios se moveram, mas nenhum som saiu deles. Ele não sabia que estava morto?

O soluço de uma Isabela desesperada rompeu meus pensamentos. Ela agarrava a terra, que saia por entre seus dedos.

Senti um braço me puxar pela cintura, logo o cheiro de seu perfume me invadiu, era Fernando.

A chuva fria voltou a cair, e todos nós observávamos o túmulo com pesar. Dando nosso último adeus, vi uma lágrima escorrer pelo rosto pálido e sem vida do fantasma de Diego que segurava o rosto de Isabela tentando em vão chamar sua atenção. Fernando me apertou ainda mais, e só então percebi que chorava de novo.

Pela primeira vez, eu chorava verdadeiramente, por alguém.  E esse alguém era meu irmão que agora estava morto. Minhas lágrimas eram de tristeza, mas a raiva que eu sentia estava transbordando. Fechei o punho com força, segurando um soluço que sabia que iria sair de minha garganta, me apegando a apenas um desejo.

Eu mataria Christopher Peters. Eu vingaria meu irmão...