Dia X

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Larruane Maxwild

- Com o que é que posso contar, agente Ayrton? - pergunto. As eleições brasileiras vão ser dentro de horas e eu tenho um grande discurso a fazer, embora o meu lugar já esteja mais que garantido. Em quem vai o povo brasileiro votar e apoiar? Na Vereadora que salvou dezenas de milhões de vidas ou nos outros partidos que, para além de destruídos, lidaram desastrosamente com a pandemia?

- Segundo os nossos cálculos, terá o apoio de sete em dez brasileiros. Alguns não consideram corretas as condições dadas aos refugiados estrangeiros ou sequer a uma votação dadas a circunstâncias! - diz-me preocupado.

- Descanse, Agente. Centremo-nos no discurso! - abro a porta da sala e caminho até à varanda onde irei discursar. No entanto, à medida que avanço, começo a ouvir gritos. Apresso o passo e, quando chego, fico sem fôlego.

Centenas de pessoas estão a correr e a gritar dum lado para o outro! Observo, com atenção, uma pequena criança com o seu ursinho no braço. Está num cantinho entre duas lojas. Ela, com medo, ajoelha-se e esconde a cabeça, numa tentativa de passar desapercebida.

Ao ver isto, o meu instinto maternal ativa-se e eu olho para o lado. Dezenas de Vs estão a atacar civis! Não normalmente. Eu já sabia que tínhamos alguns em São Paulo, mas sozinhos, com o controlo da Jane e a nossa segurança reforçada estávamos a exterminá-los. Agora, estão a atacar com um objetivo: CONTAGIAR!

Derrubam, mordem e passam para o próximo. Antes mesmo da Jane, atacavam apenas um de cada vez e costumava ser letal para a vítima com uma mordida no pescoço, barriga ou pior! O que eu estou a ver são apenas braços e pernas sangrentas. Algo mudou! Penso durante uns segundos e, convicta, grito aos seguranças:

- Acompanhem-me! Vamos dar uma lição àquelas pestes! - pego numa arma policial e começo a descer as escadas. Espero ter sido convincente, dei tal ordem e estou apavorada! Felizmente, já disparei uma arma várias vezes com o meu pai. Como policial dizia sempre que é melhor prevenir do que remediar... E de que me serve isso agora? Mesmo que saiba disparar uma arma como vou fazer mira aos Vs? Não paro de tremer!

- Vereadora, não precisa de ir! Nós tratamos disto! - afirma o Agente Ayrton. Que nem pense nisso! Comecei esta guerra pela sobrevivência e vou até ao fim!

- Disparate, agente Ayrton! Vocês são pouco mais duma dúzia, quanto mais reforços tiverem melhor! - Abro as portas do edifício onde me encontro e preparo a arma.

O Diário da Pandemia - DegustaçãoWhere stories live. Discover now