Me Prove Que é o Melhor

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Eu saio do Acampamento durante alguns meses e na volta, encontro um idiota qualquer tentando tomar o lugar que nunca poderá ser ocupado. Qual o problema desse Claudio? Bufei apertando os punhos enquanto saía do chalé, batendo a porta logo atrás. Thays veio correndo no momento em que me viu, mas apenas a ignorei e apertei mais o meu passo em direção às árvores, largando-a gritando no meio de todos em tom de indignação. Sabia que em algum lugar naquelas árvores uma ninfa esperava pelo meu habitual temperamento explosivo - até porque já cortei alguns galhos quando fiquei com raiva antes. Mas parecia que eu não faria nada, ou estava muito entorpecida pra começar a descontar minha raiva em coisas que não tinham nada haver.

Soquei um dos troncos a minha frente no momento em que finalmente parei e Athos deu um latido como se me repreendesse pela ação. Revirei os olhos antes de subir na árvore, a qual reconheci por ser a que eu estava em minha primeira captura à bandeira. Naquele tempo Diego ainda estava vivo. Afastei a lembrança com pressa, mas era em vão.

Eu me perguntava como Christopher havia sobrevivido àquele raio direcionado para onde ele estava, dias antes na missão contra Érebo. Qualquer um teria morrido, mas o desgraçado conseguiu sobreviver. E ele ter cravado a própria espada de meu irmão em seu peito e o matado com tanta frieza a nossa frente me deixava com mais raiva ainda do filho de Ares. A jura de que iria caçá-lo e acabar com ele nem que levasse toda a minha vida foi o que levou a minha saída repentina, mas agora eu havia voltado e repensava seriamente em minha decisão. Não havia mais lugar para mim naquele acampamento.

- Droga Athos, para de... - observei uma Isabela se aproximando com receio. - Quieto.

A loira havia parado e agora me fitava com curiosidade. Parando para analisá-la agora a filha de Zeus não parecia mais a mesma garota que ficou arrasada com a morte do namorado. A bainha da espada de Diego agora estava amarrada em sua perna esquerda, o último presente que meu irmão tinha lhe dado.

- Não pode descer?

- Hm... Não, to bem aqui. - falei um tanto mais fria do que pretendia.

- Então vai pro lado, vou subir. - ela falou no mesmo tom, já escalando a árvore com uma facilidade da qual não possuía anteriormente.

Revirei os olhos quando ela se ajeitou no galho e me fitou com intensidade.

- O que foi? - perguntei.

- Você. Não mudou nada em questão a ficar aborrecida com coisas bem idiotas. - ela riu.

- Ah, cala a boca.

- Não mesmo, princesa das trevas. Não gosto muito do Claudio, mas não tem mal algum.

- Claro que tem Isa. - resmunguei, batendo o punho com força na árvore. - Você sabe que tem.

- Nath, para... - ela segurou minha mão, que já começava a ficar quente novamente devido aos ferimentos. - Acabou, está tudo bem.

- Não acaba até que eu mate Christopher Peters. - retirei minha mão bruscamente.

Ficamos em silêncio por um tempo, enquanto eu olhava distraidamente para as folhas que caiam no chão por causa da aproximação do outono.

- Você os matou, não foi? - ela quebrou o silêncio.

- Matei.

- Não sente remorso?

- Não. Parei de sentir a muito tempo.

- Nath. Esqueça essa vingança, Diego não ia querer isso.

Ri com o comentário, saltando para o chão com facilidade.

- Você não pode ter certeza disso... - murmurei, caminhando de volta para a área de treinamento.

***

Desde que Diego morreu me tornei a instrutora para dar aulas de combate aos novos campistas. O novato, Joshua, começara a ensinar em meu lugar enquanto estive fora, mas deixou que dessa vez eu assumisse o costumeiro cargo de instrutora. Minha satisfação subiu a mil quando percebi que Claudio estava entre os novatos. Peguei minha corrente e a transformei em uma espada de lamina negra, já que usar a foice com os novatos seria sacanagem. Comecei a ensinar algumas técnicas de esquiva com a ajuda de Athos e Thays, em seguida chamei um por um para treinarem a prática. Depois daquilo a maioria estava ofegante, mas eu tinha deixado o melhor pro final.

– Eu acabei de mostrar pra vocês a prática, mas agora vocês verão uma luta mesmo. - olhei incisivamente para Claudio - Soter, você foi privilegiado...

Claudio se levantou com a espada de bronze em mãos. Ele se adiantou até o centro da arena e se pôs a minha frente. Eu devia estar olhando para ele com um olhar maníaco, pois ele parecia receoso em lutar contra mim. Os outros campistas murmuravam algo sobre "a assassina que procurava vingança" por repararem no resto de minhas armas e nas cicatrizes espalhadas em alguns pontos de meu corpo.

– Sem poderes. - falei - Só suas habilidades com a espada. Vamos dançar irmãozinho, me prove que é melhor que ele...

Claudio entendeu o porquê de eu o ter escolhido na mesma hora. Quando o sinal para que a luta começasse foi dado, Claudio foi o primeiro a atacar. Bloqueei seus ataques com facilidade, mas ele percebeu o que eu estava fazendo. Claudio começou a me pressionar para trás, se eu atingisse a parede não daria mais para revidar. Com muito esforço ele conseguiu atingir um golpe em minha coxa, onde uma fina linha de sangue escorreu pelo jeans. Ele se afastou preparado para meu ataque.

– Okay, vejo que você já é bem experiente com sua espada. Então quer dizer que minha amiga amazona pode pegar pesado com você, não? - sinalizei para que Thays se aproximasse.

A filha de Afrodite sorria com a possibilidade de jogar sujo com o garoto, principalmente ao ver a expressão do mesmo ao ter estalado seu chicote no ar. Quando sinalizei para começarem apenas sorri com a probabilidade de Claudio perder um braço.

Thays esperava que o garoto atacasse, apenas desviando dos golpes com movimentos acrobáticos e tirando filetes de sangue dos braços de Claudio a cada estalada de seu chicote. Era perceptível que a amazona apenas brincava com ele, fazendo com que o filho de Hades esgotasse sua energia aos poucos.

- Cansado, queridinho? - ela o provocou quando o mesmo começou a ofegar.

Claudio partiu pra cima novamente, dessa vez, recebendo um chute circular certeiro em seu rosto, fazendo com que largasse a espada. Thays apenas investia, alternando entre chicotadas e golpes que fariam qualquer um implorar por piedade.

- Chega. - falei quando o filho de Hades finalmente caiu no chão.

Os campistas que observavam a luta estavam pasmos e correram para chamar Quíron. Thays sorria triunfante, enquanto enrolava o chicote novamente e o prendia ao cinto.

- Esse ai só tem a pose. - ela ironizou, soltando um beijo para Claudio que a observava derrotado.

– Te vejo na captura a bandeira, "irmãozinho". - falei - Athos!

O cão infernal me seguiu enquanto eu andava por entre um grupo de campistas estarrecidos em direção aos estábulos, junto com a filha de Afrodite. A frente eu via uma Isabela totalmente horrorizada e me olhando com reprovação, porém apenas a ignorei.

"Você nunca vai conseguir ser melhor que ele..."

Diário de Uma Filha de HadesWhere stories live. Discover now