Não sou de perder tempo, principalmente quando a oportunidade é visível, então fui logo matando a vontade de ficar com ele de novo. Sander não me impediu, mas, enquanto eu o beijava, ele parecia hesitar, meio rígido, sei lá. Parei de beijá-lo atrás da porta e o encarei. Eu era mais novo que ele, mas também tinha cerca de uns quatro ou cinco centímetros a mais de altura, julgo eu pelo tanto de atividade física que eu fazia desde sempre.

Nem preciso dizer que a cor das nossas peles também era notavelmente discrepante: a dele parecia talco e a minha tinha mais cara de café.

– O que foi? – perguntei. Ele vacilou. – Se você não quiser é só chegar e falar.

Sander me encarou.

– Não é isso... – e ponderou. – É só um pouco diferente.

Franzi as sobrancelhas e me afastei, depois me sentei na cama, dando espaço pra nós dois. Ele observou o quarto e veio se sentar do meu lado, bem devagar. O gringo suspirou.

– É que lá a gente não convida as pessoas assim para visitar em casa, ou ficar a sós no quarto tão... tão "cedo".

– Espera – eu pisquei, interrompendo-o. Minha mente lotada de poluição. – Eu não tô insinuando nada, ok? Digo, te chamei porque o shopping tava impossível, e eu queria te ver e tal. Não precisa ficar com medo nem nada assim...

Ele riu, meio de lado.

– Não estou com medo, só pensei que você não fosse querer minha "aproximação" tão... não sei como se diz, tão rápido, eu acho.

– Por que não? – não estava entendendo nada daquilo. Essa coisa de culturas diferentes dava um nó na cabeça.

Quero dizer, eu não tinha tido nenhuma "segunda intenção" chamando-o pra minha casa, sério. Foi só um jeito de não perder o dia e de poder ficar com ele – no shopping não ia rolar. E eu tava a fim, será que ele não percebeu que eu tava a fim?

– Quando a gente sai com alguém lá na minha casa – ele começou, e eu sabia que queria dizer "lá no meu país" –, demora um pouco para as coisas acontecerem. Você sabe, a gente comentou isso em um almoço no restaurante – fiz que sim com a cabeça. – E aí, quando eu disse que achava que brasileiros eram mais liberais, é porque pra eles... pra vocês é fácil. Vocês nem precisam sair com a pessoa. Só se encontrar no meio do caminho e, se ambos estiverem de acordo, vão em frente. Certo?

Estreitei os olhos. Não sabia se respondia que sim ou que não. Ele não me esperou pensar muito, porém.

– E eu sempre achei que isso de "ficar" com alguém num dia e com outra pessoa em outro dia era super normal pra vocês. Era disso que eu estava dizendo quando falei de serem "liberais", no sentido de não ter nenhum compromisso. Entendeu?

– Você não quer um compromisso – eu deduzi. – Tudo bem. Já entendi.

– Não é isso também – ele respirou fundo e pareceu um pouquinho irritado. O que eu podia fazer? Dava pra ser mais claro? Sander se virou pra mim, olhos nos meus olhos, e mandou: – Você quer? Um compromisso?

– Não... sei – respondi no automático. – Quero dizer, não pensei nisso.

– Exatamente – ele pontuou.

Permaneci algum tempo só observando-o sem necessariamente enxerga-lo, pra tentar entender o que se passava na cabeça dele. O gringo parecia hesitante em relação a alguma coisa, provavelmente em relação a mim. Nossas culturas eram diferentes, então ele não sabia como agir dali pra frente. Talvez ele não soubesse que, mesmo sem ter um compromisso sério ainda, isso não significava que eu não queria alguma coisa.

– Eu não fiquei com você por ficar – então concluí meus pensamentos em voz alta. – Você acha por acaso que eu fiquei com você no domingo e, sei lá, na segunda já tava com outra pessoa só porque não temos um compromisso ou coisa assim?

Pela cara que ele fez, acho que acertei em cheio.

Mas isso me deixou ultrajado!

– Sander, não é assim! – arregalei os olhos. Pelo menos pra mim não era assim que funcionava... Não era assim que estava funcionando, não com ele. Verdade, eu fiquei com uma garota no processo, e com ela sim havia sido só uma coisa de ficar por ficar. Mas, poxa, eu estava confuso! E ali era diferente. Completamente! – Eu nunca ficaria com um cara, pra começo de conversa, se não estivesse muito a fim! E se eu tô a fim, não vou fazer palhaçada com a outra pessoa. Não sou desses que fica com três ao mesmo tempo e não liga pra nada; eu tenho coração, sabia?

Ele refletiu sobre minhas palavras por alguns minutos, talvez encaixando o sentido daquilo tudo. Eu desembolei um monte de gíria pra cima dele, coitado, nem tinha percebido!

– Não precisamos ter um compromisso sério pra definir algumas coisas. Isso não é questão de nacionalidade, é de caráter – finalizei e ele assentiu.

Com os olhos ainda nos meus, um minuto depois, Sander soltou:

I like you.

Pisquei, meio atordoado. Não sei se foi um ato falho, ou se ele realmente quis falar na língua nativa, mas o fato foi que ele não se corrigiu ou traduziu a frase. Eu a entendia perfeitamente e encolhi os ombros, meio sem graça.

I like you too – limpei a garganta e completei. – E eu não preciso mais que isso por enquanto.

Eu nem sabia se podia dar mais que aquilo também, mas isso eu não disse em voz alta.

Sander sorriu aliviado e se inclinou pra perto de mim, me beijando calmamente em seguida. Quando abrimos os olhos, ele continuava sorrindo.

– Na minha cabeça de americano, – ele comentou – se você chama alguém mais de uma vez pra sair, é porque você quer ter alguma coisa com essa pessoa. Deixa de ser uma "simples saída", entendeu?

Meu coração se espremeu dentro do peito, me fazendo murchar um pouquinho. Meus neurônios estavam se conectando, sabe? Fazendo a mente trabalhar... E eu soltei, pesaroso:

– Entendi, mas... não quero que você fique "preso" por causa disso – continuei, sem saber exatamente de onde as palavras vinham. Só sei que eram sinceras. – Você mesmo disse que queria fazer a experiência valer a pena, certo? Não vá se prender por minha causa, deixar oportunidades escaparem e tal. Não quero te impor nenhum compromisso e fazer você se arrepender depois...

Ele riu, sereno. Maduro.

– Não fique convencido, mas tá valendo a pena assim. E pode deixar que não vou me prender; eu sei que vocês pensam diferente, e sei também que isso não quer dizer que você não queira continuar...– o sorriso no rosto dele diminuiu, e as covinhas foram embora. – Mas também você não se esqueça que, em Dezembro, eu vou embora.

Eu já tinha pensado naquilo, mesmo que inconscientemente. Engoli seco e vesti a expressão mais tranquila que consegui encontrar naquele instante. Eu não queria que ele pensasse naquele assunto, não ali, não agora, no momento em que poderíamos aproveitar bastante antes do fim do seu intercâmbio chegar.

– Eu sei, mas, até lá, muita coisa pode acontecer.

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Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now