Dia 13

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Noticiário da manhã de Atlanta

     - Bom dia, Atlanta! Daqui fala Laura Clark. Acabo de receber uma notícia de última hora! O hospital de Morrow está em quarentena, devido a uma doença ainda não identificada. O CDC afirma que não há razão para alarme, mas aconselha a evitarem o local.


Dr. Foster

  De mau humor, entro no laboratório e, equipado, cumprimento a Jane:

     - Bom dia, Jane. Obteve algum progresso?

     - Bom dia. Talvez... consegui certificar-me de que não é uma doença identificada. Enviei o relatório completo à OMS que nos relatou outras áreas com uma doença também desconhecida e sintomas semelhantes.

     - Sabe dizer-me o nome dessas áreas? – pergunto, com receio da resposta.

     - Sim. Fiquei chocada quando soube! Houve relatos de casos no Brasil, Marrocos, Nigéria, México e, claro, nos Estados Unidos. As mortes confirmadas ultrapassam as centenas, mais de metade deles provenientes do Brasil que está a ser gravemente afetado socialmente e financeiramente pela doença.

     - Estou a ver. Acho que... - repentinamente, o telefone toca e interrompe-me.

     - Jane, continue o seu trabalho. Eu atendo.

     - Está? Daqui fala o Dr. Foster. – digo.

     - Bom dia, Dr. Foster. O Dr. Patrick convocou a sua presença o mais depressa possível e a da Dra. Jane, se assim o desejar.

     - Muito bem. Já estamos a caminho! Obrigado.

  Ao entrar na sala de reuniões do CDC, minutos depois:

     - Bom dia, Dr. Foster e Dra. Jane. Obrigado pela vossa presença. Convoquei esta reunião para debater o assunto da doença que avassala Morrow e Atlanta.

     - Pensei que a doença já estivesse a ser contida!

     - Também pensámos que sim, Dra. Jane. Infelizmente, a epidemia chegou aos hospitais de Atlanta. Houve uns distúrbios num bairro em que encontraram corpos de infetados num canto duma ruela. Provocou um grande alarido! Por isso, vos convoquei. Sei que o Dr. Foster tem alguns conselhos para a sua contenção.

     - Sim. Tenho alguns. Informo à partida que podem provocar mais alguns distúrbios!

     - Como por exemplo? - pergunta um dos presentes.

     - Bem, eu iniciava com um recolher obrigatório, a partir das dezanove até às sete da manhã. Criava lugares próprios para receber os infetados e isolava Atlanta por 3 dias. Nesse período de tempo, verificava cada residência à procura de infetados e encerrava as escolas, infantários e espaços públicos.

     - Acha mesmo necessário? Onde iremos desenvolver as instalações necessárias? O que farão com os filhos, os pais que trabalham? Já pensou nas consequências financeiras que isso irá provocar?

     - Senadora Juliet, posso garantir-lhe que sem estas metas atingidas no prazo máximo de três dias, será tarde demais. Para as instalações, podemos alugar estádios e pavilhões, contratar médicos e enfermeiras e equipá-los devidamente.

     - E isso sairá de que bolso? – riposta a Senadora.

     - Esta doença infeta, pelos nossos cálculos, quatro pessoas por cada doente. Cada um deles passa um dia assintomático e, no entanto, altamente contagioso pelo ar e pelo toque. No dia seguinte, aparecem os sintomas e, no terceiro dia, a maioria dos pacientes morre. Não me ocorre nenhuma doença que necessite de maior atenção! Se países como a Libéria e a Guiné fecham cidades por 10 casos de ébola, Atlanta não deve fazer o mesmo com mais de 100 casos confirmados desta doença?


Kate Price

  Estou a atravessar o corredor principal do Espaço Médico, um pequeno e humilde hospital em Madagáscar, na cidade de Antananarivo, quando reparo em alguém a correr na minha direção. É Erica Wolf, a assistente do meu colega Jake Pan.

     - Dra. Kate! Espere! O Dr. Jake pediu a sua presença. Trata-se de um paciente novo! – relata, ofegante.

     - Eu tenho os meus agora. É mesmo necessário? – falo, não querendo atrasar as consultas.

     - Sim! O paciente está a entrar em coma e possui sintomas preocupantes. – responde, nervosa.

     - Irei dar uma vista de olhos. – cedo, acrescentando – O Dr. Bernard está mais habituado e com mais experiência em casos de coma.

     - O problema é esse! O paciente é o Dr. Bernard!

  Preocupada, sigo Erica, depressa. O som dos meus sapatos de tacão ecoa freneticamente pelo caminho.

     - Bom dia, Kate. Ponha as luvas e a máscara antes de entrar, por favor. - Aconselha-me o Jake, quando me aproximo - Desculpe o incómodo. Não sei o que terá o Bernard. Não encontrei nenhuma doença comum em Madagáscar com estes sintomas. Talvez Peste Negra, houve algumas centenas de casos este ano.

     - Quais são os sintomas? – pergunto, perplexa.

     - Tosse com sangue, febres altas, hemorragias e, devido à perda de sangue, coma. Não consigo impedir que se esvaia em sangue. Pensei em ébola, mas ele veio de Inglaterra e lá não existe a hipótese de contágio.

     - Pelo sim e pelo não, ponha-o em quarentena e mande fazer o teste para o ébola. O paciente será capaz de aguentar uma transfusão de sangue?

     - Duvido que dure até lá! Quando o resultado vier, já deverá ter morrido há muito. – informa-me, afastando-se do Bernard.

  Saímos da sala, retiramos as luvas, as máscaras e ele abre o seu cacifo. Depois, pega numa mala preta e sussurra:

     - Tem cuidado, minha amiga. Isto é só o começo.

O Diário da Pandemia - DegustaçãoWhere stories live. Discover now