Capítulo XXXV

30.2K 1.6K 829
                                    

3/4

------------------------------------------------------------------------------------------------------

Camila POV

Aeroporto. Lugar de encontro, de desencontro, de choros, de chegadas e partidas. Espaço para reencontros, onde a distância aumenta ou diminui. A alma vadia pelos cantos e as histórias estão impregnadas no ar. Cada concreto traz uma bagagem perdida, uma história de amor, amizade, companheirismo. Cada história uma peculiaridade, um mundo de mistérios. Um mundo dentro de nosso mundo. O tempo não acaba. O tempo não chega. Em cada corredor o relógio move-se de forma desregular, seguindo apenas a história que cada um possui. Cada piso carrega fragmentos de vidas e ao mesmo tempo recorda cada lágrima absorvida. A partida é suave. A chegada é turbulenta. As bagagens invisíveis são mais pesadas, pois carregam momentos e identidades. Os medos são revelados, a saudade finda, a angústia aumenta. Entre rostos quebra-cabeças são montados, peças são encaixadas. Vultos, anjos e demônios. São bagagens, nomes, vidas, sonhos e aspirações. São tantas histórias reunidas.

Aeroporto. Passagens, choros, sorrisos, filas, abraços, embarques, desapego, documentos nas mãos, passageiros, letras e números, alegria, tristeza, saudade, normas, despacho de bagagens, lembranças, cada um carrega uma bagagem em sim. Com suas lendas e mitos aeroportos ainda me trazem medo, a angústia da perca, as lembranças do abandono, a solidão da partida, as lágrimas derramadas, os momentos sufocantes, minhas escolhas, a turva lembrança de cada passo dado e ao mesmo tempo à distância nos separando, funguei e tentei afastar as lembranças corrosivas de minha mente.

Ao longe em meio à multidão de vultos e rostos desconhecidos, reconheci quem eu esperava. Sorri ao ver que mesmo com o tempo ainda continuavam tão elas, imutáveis em sua essência. Vero carregava Anne em seu colo, que parecia dormir vencida pelo cansaço. Suas mãos entrelaçadas com a de Lucy, que carregava a inseparável boneca de pano de um único olho de sua filha, ela buscava um rosto familiar no meio àquele caos de histórias e vidas. Ela sorriu ao visualizar meu rosto, percebi Vero resmungar baixinho antes de seguirem a minha direção.

- Meu Deus! – Vero exclamou. – Sexo lésbico tem te feito bem. – riu maliciosamente. – Olha esses olhinhos brilhando e essa bochecha corada. – riu da minha cara, Lucy estapeou meu braço. Vero gemeu. – Por que eu apanho? – resmungou. – Essa vaca passa um ano sem contar sobre a volta da que não foi e na cara de pau liga, atrapalha nossa viagem à Paris e eu apanho por dizer a verdade. – virou o rosto, fingindo-se de ofendida. Lucy negou com a cabeça e sorriu ao me encarar novamente, me puxando para um abraço apertado logo em seguida.

- Ignora... – sussurrou. – O tempo passa, mas ela continua a mesma garota irritante e provocadora por quem me apaixonei. – beijou meu rosto. – Não acredito que ela voltou. – Lucy segurou meu rosto, seus dedos acariciando minha face. – Eu ainda não acredito que meu casal favorito está de volta à ativa, isso soa como uma série e estamos na segunda temporada ou algo do tipo... – pôs-se a tagarelar, sua voz trazendo certa nostalgia.

- Série? – questionei divertida. – Isso tudo é como uma verdadeira novela mexicana. – confessei. Vero puxou Lucy para longe de mim e logo me abraçou, um abraço sem jeito porque Anne ainda estava em seus braços. A pequena parecia absorta ao mundo ao seu redor. O cansaço da viagem lhe conferindo um bom sono.

- Estou pensando seriamente em parar de dar comida a essa menina. – puxou o corpo dela para cima, que escorregava. – E você – olhou para mim desafiadoramente. – quero toda a verdade, cada vírgula sombria que você ocultou na sua ligação reveladora. – beijou meu rosto.

- Veronica. – Lucy repreendeu. – Deixe de ser invasiva. – Vero deu de ombros ignorando a repreensão da mulher.

- Estou louca para ver aquela vadia novamente. – sorriu. Um sorriso diabólico e infantil, que apenas Veronica Iglesias conseguia reproduzir. – Algo me diz que vai ser um encontro muito interessante. Onde ela se encontra? – Lucy puxou o carrinho com as bagagens.

SecretsDonde viven las historias. Descúbrelo ahora