31.Conhecendo o inimigo

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Respirei fundo, tentando voltar, mas algo muito forte começou a me puxar para a inconsciência. Ele estava me sublimando, assumindo o controle. 

Eu lutei, mas ele era muito forte.

Ele urrou me empurrando para longe. Para longe de tudo. Para longe de Bonnie.

E tudo escureceu.

***

Arfei. 

O ar começou a entrar em meus pulmões. Foi estranho respirar outra vez, eu não precisava daquilo há muito tempo. Era uma sensação boa.

Senti o coração dele. Não. O meu coração. Esse corpo me pertence agora.

E senti mais um palpitar em meu peito, do lado direito. Era mais um coração. Era estranho estar em um humano com dois corações.

Experimentei, me sentar, em seguida tentei me levantar, mas como havia desaprendido a usar aqueles simples movimentos outra vez, caí sentado de novo. Fiquei frustrado.

Mais uma emoção humana. 

Esse corpo era diferente. Esse humano. Ele era mais explosivo e facilmente irritável. O último humano em que estive não era tão dado à violência como aquele. Então, tudo, de certa forma, era um pouco irritante.

— Kai? — ouvi uma voz chamando.

Era uma voz suave e doce, quase angelical. Senti meu coração se acelerar com aquilo. Por que ele acelerou só de ouvir aquela voz?  Empurrei essa questão para o fundo da minha mente. Não precisava daquilo para me atormentar mais. Apenas precisava me estabelecer neste mundo.

Abri os olhos, sentindo a fraca luz os incomodando. E vi uma coisinha pequena olhando para mim. Não. Não era uma coisa. Era uma humana.

Ela tinha uma tez morena com cabelos negros e sedosos que iam até o queixo. Seus olhos verdes, pousavam em mim com medo e apreensão... por mim? Ela estava preocupada comigo? 

Não, não podia ser.

Ela estava preocupada com ele. Kai.  Esse era o corpo dele. Ela sentia afeição por ele.

Eu sorri, gostando do movimento.

— Kai não está mais aqui — disse eu, cruelmente.

O som da minha voz era diferente. Jovem, divertida e ameaçadora. Uma mistura um pouco curiosa. Vi a humana, que eu conhecia por Bonnie, me encarando horrorizada. 

Os olhos..., lembrei.

Era a única coisa que eu não conseguia esconder. Eu sabia que eles eram de uma cor assustadora e desconcertante para os humanos, mas nunca precisei me preocupar com aquilo. Tentei me levantar de novo e dessa vez consegui. Uau! Ele era alto, mas eu me acostumaria.

Parei, olhando tudo em volta de mim, maravilhado como uma criança. Vi o céu noturno cheio de estrelas e a lua cheia, brilhante e clara.  Baixei os olhos, vendo a caverna escura em volta de mim. As sombras eram muito convidativas, pois vivi um bom tempo nelas.

Vi a pequena reunião de humanos que me cercava. Um homem encolhido contra uma parede rochosa, a pequena Bonnie e Sanvine. 

Havia outras duas garotas que eu conhecia só pelo gosto de seu sangue doce. Sofia e Liliana Cross. A mais velha já estava morta, enquanto a outra definhava.

Senti os olhos curiosos dela sobre mim.

— Pode falar Sanvine, eu sei que quer dizer algo — murmurei, com a voz arrastada de tédio por ter sido retirado de minha contemplação.

Convergência Sombria | Bonkai | EM REVISÃOWhere stories live. Discover now