Ganha-se Um Pouco, Perde-se Mais Ainda

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Sabem a sensação de medo que se apodera de você quando está prestes a morrer? Ele ativa todos os seus sentidos, um total surto de adrenalina bastante útil em ocasiões decisivas. Mas cá estou eu, em uma cela escura, úmida e que cheira a urina por sei lá quantos dias. Minha perna latejava, o que me impedia de andar direito para procurar alguma saída ou coisa parecida. Me arrastei até as barras de ferro da cela e prestei atenção nos sons. Sem dúvida eu estava no subterrâneo, mas enxergava algumas pessoas passando pelo corredor escuro. Esmurrei algumas vezes a grade até que um garoto magricela apareceu.

- Da pra você ficar quieta?! - ele trovejou.

Inclinei a cabeça um pouco para o lado sem ceder ou expressar medo - que pra falar a verdade eu estava sentindo naquele momento - e encarei fixamente seus olhos. Ele se encolheu como se tivesse sido apunhalado e recuou alguns passos, sendo surpreendido pelo aperto firme de Christopher.

- Sério? Você quer se achar o esperto com essa ai? - ele empurrou o garoto para o chão. - Saia logo daqui!

Christopher voltou seu olhar para mim, se aproximando da grade com um imenso sorriso no rosto. Se eu não estivesse com medo teria lhe dado um soco só para tirar aquele estúpido sorrisinho presunçoso de seu rosto. Ele agarrou a grade com uma mão e com a outra levantou minha corrente entre os dedos. Tentei pega-la, mas perdi o equilíbrio, voltando ao chão o que só aumentou o sorriso debochado na cara do maldito.

- Ah, não se preocupe. Não posso usar isso. É feita apenas para ser utilizada por sua linhagem. - ele voltou a guarda-la no bolso da calça.

- O que você quer? - tentei manter a voz firme. - Qual o motivo de tudo isso?

- Vingança! Deuses? Eles não prestam, nenhum deles! Antes do Jackson vencer a batalha contra Cronos eu fiquei anos sem ser reclamado! Os deuses não ligam pra nós, só ligam pra si mesmos. Luke Castellan estava certo sobre isso, mas apoiou o time errado. Já eu? Eu esperei a oportunidade certa, esperei os primordiais... - ele abriu os braços. - E agora quero destruição e morte! Para os deuses e semideuses que não estiverem do meu lado!

O tom frio que Christopher usou era completamente amedrontador. Eu estava congelada no lugar olhando fixamente seu sorriso maníaco com a perna ainda latejando e desarmada. Mas se eu tivesse qualquer chance precisava descobrir todo o plano.

- E por que essa merda de perseguição comigo? Tenho certeza que não é por causa de meus belos olhos. - retruquei com sarcasmo.

Ele ponderou e abriu a cela me fazendo recuar o mais rápido que minha perna permitia. Eu sabia que ele tinha alguma arma, ele não era idiota, então pelo menos uma vez na vida eu teria que controlar meus impulsos.

- Grande parte dos deuses primordiais estão aprisionados, mas uma em especial me interessa. A mãe noite é a chave pra tudo, porém ela está no Tártaro... Eu preciso de um filho do submundo, vocês caras pálida tem uma facilidade monstruosa de passagem.

Eu tinha parado de ouvir o que ele dizia a partir de "mãe noite". Caramba, Nyx?! Nyx, a deusa da noite? Fumou flor de lótus?!

- Que diabos te dá a entender que eu vou te ajudar? - perguntei.

- Não quer ficar viva? Eu pouparia seus amigos, você teria tudo que quisesse na vida. É só se juntar a mim.

Antes de eu sequer fazer uma objeção Christopher tinha agarrado meu rosto, colando seus lábios nos meus. Não era nada igual aos beijos de Fernando, os de Christopher eram selvagens e bruscos, como um predador. Mordi seu lábio inferior com força, fazendo com que o mesmo recuasse. O sangue escorria por sua boca em uma linha escarlate e ele me olhava com ódio. Agarrou minha perna ferida e a pressionou, arrancando um grito de dor de mim, antes de segurar meu pescoço com a outra. Numa reação automática, levei ambas as mãos até a sua, tentando retira-la de meu pescoço inutilmente.

Diário de Uma Filha de HadesWhere stories live. Discover now