Junho V

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Nas últimas duas semanas que se seguiram de Junho, tive que mergulhar numa maratona alucinante de estudos nunca vista antes na história da minha vida. Os professores haviam anunciado que não aplicariam as últimas provas do bimestre na primeira semana de Julho, como sempre havia acontecido. Em vez disso, eles tinham antecipado o conteúdo. Faríamos as avaliações antes para, quando Julho chegasse, nós pudéssemos estar mais tranquilos para organizar a Festa Junina do colégio.

Acho que por ser tradição e tal, eles não se desfaziam dessa comemoração – e também porque arrecadava muito dinheiro com a venda dos ingressos, claro. Mas como a falta de entusiasmo do corpo docente era evidente, eles jogavam toda a preparação do evento nas nossas costas. No ano anterior, havíamos feito as barraquinhas dos jogos e tal. Nesse ano, éramos responsáveis pela comida.

Antes da festa, porém, tinha que garantir minhas notas. Se o boletim aparecesse com alguma coisa escrita de vermelho, eu podia dar adeus às minhas férias! Meu pai andava rondando lá em casa se teríamos condições de viajar para São Paulo, ou talvez para uma cidade litorânea – se o Rogério e eu teríamos realmente férias, sabe como é. A gente sempre viaja nessas datas, nem era nenhuma surpresa, mas me vi com o plano deveras ameaçado quando pensei nas minhas notas.

E ainda tinha outra coisa que cutucava minha mente bem lá no fundo: se eu viajasse, não veria o Sander por mais de quinze dias direto.

Pode parecer um pensamento idiota e egoísta, mas ele estava me ocorrendo com tanta frequência que era impossível de ignorar...

Depois da boate, eu sentei comigo mesmo no silêncio do meu quarto e coloquei as ideias no lugar. Por menos incomodado que estivesse com as coisas que nos ocorreram no dia, e antes dele também, eu tinha que ir mais devagar. Quero dizer, não tinha? Eu não sabia como ele estava reagindo, mas tinha alguma parte de mim que dizia que, mesmo para os padrões brasileiros, a gente estava voando bem, bem rápido em... direção nenhuma. Não sabíamos onde chegar, nem se queríamos realmente chegar a algum lugar. Só estávamos indo, meio desgovernados, sem a certeza de onde pisávamos...

Então eu disse pro Sander que precisa realmente estudar, e que não, ele não podia me ajudar. Eu ia fazer aquilo sozinho – ou o máximo de "sozinho" que eu pudesse, sabe como é.

Ele não reclamou; comentou que também estava em período de provas, e confessou que muitos dos colegas dele estavam chamando-o pra passar um tempo em suas casas e não escondido no apartamento do doutor Alfredo e família. Ele escolhia ficar no apartamento porque sabia que eu sempre aparecia por lá, mas deixei claro que devia ir e aproveitar as amizades que estava fazendo. Ele não teria outra oportunidade, né?

A gente tinha falado sobre aquilo antes, esse negócio de "se prender". Não queria ser uma jaula no intercâmbio dele! Mais que incentivei as saídas, só fiquei meio apreensivo dele achar que aquilo significava que eu não dava a mínima pro que tava rolando entre a gente...

O negócio era justamente o contrário, porém. Eu ligava muito praquilo pra deixa-lo ser estragado por uma bobagem da minha cabeça.

Além disso, nunca fui ciumento. Não era agora que ia começar, certo?

A internet e o Daniel me ajudaram nos estudos. Ele e o João Vitor à tira colo, já que a questão de sermos da mesma sala nos unia por isso. O JV era muito menos concentrado que eu, e isso acabou me deixando nervoso. Afinal, zoar não tinha nada de mais, mas quando a prova aterrissava na minha mesa e eu me dava conta de que não fazia ideia o que o enunciado da questão me pedia, tinha vontade de vomitar e chorar ao mesmo tempo.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora