Dia 7

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Dr. Foster

  É de madrugada quando eu entro no meu laboratório de pesquisa nível 4, devidamente equipado e protegido em Atlanta, no CDC. Sou um dos mais experientes e prestigiados microbiologistas conhecidos. Mal me formei, participei no início da implementação da vacina do sarampo nos Estados Unidos, na década de 70. Atualmente, com os meus muitos anos, ainda sou um dos principais investigadores de febres hemorrágicas. Contudo, durante o último ano, estive particularmente interessado no vírus Ébola Zaire que vitimou milhares de pessoas no Norte de África.

  Ao entrar no laboratório, deparo-me com a minha jovem colega Dra. Jane, recém doutorada em doenças infeciosas e a minha parceira no estudo do vírus ébola. Por agora, estamos a estudar uma das 53 drogas em quase 3000 avaliadas que afetaram o vírus em laboratório, para tentar originar uma cura ou, pelo menos, uma vacina.

     - Bom dia, Dr. Foster! Como está? – cumprimenta-me ela.

     - Bom dia, Jane. Bem, obrigado. Como estão os macacos? – pergunto, com a intenção de continuar de imediato a investigar.

     - Aparentemente assintomáticos. Ia agora mesmo observar a quantidade de vírus no seu sangue.

  Seis dias antes, administramos o vírus em sete macacos, numa unidade de isolamento. Um dia depois, adicionamos em três deles o medicamento experimental BCX-4430. Esta droga já provou ser eficaz em certos roedores, afetando o micróbio patogénico.

     - Muito bem. Prossiga! Eu administrarei o medicamento em outros 3 macacos.

  Este ensaio pretende avaliar como funciona o BCX-4430 num mamífero 24 horas e 6 dias depois de administrado o vírus, altura em que aparecem os primeiros sintomas. Mantemos um dos macacos sem medicação para garantir que o vírus está ativo, funcional e mortífero.

  Entretanto, no laboratório, ouço um ruído. É o telefone, o nosso contacto com o exterior. Apressadamente, a Jane atende-o para o barulho não me incomodar. Sendo o funcionário mais experiente e, admito com orgulho, velho desta instalação, tenho, para além de uma grande influência, o respeito de todos os meus colegas, superiores e funcionários. Porém, excecionalmente, já pedi à Jane para não fazer cerimónia comigo, claro está sem sucesso.

  Finalizada a chamada, informo a Jane que já administrei o medicamento nos outros três macacos e pergunto quem tinha telefonado, enquanto observo as amostras que ela preparou.

  Calmamente, responde:

     - Era uma das assistentes a informar que houve um surto de uma doença desconhecida com sintomas hemorrágicos em Morrow, perto de Atlanta. O médico infeciologista local enviou-nos 28 amostras de sangue dos infetados, 9 deles já falecidos, que devem chegar ainda hoje. Com elas, vem a informação geral de cada paciente.

     - Bem, Jane, depois vemos isso. – respondo, regressando ao microscópio. - Até termos as amostras e informações de cada paciente, nada podemos fazer!

CDC - Centro de Controlo e prevenção de doenças.

BCX-4430 - Medicamento com potencial antiviral contra vírus hemorrágicos.

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