Defesa Quase Perfeita

Capítulo 24

Minhas pernas tremiam, porém tinha que manter a postura... que postura? Estou toda descabelada, coberta apenas por uma blusa de Matheus...

- Continua! Taylor o que? O que aconteceu com ele?

- Fica calma, Ali. Você está vermelha - disse Lia.

- Lucas ligou às 5 da manhã para a segurança, e disse que Taylor sumiu.

- SUMIU? COMO SUMIU? QUANDO SUMIU? POR QUE?

Eu estava gritando e os dois à minha frente abaixaram a cabeça em sinal a falta de respostas.

- Fica calma, você não resolverá absolutamente nada desta maneira - disse Matheus levantando da cama apenas de cueca box.

Lia cobriu os olhos com a mão, enquanto Iago olhava para o irmão com desaprovação.

- O que foi? Vocês estão no meu quarto!

Deixei a discussão deles para trás e sai correndo em direção a segurança. Preciso de respostas agora! Odeio ser a última a saber das coisas!

- Doutora? - falou um segurança sentado ao lado de Carla, sua chefe.

- O que houve? Quero detalhes da ligação.

- Bom, o doutor Lucas ligou exatamente às 4:57 - disse outro segurança, mostrando-me o ipad com o registro e duração da chamada - Ele perguntou se havia chegado alguém aqui, respondi que não. Não se preocupe, só respondi quando o rastreie e tive a certeza que se tratava realmente do seu amigo. Então finalmente ele contou que Taylor sumiu faz seis dias e a polícia já procurou em todos os lugares possíveis, não há hipótese de fuga para fora do Brasil, pois todos os possíveis embarques já foram averiguados. Polícia federal está atrás dele em todas as saídas, sendo assim, o doutor tem quase certeza que Adriana Pacheco está com Taylor.

Dei dois passos para trás com as mãos na cabeça, senti alguém encostar em meu ombro. Era Matheus, agora vestido.

- Só isso? - perguntei tentando manter a calma.

- Bom - Carla deu uma pausa - Acho que a senhora sabe melhor que eu, a Adriana está com ele para extrair o que conseguir sobre vocês - ela olhou para mim e em seguida para Matheus - E quando tiver o que quer, montará algum esquema para pegá-los. Sinto muito doutora, mas dificilmente Taylor sairá vivo, ele sabe demais. A não ser que..

- Que eu o encontre antes da doida me encontrar, digo, nos encontrar - falei a interrompendo e olhei para Matheus, que parecia confuso - Obrigada equipe!

Sai correndo em silêncio, mas minha mente estava tão barulhenta. Entrei na casa e soquei a parede da sala com muita força, fazendo meus dedos latejarem.

- QUE FILHA DA PUTA!!!! - gritei o mais alto que consegui. Preciso descontar minha raiva e preocupação. Preciso pensar. Preciso agir.

Subi as escadas à passos pesados, entrei no quarto e segui para o banheiro, na tentativa de esfriar a cabeça. Mas meu sangue fervia, não sossegarei enquanto essa mulher não tiver o que merece. Se ela ousar machucar Taylor, eu ...

Retornei ao quarto, escolhi uma calça jeans e uma blusa azul clara de botão, calcei uma sapatilha, prendi o cabelo e comecei a colocar ( jogar) minhas roupas na mala. Não demorei cinco minutos para ir ao andar de baixo, no escritório, e recolher tudo que havia conseguido.

- O que você está fazendo? Não que eu não saiba, mas quero ouvir de você. Quero ouvir que vais colocar tua vida em risco, e pegar a estrada sem rumo - falou Matheus, encostado na porta.

- Vou colocar minha vida em risco e pegar a estrada rumo ao Taylor.

- Não vou deixar que faça isso. Não desse jeito, vamos pensar, criar uma estratégia.

- Pelo amor de deus! Isso aqui não é programa televisivo. Que estratégia? Você não sabe o que é sentir que vai perder alguém para sempre na mão de uma total psicopata.

- Eu realmente não sei, mas caso você saia por aquele portão, eu saberei e sinto que não vou gostar.

- Desculpa, mas eu vou.

- Eu sabia! Você é muito teimosa! Vou com você.

- Claro que não vai! É perigoso!

Ele falou mais algumas coisas, porém eu o ignorei. Preciso de concentração, não de discussão.

Organizei todas as minhas anotações e o material que Lucas trouxe e fui para a segurança. Eles me deram um carro blindado, no qual havia armas e o dinheiro que depositei por precaução na conta de Carla. Admito, foram muito bem treinados!

- Muito obrigada! - falei e eles sorriram.

- Ali, espera! Leve isso! - disse Lia, correndo ao lado de Iago em minha direção.

Entregou-me uma sacola com algumas frutas, sanduíches e refrigerantes. Agora lembrei que nao tomei café. Sorri para eles.

- Matheus disse que você ia embora. O que faremos? - perguntou Iago.

- Continuem aqui por enquanto. Não saiam por nada, ok?

- Alice - sussurrou Lia com lágrimas nos olhos, então dei um abraço nos dois.

- Cuidem do Matheus - falei e entrei no carro.

- Não será preciso - disse o abusado abrindo a porta traseira para colocar suas coisas e depois sentou ao meu lado.

- Eu já disse que é muito perigoso e você não vai.

- Mais perigoso que dormir na mesma cama que você? Sou adulto e decido minha vida. Agora vamos, porque Adriana sempre foi impaciente e se seu amigo for teimoso igual a você, mais rápido ele morrerá se não o acharmos logo.

- Sua sinceridade é louvável- falei dando-me por convencida.

Ele se despediu do irmão e da cunhada e seguimos estrada, comendo os lanches em silêncio.

- Você disse que se caso eu viesse, você descobriria a angústia da possível perda de alguém, no entanto, quando os capangas estavam com seu irmão a sensação deve ter sido essa.

- Não exatamente. Claro que eu temia por ele, mas no fundo sabia que você faria algo para salva-lo. E se você fosse embora sem mim, eu estaria sem chão, sem uma heroína - Matheus respondeu rindo da palavra "heroína".

- Sinto muito se fui grossa, só não queria te colocar em perigo. Eu preciso achar o Tay. Ele está nessa por minha culpa.

- Por nossa culpa, Ali. Eu estou contigo para tudo. Para transar principalmente.

Gargalhamos. Eu sei que essa foi a melhor forma que meu cliente achou de dizer que eu posso contar com ele.

Acho incrível o dom que ele tem de arrancar sorrisos quando mais quero gritar e bater. Matheus consegue tirar o peso e as responsabilidades da minha costa. Isso é incrível.