O namorado ou noivo de Camila ficou encarando-a como se esperasse uma resposta. Eu não pretendia fazer um escândalo, mas se Camila tentasse expulsar-me de sua casa não responderia por meus atos. David não estava mais presente, depois que Taylor entregou os bonecos ele se embrenhou pelos corredores da casa.

- Tudo bem aqui? - ele perguntou.

- Está sim... - Dinah respondeu. - Me ajuda a pegar alguns ingredientes, achei na internet como se vai uma típica bebida brasileira e eu quero testar... - disparou a falar enquanto arrastava o noivo de Camila.

- Lauren facilite as coisas e vá embora. - Taylor pediu.

- Nunca imaginei que você me apunhalasse pelas costas. - resmunguei. - Sou uma estúpida.

- CHEGA. - Camila gritou. Antes que eu pudesse processar qualquer coisa ela me jogou de volta no escritório e trancou a porta. - Sim, você é uma estúpida, mas porque quis ser uma. - vociferou.

- Abaixe seu tom de voz. - mandei.

- Vá se foder... - resmungou. - Eu ordenei que fosse embora agora não venha querer bancar a dona da razão.

- David é meu filho. - fui direta ao ponto.

- Nunca mais repita isso... Você não tem nenhum direito sobre meu filho, sangue não diz muita coisa... - a cortei.

- Não se esqueça de que eu sou advogada e, portanto conheço todas as brechas para tirar essa criança de você. - Camila recuou um passo.

- Você não ousaria?

- Nunca duvide de uma mulher traída... Se eu buscar meus direitos* eu sou reconhecida como mãe porque contribui com o material genético...

- Grande coisa. - revirou os olhos.

- Cabello, o vínculo parental pode ocorrer de duas formas. Consanguíneo, ou seja, biológico e civil, que é a adoção - comecei a explicar. -, a adoção interrompe o vínculo sanguíneo, no caso a criança adotada passa a ser filha oficialmente da mãe afetiva e perde qualquer laço com a mãe biológica. - Camila me olhava atenta. - Nesse caso não houve adoção, logo o vínculo sanguíneo com a mãe biológica não foi rompido, portanto posso pleitear a criança no tribunal e ainda alegar que você agiu de má-fé ao usar meu embrião... Para David ser meu filho você foi barriga de aluguel de um óvulo meu fecundado in vitro. Isso é algo atípico e que pouco acontece, mas denomina-se furto de material genético. - defendi meus direitos, brigaria com unhas e dentes pelo garoto e ela que me esperasse no tribunal com um ótimo advogado. Eu vi lágrimas escorrerem pelo rosto de Camila, mas não me deixaria enganar. Dessa vez não acolheria o papel de trouxa. Eu ditaria as regras.

- Você é doente. - cuspiu. - Eu não me importo... Venha com chumbo grosso e o céu pode até ficar tempestuoso, mas não morrerei sem lutar de peito aberto, sem armaduras eu lutarei por meu filho até meu último suspiro... Você é uma babaca e me trocou como quem troca de roupa.

- Você me traiu como uma vagabunda barata.

- Eu nunca te traí sua babaca... Você nunca ouviu a porra da verdade. Eu queria te fazer uma surpresa...

- Bela surpresa! - ri debochada.

- Cala a boca e me escuta. - gritou. - Lembra sua inútil, que estávamos pensando em aumentar a família? - afirmei com a cabeça. - Você me presenteou com o Banana, mas ainda conversávamos sobre adoção ou inseminação... Era para ser uma surpresa, um presente para nós, mas você foi estúpida, idiota... Você já havia deixado os óvulos congelados para um futuro próximo ou distante e como a adoção levaria uma burocracia desgastante e muitas entrevistas... - Camila respirava com dificuldade. - Eu só queria... Eu só queria preparar um jantar e como qualquer casal hetero dizer para você que estava grávida... A estúpida aqui - apontou pra si. - foi à clínica e assinou todos os papeis necessários para a inseminação in vitro com o esperma de um doador fecundado em seu óvulo. - meu peito doía com cada lembrança e com cada palavra rasgada, que descia ardente goela abaixo. - Os únicos que sabiam eram Ariana e Austin, pois seriam os que me apoiariam nessa loucura. - ouvir o nome do Austin me deu enjôo. - Na época Ariana viajou para visitar o avô e eu resolvi chamar o Austin para fazer o teste de gravidez e ver se a inseminação deu certo... Mesmo sabendo que o óvulo fecundado estava no meu útero, ainda assim, estava cheia de neuroses. - puxei o ar com dificuldades, chorava vergonhosamente. - eu estava com medo de ter abortado ou não ter dado certo mesmo o médico tendo dito que havia ocorrido tudo bem... Só que com todo meu desastre eu derramei vinho na camisa do Austin e enquanto a camisa estava na lavadeira ele me acompanhou e ficou esperando eu fazer o teste... Mesmo você não gostando o Austin era meu amigo - apontou o dedo na minha cara. - e eu nunca a trairia, mas você preferiu criar toda essa fantasia para fugir do nosso relacionamento isenta de qualquer culpa. - Camila se aproximou afobada e me empurrou. Meu corpo não reagia a nenhum comando, estava absorvendo muita informação. - Lauren, você vive em uma bolha asfixiante de mentiras e eu me pergunto como respira todos os dias? Então não seja vadia e não impute uma coisa que não me é cabível. - me empurrou novamente, ambas chorávamos descontroladamente. - Você fez a porra de sua escolha e eu sem direito a opinião acatei a contra gosto. - me empurrou, fazendo com que minhas costas colidissem com a parede. - Você me abandonou. Julgou-me, me taxou como culpada sem me dar o direito a um julgamento justo ou ao direito a defesa. Você não tem nenhum direito sobre meu filho. - deixei meu corpo cair ao chão, todo o peso do mundo sendo jogado em minhas costas. - Você pode me socar até todos meus ossos quebrarem - tampava inutilmente meus ouvidos com as mãos, estava me afogando na verdade. Meus olhos fechados para não encarar o mudo distorcido em que vivia. - Você pode arrancar minhas entranhas com essas mãos imundas, mas nunca. Eu disse, nunca diga novamente que arrancará meu filho de mim. Eu acabo com sua raça com minhas próprias mãos. Eu viro o demônio se for preciso e devoro sua alma ou de quem quer que ao menos pensem em triscar em um fio de cabelo do meu filho...

- Eu... - sussurrei. - Eu não sabia...

- Eu fui atrás de você... - continuou destruindo minha alma com sua fala. - Eu corri até o aeroporto, depois de ter ido à casa da Taylor, só que quando cheguei o avião tinha decolado e a partir de suas escolhes eu tomei a minha e fiz muitas pessoas jurarem que não contariam.

- Quem... Quem tanto sabe?

- Melhor perguntar quem não sabe, o número sai menor. Sofia, pois mesmo sendo minha irmã ela te devota se eu contasse, ela daria um jeito de te avisar e seus pais porque óbvio que seriam contras guardarem esse segredo. Então depois de sua fuga apareci com um amigo meu em Miami e apresentei - fez aspas com a mão. - como meu caso e depois apareci grávida e eles nunca tocaram no assunto, mas devem achar que o pai da criança fugiu depois que descobriu sobre minha gravidez e eu apenas não desmenti.

Eu queria me levantar, mas não tinhas forças. Durante seis anos vivi em uma mentira criada em minha própria mente. Sentia-me uma doente, suja e insignificante diante das palavras de Camila. Todo meu mundo já não existia e minha vida era uma completa farsa.

- Eu entendi tudo errado. - gritei.

- Não, você entendeu apenas o que queria entender. - retrucou.


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