A Era dos Dragões I: A Origem da Magia #degustação

Os Sullivan

Na segunda feira veio a mesma rotina de sempre: Conan me levou para o colégio, tive aulas de literatura dragoniana, história dos seres mágicos, matemática aplicada e a optativa de línguas, estou fazendo élfico junto com a Flan, Bard diz que é uma perda de tempo já que os elfos puros quase nunca aparecem em nossa cidade, mas as esperanças de encontrar um lindo e sexy elfo continuam.

Depois da aula fui para casa, limpei meu quarto e fiz a lição. Tão logo a noite chegou, assim como a terça-feira, junto com a geografia, aula de artes, ioga para fortalecer a áurea e física. No intervalo Flan não parava de me agradecer por poder comparecer a festa de seu pai, combinamos que o motorista iria me buscar às 19 horas já que a recepção daria inicio às 19h30.

Alanis ficava extremamente feliz quando eu lhe pedia conselhos de como me vestir e quando digo feliz, quero afirmar que minha irmã estava histérica. Ela me trancou em seu quarto, tirou todos os seus vestidos do guarda roupa, me fez experimentar uns dez, por fim optamos por um de renda salmão sem mangas que era realmente fabuloso, depois ela demorou mais duas horas fazendo uma trança e maquiagem. Vovó me emprestou seus brincos de pérola e mamãe me deu uma bolsa de mão, a única coisa minha era um scarpin preto, não sou muito fã de dias de princesa, mas quando me olhei no espelho me senti realmente especial.

- Você está fabulosa querida. – Minha mãe deu um último toque com uma pitada de seu perfume, adorava quando ela me emprestava, cheirava a canela e flor de cerejeira, me sentia muito especial, talvez um pouco parecida com ela.

A verdade é que eu não me parecia em nada com minha mãe, já Alanis era a pura beleza carimbada da dona Edna e caber no vestido da minha irmã era a minha vitória silenciosa.

- Você realmente emagreceu nestes últimos meses Aimil, está linda mesmo. - Malloy assuviou brincando. – Logo teremos gaviões rondando por aqui.

- Ninguém ronda a minha irmã! Primeiro pedem permissão pra mim. – Conan fechou os punhos.

- Com essa postura todos os pretendentes da Aimil vão sair correndo amedrontados. – Vovó cruzou os braços protestando.

- Vocês querem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui! – Esbravejei terminando de colocar os brincos.

- Não quer nada para por no pescoço Aimil? – Alanis perguntou. – Uma gargantilha talvez?

- Talvez ela queira ir com aquele colar terrível que comprou na feira. – Malloy sorriu. – É a cara dela.

- Hei, eu não tiro sarro de suas camisas listradas e você não mexe com meu gosto por coisas exóticas. – Praguejei.

- Que colar é esse Aimil?

- Eu ganhei da Flan mamãe. – Abri minha caixinha de jóias mostrando minha nova aquisição. – É uma escama de dragão azul, não é linda?

- Vocês adolescentes precisam parar de serem enganados, isso sim. Quanto pagou nessa falsificação?

- Pare de bancar o adulto Conan e realmente não me importa se é falso, eu o adoro. – Olhei para pequena escama presa no vidro. – É o meu tesouro.

- Pois se é o seu tesouro use-o querida, vai ficar linda. – Mamãe sorriu me abraçando.

- Não com esse vestido mãe! – Alanis protestou. – Não combina!

A acalorada discussão sobre como me vestir e se portar na festa de granfinos foi interrompida pela buzina do motorista da Flan. – Distribui beijinhos, prometi a Conan que não daria trela para nenhum riquinho metido a besta, para Malloy anotaria mentalmente todos os pratos servidos para ver o que era a moda gastronômica da época e depois desci.

O motorista foi me buscar sozinho, mas ele era muito simpático e tão logo estavamos na propriedade Sullivan. Era uma imponente mansão construída em mil metros quadrados e rodeada por um jardim simétrico.

Entrei pela porta da cozinha, já estava acostumada a ir lá, ser recepcionada pelas dezenas de empregados, a mãe de Flan falecera quando ela era muito jovem, a partir daí seu pai prometeu que ela nunca ficaria sozinha, que sempre estaria rodeada de luxo e pessoas importantes. Em menos de doze anos Taban Sullivan construiu um império e fazia questão de mostra-lo, possuindo o mais conceituado escritório de advocacia da cidade, ele adorava dar festas em sua casa e o que mais aspirava era ver Flan inserida na corte, no mundo de riquezas, propriedades e ausência de necessidades.

Passei pela cozinha, atravessando a sala de jantar, que já estava pronta para receber 60 ilustres convidados, atravessei a luxuosa sala, o salão Sullivan, onde o leilão já estava preparado e subi ao terceiro andar para o quarto de Flan.

- Aimi, que bom que chegou! A maquiadora já partiu há quase uma hora e não aguentava ficar sozinha, estou tão nervosa!

Ao contrário de mim, Flan não tinha mãe e nem irmã para ajuda-la, por isso seu pai sempre contratava maquiadoras e Flan tinha a mesma designer de moda que uma famosa atriz do Teatro Rubro. Ela estava linda em um vestido preto bordado com flores topázio, parecia realmente caro, Flan tinha uma vida luxuosa, mas não se encaixava muito bem nela.

- Você está linda Aimil, ai... Sinto-me tão estranha nesse vestido.

- Pare com isso Flan, está linda e vai arrasar corações nesta festa.

- Isso é o que meu pai mais quer e o que eu mais temo, não sei falar com essa gente Aimi. – Flan observou os carros chegando por sua janela. – Quando estou sozinha com eles entro em pânico.

- Não pense nisso agora, vamos escutar o leilão, jantar como uma formiga e se retirar cortesmente como duas senhoritas fariam...

- Depois roubar a comida da cozinha e assistir filmes de terror. – Flan completou minha frase. – Comprei vários clássicos pela internet.

- Eba, então vamos descer, quanto mais rápido isso começar...

- Mais rápido termina. Aimil Lace o que eu faria sem você?

- Realmente não sei. – Sorri empurrando-a para fora do quarto.