Capítulo 07 - Doce Despedida

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_ E depois? Você pensa em fazer o quê?

_ Um cursinho de corte e costura. Eu sempre costurei lá no bairro mas não podia fazer o curso porque tudo era pra ajudar lá em casa.

_ Sabe que eu tenho uma amiga igual a você? A Mariana que vem sempre aqui, lembra dela? _ Gina assentiu. _ Depois que ela perdeu o pai teve que se virar porque ela era filha única. Ele a criou como uma princesa e ela só estudava. Ela não desistiu dos sonhos e de tudo que o pai dela deu pra ela; pra terminar a faculdade ela conseguiu uma bolsa estagiando e pra manter livros, xerox, essas coisas que precisam ser pagas, ela trabalha lá no estúdio. Ela vai se formar, agora. Eu morro de orgulho dela! _ e era verdade. Pessoas como Gina e Mariana nos ensinam demais e merecem o melhor da vida. _ Você já namorou? Antes do Robson?

_ Claro que já. Só minha cara é de santa. _ ela riu. Ah, se ela soubesse que eu estava bem ciente daquilo. _ É um dos motivos de só agora poder fazer o que sempre quis. _ ela engoliu em seco e vi lágrimas nos seus olhos. Ela respirou fundo mas não chorou. _ Meu último namorado... ele não era muito paciente...

Aquela revelação me chocou. E eu entendi sem precisar de muitas palavras. Senti um nó na garganta e uma raiva imensa. Segurei sua mão, solidária, e vi um olhar de vergonha.

_ Gina, você não tem culpa. O Robson sabe?

_ Sabe. _ ela segurava forte a minha mão. _ Meu ex mora perto da minha casa e eu tenho medo de encontrar com ele. E se acontecer alguma coisa, eu não quero que o Robson se aborreça ou tome partido, sabe.

_ É claro que ele vai tomar partido! Ele é apaixonado por você, Gina!

_ Ele é, né? _ e vi a expressão sonhadora voltar ao seu olhar. _ Ele quer casar comigo.

_ Ele disse isso? _ gargalhei. Estávamos ali sentadas, trocando confidências como amigas de infância. Gina trabalhava há pouco tempo lá em casa mas parecia que nos conhecíamos desde sempre. São personalidades que se complementam, se unificam. Ficamos conversando por um tempo até meus pais acordarem e descerem, Gina pediu licença para voltar à cozinha. _ Dormiram bem?

_ Quem disse que dormimos? _ minha mãe sentava, altiva, vestindo seu penhoar branco com plumas nos punhos. Tão diferente do meu pai que usava apenas um pijama de calças e mangas compridas.

_ Ai, mãe... promíscua! Jezebel!

_ Como você acha que nasceu? Geração espontânea? Você foi concebida em dia de estreia, no camarim...

_ Mãe... por favor, eu acabei de tomar meu café... _gemi deitando minha cabeça entre os braços apoiados na mesa. Meu pai sorria afagando meus cabelos. _ Não quero saber da noite selvagem de vocês. Por favor...

_ Não sei quando você se tornou tão careta! _ olhei incrédula para minha mãe que descascava uma banana. Ah, merda... uma banana, não! _ Você precisa de um namorado. _ ela apontava um dedo na minha direção.

_ Ela não precisa de um namorado. _ meu pai saía em minha defesa.

_ E você, _ ela agora apontava para ele. _ precisa cortar o cordão umbilical. Essa menina já foi até pra Rússia. E você e Thomaz, ontem? _ agachei a cabeça mais um vez me recusando a responder. _Ok, entendi... Thomaz é um engomadinho. _ olhei rindo para minha mãe, junto com meu pai. _ E aquele filhote de deus grego? Ele ficou olhando pra você. Não me olha assim, Celso! O César não chega aos seus pés, meu galã... _ela soltava um beijo no ar para meu pai enquanto eu pensava em como responder aquela pergunta de maneira indiferente. Falar de Gustavo depois do que tinha acontecido ontem, depois daquele momento de intimidade, depois de ter gozado com as mãos dele em mim, era insuportável. Eu senti um formigamento na parte interna da coxa e já sabia que precisava trocar a calcinha.

Doce Vingança, livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora