4 (horas)

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Acho que eu perdi a consciência em algum momento. Não com as pálpebras cobrindo a visão, desmaiado, como as pessoas normais fazem. Não com os olhos perdidos na escuridão da proteção da sua mente. Ha-ha. Proteção da mente. Isso é tão irônico quanto o fato de eu estar pensando em batatas sorrindo neste exato momento.

Dou um soco na parede.

As juntas poderiam ter se estraçalhado contra o vidro. O vidro poderia ter se estraçalhado contra as minhas juntas.

Se eu tivesse força. Se eu já não soubesse o que aconteceria. Ou melhor, o que não aconteceria.

Eu já havia tentado isso. Quando? Não faço a mínima ideia. Por quanto tempo? Creio que não lembre. Por qual motivo? Busca de respostas. Busca da liberdade.

Mas o que me prende não é de vidro.

O que me prende está aqui.

Aqui.

Dentro da minha mente.

Mas essas paredes da inconsciência não me deixam espiar, vasculhar. Lembrar.

Lembrar o porque de estar aqui, enclausurado nessa caixa. A claridade me incomoda. O frio me incomoda. O calor me incomoda. O falso silêncio me incomoda.

Falso porque existem gritos num lugar onde ninguém pode chegar. Gritos e desespero e pedaços desconexos de uma história de morte.

Da morte dele. Dele. Eu não consigo lembrar seu nome.

Eu não consigo lembrar.

Eu não posso lembrar.

Eu não posso lembrar.

Eu não posso lembrar.

Eu matei minha última chance de lembrar.

pandemonium • muke [c]Where stories live. Discover now