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Eu estou de olhos fechados, deitado de barriga para cima.

Como num tique, minhas pálpebras abrem e começam a piscar.

Como num TOC, elas fazem isso repetidamente, até eu levar uma mão aos olhos em punho e os coçar.

Eu encaro o teto, a vista ainda embaçada, o cenho franzido por causa da claridade do dia. Ele então entra em foco.

Ele é claro, de gesso. É o teto da minha sala. Tem um espelho no teto da minha sala, acima de mim.

Tem um espelho no teto da minha sala. Nunca teve um espelho no teto da minha sala.

Um garoto pálido de cabelos mais desprovidos de cor que as próprias bochechas reflete nele. Esse garoto pisca na mesma velocidade que eu. Sua boca abre ao mesmo movimento que a minha.

Esse garoto sou eu.

"Está na hora de acordar, Cliff." Sua voz. Sua voz. Sua real voz. Ela vem da cozinha. "Está na hora de lembrar, Cliff."

Remexo-me no sofá pouco estofado. Apoio uma das mãos no encosto e forço meu corpo para cima, não conseguindo segurar firme e voltando para a mesma posição. Inclino a cabeça para frente, vendo ele.

Ele.

Luke.

Um avental branco ao redor do corpo magro, cobrindo a camiseta neutra e a calça escura. Cotovelos apoiados no balcão, uma tábua de cortar no meio deles.

"O que você está fazendo?" Pergunto.

"Estou fatiando isso que você chama de cenoura." Luke responde com um sorriso, levantando o legume em uma mão e uma faca que brilha contra os raios de sol na outra. A minha faca.

O jeito como ele fala, parecendo citar algo, me incomoda. Eu já ouvi isso antes.

"O que?" Questiono confuso, espremendo os olhos antes de os abrir novamente.

"Estou fatiando isso que você chama de pepino." No lugar da cenoura agora está o fruto.

"Luke, o que?" Repito.

"Estou fatiando isso que você chama de banana." E, numa piscada minha, o pepino vira a fruta.

Balanço a cabeça, tentando entender. Seu sorriso alarga e ele novamente fala:

"Estou fatiando você."

E novamente a sensação de já ter escutado antes. De ter sentido essas palavras. De tê-las eu mesmo dito.

Eu mesmo dito.

Eu mesmo dito.

Dito.

Feito.

"Luke, do que diabos você está falando?"

Meu pescoço começa a doer.

"Eu estou falando, Cliff," a faca agora está apontada para o seu próprio peito e eu engulo em seco conforme Luke a gira para angular à entrada das suas costelas "que está na hora de acordar."

Com as duas mãos, ele força a faça para dentro de si, o sangue começando a despontar. E eu não saio do sofá.

"Está na hora de lembrar, Cliff." Diz, antes de a enfiar completamente.

Ele continua lá, parado, os olhos bem abertos, a roupa encharcada de sangue e um sorriso no rosto.

Minha cabeça pende para trás. Eu encaro o espelho.

Olhos verdes. Olhos fundos. Olhos vidrados.

Vidro.

Espelhos.

Eu não me movo para ajudá-lo.

Não me movo porque não me arrependo.

O espelho racha e os cacos caem em pedaços grandes.

Um me acerta bem aqui.

Aqui.

Dentro do meu peito.

E ouço a canção da lamúria escapar dos meus próprios lábios enquanto fecho os olhos.

Cliff.

Cliff.

Cliff.

Cliff.

Eu.

† † †

oi

eu peço piedade, pfvr.

PELAMOR DO C-DIZZLE, ISSO NAO É O FINAL. NOSSA, NAO, JAMAIS.

Se alguém entender o que significa isso numa cena futura, olha... 10/10

pq será que o capítulo não tem contagem de tempo né oops

pandemonium • muke [c]Where stories live. Discover now