_ Não vou sair daqui enquanto você não me contar onde passou a noite.

            _ Com... _ eu não podia contar... podia? Mas eu já tinha enfiado Thomaz naquela mentira, logicamente ele exigiria explicações. E eu não posso me recusar a dar. _ Com ... o... Gustavo.

            Durante três segundos Thomaz continuou me olhando com a mesma expressão, então franziu o cenho e arregalou os olhos quando se deu conta do que eu falava e de quem eu falava.

            _ Puta que pariu!

            _ Você não pode contar pra ninguém, por favor! Ele... _ engasguei mas consegui soltar. _ Ele era da Marianinha.

            _ O QUÊ??? _ Thomaz levava a mão a boca, mas era inútil porque ele não percebia que estava gritando.

            _ Shiiiiiu! Para de gritar e vem aqui! _ o puxei para dentro do closet e fechei a porta. O fiz sentar no puff de frente para mim e fui me sentar na cadeira da penteadeira. Respirei fundo. _ Escuta... _ e comecei a contar toda a história desde o início. As palavras tornavam tudo o que tinha acontecido em algo concreto, a culpa ficava mais pesada e ao mesmo tempo, dividir com alguém, era quase libertador. Thomaz escutava tudo com bastante atenção e expressava toda sua indignação durante meu relato, passando a mão pelo cabelo.

            Ele também não suportava Gustavo e eu mal tinha uma justificativa para me explicar. Thomaz estava irritado e ao mesmo tempo surpreso, enquanto eu estava envergonhada e ao mesmo tempo, aliviada.

            _ Sério que ele já teve alguma coisa com a Mariana? _ foi a primeira coisa que Thomaz perguntou após alguns momentos em silêncio.

            _ Já... _suspirei. Thomaz também estava me julgando e senti um soco no meio do peito junto com o medo de perder minha amiga.

            _ Então, ele comeu a Mariana e no dia seguinte apareceu com outra? Sei que sou canalha mas até eu tenho bom senso.

            _ Ele não "comeu" a Marianinha. Mas foi inevitável ela se apaixonar... o cara ficou um ano em cima dela até ela ceder! Ficaram um tempo juntos. _ escondi meus rosto entre as mãos, bufando.

            _ E ele não comeu ela? Tem certeza que ele não é viado?

            _ Ele não comeu ela porque ela era... _ o quê? Eu não podia expor Marianinha contando que ela era virgem e que tenho quase certeza que esse foi um dos motivos de Gustavo ter pulado fora. O que não justifica... _ Especial. Apesar de tudo ele deve ter percebido isso.

            _ O que não transforma ele de um cafajeste pra um cavalheiro. Eu não gosto dele.

            _ Eu sei. _murmurei com um nó na garganta e ficamos calados, por alguns segundos. _ A Mariana não pode saber disso.

            _ Valentina...

            _ Por favor, Thomaz! Isso não vai mais acontecer! _ ele soltou uma risada sarcástica e eu me desesperei soltando minhas lágrimas num soluço. _ Eu não posso... eu... nã... não vou aguentar se a Ma... ri... aninha se... se afas... tar... de mim!

            Thomaz xingou me puxando para seu colo e me abraçou, beijando minha cabeça e tentando me acalmar enquanto eu chorava, descontroladamente. Deixei a frustração me consumir e desabei, aquilo estava sendo muito difícil de carregar sozinha. Não gostava de mentiras, de pessoas manipuladoras ou que omitissem algo, sempre achei que esconder a verdade era a pior coisa que alguém poderia fazer. Ela sempre apareceria porque a vida é uma rua sem saída. E foi isso que me fez detestar Gustavo desde o início: a maneira que ele tinha magoado alguém que eu amava tanto. E agora eu estava fazendo a mesma coisa. Eu não devia ter brincado e agora o arrependimento me consumia porque aquilo era maior do que eu podia suportar. Eu era igual ou pior que Gustavo porque eu, realmente, me importava com Marianinha e ela acreditava e confiava em mim.

            Meus soluços foram cessando e Thomaz limpava as lágrimas do meu rosto com as palmas das mãos. Nos encaramos e eu baixei meu olhar enquanto ele colocava uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

            _ Eu não vou contar nada pra ninguém. _ respirei fundo e lhe dei um meio sorriso. _ Mas não acho certo isso que você tá fazendo. Ainda mais com quem é. Do Gustavo até dá pra esperar uma atitude dessas. Você sabe muito bem... acabou de me contar tudo que ele fez. _ assenti fungando. Thomaz falava com um nítido desprezo. _ Preciso descer, tá todo mundo me esperando. Vai ficar bem? _ assenti mais uma vez enquanto nos levantávamos. Thomaz me deu um beijo na testa e saiu. Fiquei um tempo parada no mesmo lugar. Não sabia para onde ir ou o que pensar, estava me sentindo perdida.

            Tirei a roupa e me olhei no espelho vendo os arranhões e chupões deixados na minha pele. Gustavo havia me marcado e não havia sido só por fora. Ainda podia sentir a sensibilidade entre minhas pernas e a culpa do desejo subindo pelo meu ventre. Entrei debaixo do chuveiro e me esfreguei com força tentando apagar nossos toques, mas era impossível. Estava impregnado em mim. Mais uma vez as lágrimas vieram com força e eu coloquei uma mão na boca tentando suprir um choro alto.

            Desliguei a água e me enrolei numa toalha, passei a mão no espelho embaçado e encarei meus olhos vermelhos. Passei um pouco de creme e muita maquiagem, para disfarçar as olheiras, desembaracei os cabelos fazendo uma trança larga para jogar por cima do ombro, disfarçando os chupões e vesti um macacão branco de algodão com mangas longas de gola canoa, calcei chinelos e respirei fundo antes de sair pela porta do quarto e descer.

            Já da escada escutei a conversa animada e muitas risadas. Quando eu estava no último degrau, vi que se levantavam para o almoço.

            _ Ia subir pra te chamar. _ Marianinha me sorria e Thomaz me encarava. Se ele continuasse agindo assim... _ Que foi?

            _ Nada. _ sorri e enlacei seu braço no meu, puxando para a sala de jantar, meus pais já estavam se servindo e Thomaz vinha logo atrás de nós. Meu celular e o dela tocaram ao mesmo tempo e era uma mensagem de Stela:

            "Vocês não esqueceram do meu aniversário, né?!"

            _ Aniversário da Stela já é nessa semana. Tinha até esquecido... _ Mariana guardou o celular e se sentava de frente para mim. Thomaz olhava dela para mim e eu estava a ponto de lhe dar um soco. Meus pais estavam num mundo à parte conversando sobre a nova produção. Quando eles encabeçavam um novo projeto, dificilmente davam atenção à outra coisa.

            _ Você vai? _ perguntei e Marianinha apenas deu um suspiro com um meio sorriso. Certo, ela não iria. Até quando seria assim? Será que ela ainda estava magoada com Gustavo? Que pergunta! Lógico que ela estava, o que só aumentava minha cretinice. Thomaz entendeu tudo e olhou para o próprio prato.

Doce Vingança, livro 01Where stories live. Discover now