Live And Let Die

Ela não roubou meu coração

Camila:

A semana tão aguardada de maio tinha enfim chegado. Dia dez, um sábado à noite não muito quente.

Eu estava em casa agora, numa luta para escolher alguma roupa legal para usar esta noite e parecer, ao menos, normal.

Estive no hospital hoje mais cedo, como de costume. Sofia já está bem de novo e, por incrível que pareça, melhor que antes. Minha pequena tem progredido mais a cada dia e sei disso porque Lauren está sempre me ligando para dar notícias... Falando na doutora deslumbre, nossas conversas se tornaram quase diárias, tanto no hospital quanto por telefone, o que fez com que nos conhecêssemos mais. Ficamos próximas nesse curto período de tempo e sei que é uma boa pessoa e se importa com Sofia. Hoje nós conversamos por alguns minutos e ela disse que passaria na minha casa às oito. Eu perguntei onde iriamos mas Lauren não quis dizer, alegando que seria uma surpresa. O que me resta é esperar.

Não sei o que usar, é como se todas as minhas roupas ficassem péssimas em mim. Será que ela adivinharia que eu não soube o que vestir? Eu só estou com medo do que Lauren vai pensar. Espero que goste desse meu cabelo estúpido. Eu vestia uma camiseta azul de botões e calça jeans preta. Simplesmente não consigo ser mais que isso. Sei que qualquer coisa seria bem melhor do que o All Star que estou usando nos pés, mas sou isso... não posso fingir ser outra pessoa só por estar com Lauren. Apenas espero que ela não esteja parecendo uma rainha vestida para um baile de gala.

Meu reflexo no espelho não era a coisa mais desagradável do mundo. Minha maquiagem quase inexistente até que me agradou. Eu iria assim mesmo e pronto. Perfumei o pulso e não demorou para o interfone tocar dizendo que tinha alguém à minha espera no hall do prédio. Disse tchau aos meus pais e fiz com que prometessem me ligar caso Sofi sentisse algo. Desci. Parece que o elevador levou dez horas para chegar... Lá estava Lauren, a doutora deslumbre. Vestida tão belamente com uma calça clara e justa, sua jaqueta de couro preta e camiseta de banda. Simples (por sorte), do jeito que mais chama a minha atenção. Caminhei até ela e seu sorriso parecia brilhar no destaque vermelho. Seus tão lindos olhos verdes contornados de preto. A mulher. Ela me abraçou e perguntou se eu estava bem, precisei mentir dizendo que estava mas, na verdade, com ela ao meu lado eu não estava totalmente bem, mesmo que sejamos mais próximas agora.

- Pensei que iria demorar para encontrar seu endereço. - Disse ela.

- Eu tinha dito que era perto do hospital. Sem erro. - Falei.

- Bom você não ter se produzido tanto, vamos a um lugar meio simples...

- Fiquei com medo de te encontrar toda arrumada e eu neste estado. - Ela riu das minhas palavras. Caminhamos até seu carro num silencio estranho.

Então Lauren me surpreendeu quando entrou na minha frente e abriu a porta do carro para eu entrar. Fiquei sem jeito.

- Isso fez com que eu me sentisse uma dama! Obrigada. - Falei.

- Ah... - Ela esperou eu sentar no banco. - É que a maçaneta está quebrada, na verdade. Aí eu tenho de abrir. - Então fechou a porta e eu fiquei com uma bela cara de idiota. - Precisa usar um pouco de força, sabe? Eu preciso mandar alguém arrumar. - Disse quando entrou no carro.

- Aham...

- Mas é claro que isso não quer dizer você não seja uma dama.

Eu não soube o que dizer, apenas assenti com um sorriso. Ela foi ingênua quando disse que a porta só estava quebrada, isso foi fofo, apesar de que me deixou totalmente encabulada... Lauren ligou o carro e o rádio, estava numa estação que eu não conheço e tocava uma música meio antiga e estranha de rock. Poucas palavras. O som presente era o movimento da rua e o rádio. Assim ficou por alguns minutos, então Lauren começou a cantar, tão baixo que eu mal consegui ouvir. Olhei para ela com um sorriso de leve, admirando-a diretamente, tão linda. Seus dedos batiam no volante no mesmo ritmo da música. Sua voz ficou um pouco mais alta, ela estava se empolgando ao cantar.