A cidade estava morta.
Não era só a madrugada ou o silêncio sufocante — era a sensação de que tudo ali havia parado de respirar. Nem o vento ousava soprar. Apenas a névoa rastejava pelas ruas como um espírito inquieto.
Joong Matt mantinha o olhar fixo no asfalto à frente, os dedos apertando o banco do carro. Do lado do pai, Jhon dirigia com calma tensa, como quem conhecia o caminho da perdição e aceitava seu preço.
— Seja lá o que você vir essa noite… — disse Jhon, finalmente quebrando o silêncio. — Lembre-se que seu irmão precisa da gente. E você é o único que ele deixaria se aproximar.
Joong Matt assentiu, a garganta seca. Ainda que conhecesse o rosto de Fadel, jamais conseguira entender a alma dele. Uma sombra viva. Um espelho trincado.
O carro virou numa rua sem saída — exceto para os mortos.
A van branca do IML seguia em frente, serena em sua missão de carregar dois corpos que, para o mundo, já não importavam.
Jhon pisou fundo.
CRASH!
O carro preto atingiu a van com precisão milimétrica, direto na lateral. O impacto foi brutal, metálico, um rugido que rasgou a madrugada.
A van virou de lado, derrapando pelo asfalto. Os sacos mortuários rolaram dentro como peças soltas de um quebra-cabeça macabro.
Por segundos, só restou o silêncio.
Joong Matt saltou do carro com a respiração acelerada. O coração martelava em expectativa. Ele correu em direção à van, iluminada apenas pelos faróis do carro deles.
Quando abriu a porta traseira... o zíper de um dos sacos começou a se mover. De dentro para fora.
Os dedos ensanguentados surgiram primeiro. Depois, os olhos — vivos, insanos, desesperados. E então ele: Joong Fadel, ferido, sujo, o abdômen ainda sangrando, mas sorrindo como se tivesse acabado de voltar de um passeio.
— E aí, maninho… sentiu saudades? Ou tava esperando pra me trazer flores? — disse com a voz rouca, debochada, o sorriso frio e aberto no rosto cheio de sangue seco.
Joong Matt ficou paralisado. A boca entreaberta. O olhar fixo no irmão.
— C-como…?
Fadel riu baixinho e deu dois tapas no saco preto ainda fechado ao lado dele.
— Tudo pelo meu Oppa. — murmurou. — Esse aqui… esse era um problema. Agora é só mais um lixo. Me ajuda a sair daqui e vamos levar ele com a gente.
Sem nenhuma cerimônia, Fadel empurrou o saco com o corpo de Choi para fora como se fosse entulho. Joong Matt, ainda incrédulo, o pegou com brutalidade, arrastando-o até o porta-malas e o jogando lá dentro sem se importar com o baque surdo que ecoou na lataria.
Nada foi dito. Nada precisava ser.
O inferno havia aberto as portas, e Joong Fadel havia voltado — não pela própria vida, mas pela única coisa que lhe importava: seu Oppa.
Dentro do carro, o banco traseiro recebeu os dois irmãos. Um vivo e faminto por vingança. O outro, ainda em estado de choque, preso à presença impossível diante de si.
O carro arrancou sem fazer barulho, engolido pela neblina.
Atrás deles, a van do IML tombada parecia uma tumba esquecida.
Naquela madrugada, a morte foi enganada. E o mundo perdeu a chance de perceber... que nem todos os mortos querem descansar.
O carro cortava a madrugada como uma navalha. Lá fora, a névoa parecia querer engolir tudo. Lá dentro, o silêncio era pesado — denso como o sangue seco que ainda escorria do abdômen de Joong Fadel.
Sentado no banco de trás, ele observava o próprio reflexo no vidro da janela. Não via um sobrevivente. Via um monstro. Um monstro feito por amor.
— Ele gritava com meu Oppa — disse de repente, a voz baixa, arrastada, como quem fala pra si. — Todo santo dia. Chamava ele de inútil... de peso... dizia que ele tava estragando a própria vida.
Joong Matt desviou o olhar do retrovisor, tenso.
— Fadel...
— Eu vi tudo, maninho. Aquele desgraçado achava que podia gritar, empurrar, humilhar. — Os olhos de Fadel arderam. — E meu Oppa só abaixava a cabeça. Sabe por quê?
Joong não respondeu.
— Porque ele é bom demais. Porque ele ama de verdade. — Fadel riu, uma risada sem alegria, cheia de dor e raiva. — Mas ele não nasceu pra sofrer, Matt. Não o meu Oppa.
Fadel encostou a cabeça no vidro, o olhar perdido na escuridão que passava do lado de fora.
— Eu sabia que Choi era um câncer. Um verme arrogante, fraco, nojento. Ele achava que podia possuir meu Oppa. Que podia fazer ele se sentir menor... indigno de amor.
Fechou os olhos por um momento. E então, num sussurro quase terno:
— Então eu pulei. Pulei com ele. Foi fácil.
Joong Matt apertou o volante com mais força.
— Você podia ter morrido... — murmurou. — Você devia ter morrido.
Fadel sorriu, abrindo os olhos novamente.
— Eu? Não, maninho... Eu sou um Archen. E Archen não morre assim. A gente termina o que começa.
O silêncio voltou, mas era outro. Menos denso. Mais decidido.
Fadel virou-se para o pai, que dirigia à frente com os olhos fixos.
— Obrigado por vir, pai.
Jhon respondeu com um leve aceno, sem desviar o olhar da estrada.
— Não agradeça. Só me prometa que isso vai terminar... sem chamar atenção demais.
Fadel sorriu de novo. Um sorriso estranho. Gelado. Quase infantil.
— Claro. Vou ser discreto... — fez uma pausa, depois completou com suavidade aterradora: — Mas só depois de garantir que meu Oppa nunca mais vai chorar por alguém que não merece suas lágrimas.
Joong Matt olhou para trás, encarando o irmão, e pela primeira vez, viu algo mais assustador do que a queda...
... viu até onde alguém pode ir quando ama.
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Oops! I Knocked Up My Nerd
Fanfiction**Sinopse:** Joong, o popular e cruel estudante, sempre fez da vida de Dunk, o nerd tímido, um verdadeiro pesadelo. As provocações diárias e o bullying nunca abalaram Dunk, mas tudo muda quando seus pais - a mãe de Dunk e o pai de Joong - decidem co...
