⚠️Capítulo 27 - E Se Eu Tivesse Ficado?

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Joong estava ali, encostado na parede do corredor, meio mergulhado na sombra, meio tragado pela dor. Do outro lado, Dunk afundava no sofá como quem finalmente cede ao cansaço de existir. A cabeça tombada, os olhos semicerrados, a expressão... tranquila. Tranquila demais.

Joong odiava isso. Odiava aquele tipo de paz.
A paz que não vinha dele.

Fox apareceu como sempre aparecia: leve, sorrindo, carregando intimidade nas mãos. Sentou-se ao lado de Dunk com a confiança de quem já tinha lugar cativo ali. A mão dele foi parar nos cabelos bagunçados de Dunk, acariciando com afeto antigo, quase automático.

— Tá cansado, pequeno? — sussurrou ele, como quem cuida, como quem pertence.

Dunk soltou um sorriso fraco, honesto, se inclinando devagar até encostar no ombro de Fox.

— Bastante... — murmurou. — A semana foi puxada.

E então veio o beijo.
Um selinho na testa, simples, gentil.

E depois a frase que rasgou Joong de dentro pra fora:

— Dorme aqui. Eu fico te protegendo.

Dunk não resistiu.
Nem hesitou.
Apenas fechou os olhos... e se deixou embalar por aquele colo que parecia ter sido feito sob medida pra ele.

Joong sentiu o copo escorregar na mão.
Segurou com força, os dedos travados.
O whisky desceu de uma vez, queimando a garganta...

...mas não foi o suficiente pra apagar a imagem.
Nada seria.

Porque não era só um carinho.
Era um encaixe.
Um silêncio compartilhado.
Era Dunk deixando o corpo ir... confiando — não nele. Nunca nele.

Aquela cena grudou na mente de Joong como uma tatuagem mal feita, feia de se olhar, impossível de esquecer.

Mais tarde, depois de ter saído pra encher a cara, Joong cambaleava entre paredes e arrependimentos.
A porta se fechou atrás de si com um baque seco, abafado pela ressaca emocional que ardia muito antes do álcool.

O corredor parecia longo demais.
Cada passo era um tropeço.

Ele sentia o coração batendo no pescoço, nos ouvidos, no fundo da garganta.
Tudo latejava.
Tudo doía.
Mas ele precisava vê-lo.
Precisava ter certeza.

A porta do quarto de Dunk estava entreaberta, como se o destino quisesse machucá-lo de propósito.
Ele empurrou devagar...

...e quando o quarto revelou o que escondia... Joong estagnou.

Lá estava ele.
Dunk.
Deitado.
Pacífico.
Lindo.
Protegido.

Mas não estava sozinho.

Fox o abraçava por trás...
...a mão repousada na cintura com a aliança no dedo que gritava pra Joong "OTÁRIO"...
...os corpos colados como peças de um quebra-cabeça antigo que sempre se encaixaram.

A primeira reação foi o silêncio.
Um silêncio absoluto e apocalíptico, como se o universo tivesse prendido a respiração.

Depois veio o enjoo.
E o grito sufocado na garganta.

Os olhos de Joong ardiam.
O corpo inteiro reagia como se tivesse sido apunhalado.
A dor era tão violenta que o obrigou a recuar dois passos.

O whisky não anestesiava mais.
Só agravava. Só expunha. Só rasgava.

— Porra... — ele sussurrou, quase sem ar, a voz quebrada, infantil, patética.

Os punhos foram aos olhos como se pudessem apagar o que viu.
Como se esfregar com força fosse suficiente pra arrancar a imagem dos dois juntos daquela forma.

Ele girou no próprio eixo...
...quase tropeçando nos próprios pés...
...se segurando na parede como um inválido.

Como alguém que perdeu tudo.
Porque ele tinha perdido.

No quarto, Dunk se remexeu no sono, franzindo o cenho.
Um arrepio percorreu sua espinha.
Algo errado.
Algo fora do lugar.

Abriu os olhos lentamente, a respiração contida.
Só Fox ao seu lado. Dormindo.
A porta balançava levemente, como se o vento — ou um fantasma — tivesse passado por ali segundos antes.

Mas o pior ainda estava por vir.

Joong caiu na cama como um corpo morto, o rosto enterrado no travesseiro como se quisesse se afogar ali mesmo.
O gosto amargo na boca, o cheiro do álcool, a lembrança latejando no fundo da mente.

Ele gritou.
Gritou abafado.
Desesperado.
Quebrado.

— EU SOU UM IDIOTA!

Virou-se de costas, encarando o teto, as lágrimas escorrendo sem força...

...como se ele estivesse morrendo por dentro.

A garrafa vazia rolou no chão.
Ele fechou os olhos.

E as lembranças vieram como lâminas:
O tremor do corpo de Dunk quando o beijou pela primeira vez...
...o gosto doce misturado ao sal das lágrimas...
...a forma como Dunk sussurrava seu nome entre gemidos...

...como se estivesse entregando a alma.

Tudo isso...
agora era nada.

— Ele devia ser meu... — murmurou, como um pedido, uma reza, uma maldição.

Mas não era.
Porque ele teve medo.
Porque esperou demais.
Porque não foi suficiente.

E agora...
...agora Fox dormia com Dunk nos braços.

Do outro lado da parede, Dunk despertou de novo.
Um incômodo no peito.
Uma ansiedade sem nome.
Olhou ao redor, mas nada.
Só o silêncio.
Só Fox.
Só o escuro.

A porta ainda entreaberta.
Um aviso mudo de que algo esteve ali.
Ou alguém.

Joong sufocou o soluço.
Encolhido.
Miserável.
Sozinho.

Aquela era a pior parte.
Ele estava sozinho.
E tudo era culpa dele.

Oops! I Knocked Up My NerdWhere stories live. Discover now