2. O Ritual de União das Almas

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Kai observava—me com aqueles olhos azuis—cinzentos da cabeça aos pés como se nunca tivesse me visto antes. Parecia embasbacado. Bem, mais bobo que o normal. Seus olhos percorreram desde meu rosto até os pés de forma lenta. O que me deixou muito desconfortável e brava. Seu olhar parou em minhas pernas, e ele inclinou a cabeça como um cachorrinho que tenta compreender algo confuso demais. O vi sorrir  daquele jeito que eu detestava — um misto de soberba e egocentrismo irritantes — e começou a caminhar de forma muito confiante em minha direção.

Paralisei no lugar sem mover um músculo sequer.

Eu não o via desde a noite da rave organizada por Caroline, onde tentou se desculpar comigo de uma maneira muito pouco convincente. Ele parecia diferente. Não consegui detectar o que era, mas parecia algo muito óbvio.

Ele subiu os degraus da escada e caminhou em minha direção. Sem que eu pudesse me conter, dei três passos para trás, me afastando o máximo possível. Ele parou no último degrau, olhando para mim com um quê de frustração no em seu semblante.

Antes que eu pudesse perceber, Damon já estava ao meu lado. Mesmo que estivesse aparentando calma, eu sabia que meu amigo era uma arma mortal quando decidia usar sua força vampiresca. E naquele momento, Kai poderia se tornar um saco de pancadas em potencial.

— Olá, verme —  disse o vampiro com uma ironia palpável em sua voz.

— Oi, Damon — murmurou Kai sem tirar os olhos cinzentos de mim, a frustração ainda presa neles.

Ele sorriu, tentando parecer amigável. Conhecia o suficiente dele para saber o quanto aquele sorriso podia ferir.

— Você está linda, Bonnie. Maravilhosa.

Ouvi Caroline arfar ao meu lado, preocupada.

Kai nunca deixou de demonstrar o quão interessado estava em mim desde o primeiro dia em que nos vimos. Embora eu tenha dado mole para ele no início, tudo isso morreu quando descobri que ele havia matado seus irmãos para tomar o controle de sua Convenção esquisita de bruxos. E, talvez, eu tenha percebido aquele vazio assustador em seus olhos. Algo apavorante.

Peraí... O quê?

Apavorada? Eu? Bonnie Bennett? A garota que conseguiu voltar da morte? Que sobreviveu a um psicopata no Mundo Prisão?

Mesmo que eu estivesse assustada, não deixaria que aquele monstro visse isso em mim. Lembrei do que minha avó me disse antes de morrer. Que eu devia ser forte. E eu seria, por ela.

O encarei, fria.

— Olha aqui, Parker — disse eu, o fitando de forma desafiadora — Nós fizemos um acordo. Sua Convenção deixa meus amigos em paz e eu me caso com você. Mas isso não significa que tenhamos que ser amiguinhos, ok? Não toque em mim e nem fale comigo.

Sua expressão parecia levemente magoada. Embora eu soubesse que ele não era capaz de sentir nada além de necessidade de matar.

— Você nunca vai me perdoar, Bonnie? — sua voz era suplicante.

É claro que Damon havia me contado sobre a Fusão — uma tradição bizarra de fundir um par de gêmeos, deixando apenas um sobrevivente para reinar sobre a Convenção Gemini — que ele havia feito com seu irmão, Luke, mas mesmo assim era muito estranho ver Kai demonstrando esse tipo de emoção. Mesmo que fosse algo falso, parecia tão...

Me dei um tapa mental.

Claro que Kai não havia mudado, ele ainda era o mesmo sociopata frio e cruel. Ele nunca iria mudar.

Antes que eu pudesse responder sua pergunta, Theodora apareceu ao seu lado como que surgida do ar.

— Já está na hora — murmurou ela olhando de forma significativa para Kai.

Convergência Sombria | Bonkai | EM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora