Capítulo 27

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Quando vi Paloma um frio percorreu meu corpo. Estremeci de maneira que não conseguia me mover, olhei para Alice que parecia tão surpresa quanto eu. Não posso deixar tudo acabar, preciso agir.

- Chame a polícia, Paloma! Faça como achar melhor, mas você sabe mais que todo mundo que eu não violentei Adriana - falei finalmente.

Alice a puxou para dentro e fechou a porta, trancando-a em seguida.

- O que vocês vão fazer? Me matar? - a governanta retrucou.

- Você está enganada quanto ao nosso objetivo. Só queremos fazer justiça. Adriana pegou meu amigo e ela o matará se não conseguirmos provas concretas contra ela - falou Ali.

- Minha filha nunca machucaria alguém.

- Por que você tenta se enganar? - questionei irritado.

- Ela não machucaria alguém!

- Ela matou um homem inocente, dono de uma loja de conveniência. Estamos sendo acusados de crimes que nunca cometemos. Você sabe que ela não te ama como filha, Adriana te trata como lixo.

- Você não sabe o que ela passou, então pare de julga-la! - gritou a senhora.

- Ela vai matar meu amigo! - Alice avançou em Paloma.

- Calma! - segurei a advogada e ela se afastou da senhora.

Puxei a governanta em direção à uma cadeira, ela sentou um pouco desconfiada e eu agachei para ficar na sua altura e o mais próximo possível.

- Dou minha palavra que não vamos machuca-la, mas não é justo uma mulher rica que tem o que quer prejudicar pessoas que nunca fizeram nada à ela.

- Ela te amava.

- Quem ama não faz o que ela fez - simplesmente respondi e ganhei um olhar confuso de Alice.

- Minha pequena não é uma pessoa má, ela só precisa ficar um tempo afastada de todos para voltar a ser o que era.

- Paloma, seu carinho por ela e pela família Pacheco é admirável. Eles tiraram tudo de você, sua dignidade, sua opinião, sua filha legítima, e você ainda sim os idolatra.

Lágrimas começaram a descer pelo rosto da governanta.

- Diga onde fica esta boate, conte- nos tudo- falei acariciando sua mão - traremos sua filha de volta.

- Tudo bem, vou ajudar vocês, mas tenho duas exigências. Primeiro, deixem minha filha em segurança e assim que estiverem com ela me liguem. Segundo, não machuquem Adriana, eu a criei e dei os valores que consegui dar, mas infelizmente seu pai é o homem mais desprezível que conheço, conseguiu transformar uma menina doce e ingênua em... bem, no que vocês conheceram dela.

- Tudo bem - respondemos em uníssono.

- Os Pacheco possuem empresas e trabalham com investimentos como está estampado na capa das revistas, no entanto, não foi desse jeito que conseguiram ficar milionários. O senhor Pacheco e seu irmão trabalham com tráfico de mulheres para escravidão sexual, trazem geralmente de países vizinhos com a proposta de um futuro e quando chegam aqui recebem roupas, tratamento dentário, dias em salões de beleza e SPA. Depois de algumas semanas a equipe Pacheco leva as meninas até o local de trabalho onde ficam confinadas, trabalham de manhã na limpeza e à noite dançam e fazem sexo. As boates são cercadas de seguranças e caso alguém se revolte a família desta pessoa é ameaçada e se houver insistência eles matam.

- Você tem como provar isso. Eu sei que deves estar com medo, você corre risco, mas ... - Alice falou, mas Paloma a cortou.

- Não moça, já chega. Eles pegaram minha filha porque eu me recusei a ajudar na seleção das meninas. Eu cansei de dar o meu melhor por eles e eles destruírem vidas. Não deixarei isso continuar - ela levantou e ligou o computador que estava em cima da mesa de vidro, demorando algum tempo para terminar a senha - Bom, sou a única além do pai dela que sabe a senha deste computador. É por aqui que ela seleciona as meninas.

A senhora abriu uma pasta com foto de várias mulheres aparentemente jovens e em seguida abriu arquivos que parecia conversas de negociação da "mercadoria".

- Preciso que a senhora passe tudo isso para este pen drive - Ali entregou o objeto que acabara de retirar do bolso.

- Minha filha pode depor para ajudar vocês, não deixem de salva-la, por favor.

- Você tem nossa palavra - respondi.

- Vamos até a boate bater fotos e resgataremos a moça, qual o nome dela?

- Ana Luiza. Ela é morena e tem cabelos lisos.

- Tudo bem, se a senhora tiver alguma foto dela, nos vamos querer - pediu Ali.

Terminamos de passar mais algumas provas para o pen drive e Paloma nos ofereceu dormitório, e apesar de ficarmos receiosos quanto à câmeras e segurança, a senhora afirmou que tudo passa nas mãos dela, e ela possui total autoridade quando os donos da casa não estão.

- Não confio totalmente nela - declarei ao sentar na cama do quarto de hóspedes.

- Confiança é cultivada pelo tempo, no entanto, situações como está não há alternativas. A filha dela está em jogo, é perceptível a dor que ela sente em função da situação da filha - disse Ali tirando os sapatos.

- Não sei como ela ainda consegue trabalhar aqui.

- Não é opcional, ela sabe demais e caso decida sair, provavelmente ameaçam - a com a situação da filha.

Desci para pegar algumas roupas no carro e a vi conversando com os seguranças na portaria. Eles pareciam desconfiados, mas concordavam com a cabeça.

Tomamos banho, e descemos para jantar, Paloma pediu para prepararem algo para comermos.

Em uma hora chegou tudo do melhor, sem contar com o vinho maravilhoso.

- Vocês namoram? - Paloma perguntou.

- Não, viramos amigos devido à necessidade - respondeu Alice sorrindo fraco. Amigos? Que broxante.

- São muito bonitos juntos - Paloma falou sorrindo.

Após o jantar subimos e em poucos minutos o cansaço invadiu nossos corpos.

Acordei com Alice me chamando, já estava vestida.

- Mais cinco minutos!

- Mais coisa nenhuma. Arrume-se logo que temos que chegar até a tal boate até às 16 horas para dar tempo de analisar todo o local antes da abertura.

Levantei, tentei beija-la, mas ela me empurrou para o banheiro e em alguns minutos já estávamos dentro do carro, em direção à Lights Right.

Defesa Quase PerfeitaWhere stories live. Discover now