Julho VII

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Esses eventos de colégio nunca foram muito a minha praia, mas sempre participei na turma da bagunça. Meu objetivo era ir para zoar o máximo possível, ficar com as meninas mais bonitas e desejadas, e procurar algum flagrante de professor para poder usar contra eles depois – foi nosso feito descobrir o Nasser e a professora de espanhol entornando garrafas de vodca no almoxarifado durante a festa do anterior! Ele teve que pagar uma rodada de pizza pro time todo pra que a gente ficasse calado.

Era engraçado, não vou mentir. Mas, naquele ano, minha vontade de participar de coisas assim era negativa.

O Carlos veio me chamar para nos reunirmos perto do pau de sebo quando a inspetora anunciou a competição, mas, para sua surpresa, eu recusei. Disse que ia ajudar as meninas a empacotar as "encomendas" e que nos esbarraríamos depois, na minha hora de folga. A Juliana me olhou de soslaio, percebendo a conversa, mas só levantou as sobrancelhas.

Eu realmente ajudei a embalar doces, mas acho que tava na cara que não era esse o motivo principal de eu ter recusado...

Me ocupei com o trabalho sem ver o tempo passar – e olha que não tava legal assim, pras pessoas dizerem que a gente não olha a hora quando faz algo que gosta. Não era isso. Era só vontade de acabar logo com aquilo mesmo. Meu celular vibrou no bolso diversas vezes, mas não dava pra tirar a mão da massa (literalmente), então o ignorei. Quando a fila da nossa barraquinha diminuiu, a Karina veio dizer que podíamos sair dois de cada vez para fazer a tão merecida pausa para descanso.

– Vamos tirar no par ou ímpar ou...?

– Eu posso ficar – a Ana Cláudia disse, dando de ombros. – Meus pais já foram embora e não estou com fome ainda.

– Eu só quero ir ao banheiro – a Alícia choramingou e as meninas riram.

– Então vai, criatura! – Karina deu um tapinha no ombro dela e a menina pulou a mureta da nossa barraquinha em tempo recorde, sumindo no meio da multidão. – Então vão vocês dois primeiro, pode ser? Renan e Juliana?

Nós dois nos entreolhamos e assentimos. Tirei o avental que, confesso, nem percebi que ainda estava amarrado ao meu quadril – nem o Carlos, porque ele não teve tempo de comentar quando fora me chamar mais cedo... Só esse fato já seria uma benção milagrosa, né?

Não estava com fome, mas foi só sair da barraca que lembrei do pé de moleque e do Sander instantaneamente – mesmo que os pais dele já tivessem lhe comprado um quilo de doce, eu ainda queria fazer minha contribuição.

Daí lembrei do meu celular, vibrando no bolso, e fiz a besteira de checar as mensagens que estavam chegando.

"Gatinho, to indo pra sua escola! Se prepara!"

"Chegueeeei! Saudades mil!"

"Nossa, mas vc ta uma delicia de avental, Renan!!!"

"Me avisa qdo vamos nos encontrar pra matar a saudade. To te esperando!"

O número era desconhecido – nem bloqueando a Larissa parava de me seguir, nossa! Provavelmente mandando mensagens dos celulares das amigas, sei lá. Até me espantei por não ter reparado que ela, a julgar pelo que tinha acabado de ler, tinha estado na barraquinha do beijinho de coco.

Era só o que me faltava!

A paranoia servindo de motor, vasculhei a festa com os olhos pra ver se a encontrava. Negativo. Nada de Larissa ou qualquer uma das amigas dela. Nada do Carlos ou de qualquer um do pessoal do time, também. Andei com o maior dos cuidados até a barraca das fichas, pra poder comprar uma e pegar o pé de moleque pro Sander – com sorte, eu ainda conseguia raptar o gringo pela próxima hora para um cantinho escuro do colégio e, de quebra, ainda escapar da minha perseguidora.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora