Nova amiga

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Camila:

Me sentei cansada no banco vermelho da lanchonete e deixei meus braços apoiados no balcão de madeira. Meu corpo pedia por descanso, hoje o meu dia foi bastante corrido... talvez só pelo fato de que eu não trabalhava há alguns meses ou porque não consegui dormir direito na noite passada.

Uma música tocava bem lá no fundo, melodia calma que só fez meu sono aumentar. Senti o peso nos olhos, parece que faz dias que eu não durmo! Mas então, uma voz feminina me despertou. Olhei para a pessoa do lado de dentro do balcão, ela sorria.

- Hm... desculpa, eu... - Disse meio embargada.

- Tudo bem, eu só vim anotar o seu pedido. - A garota brincava com a caneta entre os dedos, com um leve sorriso no rosto.

- Um suco de abacaxi, por favor.

- ...Eu te aconselharia um café. - Ela disse. Acompanhei sua risada depois de entender seu ponto de vista; eu deveria estar com cara de morta. Quando ia sair:

- Pensando bem, eu vou querer os dois. - Assentiu e se foi. E novamente sozinha, eu passei a refletir sobre tipos de pessoas que tomam café e suco de abacaxi ao mesmo tempo.

Voltou em poucos minutos e entregou os pedidos, olhei ambos pensando em quão ruim dever ser o gosto dessas duas bebidas que não tem nada a ver juntas, eu devo estar louca. Escolhi tomar o café primeiro. [...] Notei que as músicas estavam mudando uma a uma, a garçonete me fitou e perguntou:

- Você gosta dessa? - Se referiu à canção. - É de uma banda bem legal que eu gosto, só não é muito conhecida.

- Mas eu conheço, amo essa banda. Se chamaHe is We, não é?

- É essa mesma! - Ela sorriu. - Sabe quão difícil é encontrar alguém que conhece essa joça de banda?! ...Desculpe minha falta de modos, meu nome é Dinah Jane. - Estendeu sua mão em minha direção e eu apertei, Dinah Jane parece ser legal.

- Karla Camila, mas só Camila está bom.

E então, aproveitando a falta de clientes da lanchonete, Dinah se sentou e começou a conversar comigo. Seus assuntos me tiraram o sono, o que foi ótimo. Ela é legal, engraçada e simples; eu gosto de coisas simples. Nossa conversa durou bons minutos, o que começou com o tema "He is We", terminou com "Os médicos do hospital costumam vir aqui sempre." (essas foram palavras da própria Dinah Jane). Eu, apenas um pouquinho curiosa, perguntei sobre:

- E você tem amizade com algum médico?

- Basicamente, todos eles. Sempre estão aqui depois do plantão e tal, sabe? Comem aqui porque dizem que a comida do hospital é péssima. - Falou - Durante o passar do dia, vem pelo menos vinte e cinco pessoas que trabalham no hospital para cá, eles chamam de "O lugar onde os médicos não são médicos". - Sorriu.

- Eles meio que ficam aqui para descansar?

- Isso. Principalmente nas noites de quarta, sexta e sábado, isso aqui lota porque é aberto para quem quiser cantar ao vivo... Você poderia vir para cá qualquer noite dessas, é legal.

- Me parece ótimo! - Afirmei. Eu gosto de música, amo ouvir alguém cantando, então esse convite me atraiu - Com certeza eu passo aqui numa noite dessas!

- Vou te esperar... e você pode cantar também, é muito bom! Eu canto sempre que posso!

- Então eu só vou vir para ouvir você, não me dou muito bem com o público, sabe? - Ela assentiu. - Você canta bem?

- Bom, dizem que sim... mas de todas as pessoas que cantam aqui, a dona da melhor voz se chama Ally Brooke, ela trabalha aí no hospital, você a conhece? - Perguntou.

- De vista, talvez. Faz menos de uma semana que eu estou em Miami, então não conheço quase ninguém... mas diga-me, como ela é?

- Ally é um amor de pessoa! O que não tem de tamanho, tem de coração, você iria amar. Ela é endocrinologista e namora com o Troy, um dos anestesistas.

- Eu conheço o Troy! - Afirmei.

- Então... eles namoram. Além disso, a Ally divide um apartamento com uma outra médica, doutora Lauren Jauregui, conhece esta? - Depois de ouvir esse nome, eu até tentei segurar o sorriso bobo que insistiu em aparecer no meu rosto, mas sem sucesso. Quando dei por mim, já havia perguntado sobre a doutora deslumbre: - A Lauren é legal depois de um certo tempo... ela é meio arrogante as vezes, acho que não gosta muito de piadas ou coisas do tipo, mas parece ser uma boa pessoa. Nunca fui de falar muito com ela, pois confesso que seu olhar me da medo. Só que quem a conhece, gosta.

- Arrogante? Ela não é assim no hospital. Tem um olhar intimidados, mas não foi arrogante.

- Eu não sei como são no hospital, mas acredito que por aqui são mais reais. - Disse ao se levantar para atender um cliente que acabara de chegar.- Volto já, espere um momento.

Enquanto minha mais nova amiga não chegava, a única que ficou no meu pensamento foi exatamente ela, a oncologista que julgo ser a mais bela de todas. Mais uma vez nesse mesmo dia eu me recordei dos seus olhos verdes e de sua voz melódica. Sua pele tão clara e seus cabelos escuros que ainda não tive a sorte de ver soltos, mas que tenho a pura certeza de que são lindos. Até mesmo a lembrança do som de seu salto batendo no chão é música para os meus ouvidos. Ok, estou parecendo um babaca enfeitiçada. [...] Enquanto as palavras das pessoas eram ditas no ar, meu mundo parecia parado, preso dentro de uma bolha que... infelizmente ou felizmente , foi estourada quando Dinah Jane chamou meu nome:

- Hey! Terra chamando! - Ela brincou. Voltei ao sentido e fitei qualquer coisa em cima do balcão, minha amiga continuou: - Então, Mila... posso te chamar assim?

- Claro. Mila é legal.

- Mila. Gostei muito de te conhecer, espero te ver mais vezes por aqui. De verdade.

- Também gostei, Dinah... e pode ficar tranquila, essa está bem longe de ser a primeira vez que você me vê. - Falei e vi seu sorriso retribuir o meu. - Mas eu preciso ir agora, está ficando tarde e eu estou morta de cansaço. Preciso da minha cama imediatamente!

- Está bem, Mila... então, até mais. - Balançou seus dedos no ar.

- Até.

. . .

A água fria do chuveiro refrescava meu corpo do calor de Miami. Tudo que eu ouvia era o som ecoado da música tocando no celular e da água caindo. Ninguém estava em casa além de mim, meus pais me deixaram um recado dizendo que estavam no supermercado e que logo estariam de volta.

Me deitei no sofá depois do banho, apreciando o silêncio. Tudo calmo como eu gosto, mas não é bem assim que eu queria que fosse; eu sabia que era para ter uma pequena garotinha ali comigo, correndo pela casa e brincando. Queria ouvir a voz de Sofi.

Me vieram à mente algumas recordações de uns anos atrás: Estava a grama verde e viva em baixo de mim, os sons de risadas e pássaros cantando se misturavam no ar. As nuvens bailavam no céu azul turquesa e as pétalas tão pequenas e amarelas das flores da árvore caíam sobre nós; papai, mamãe, Sofia e eu, todos juntos no parque aproveitando o sábado quente no verão de Geórgia.

Eu me lembrei das melhores estações. Dos maiores sorrisos. Dos inesquecíveis momentos que já tivemos (refiro-me à família). Hoje é vago em minha memória... fechei os olhos pesados de nostalgia e deixei que o sono me levasse até os sonhos, que é onde eu costumo encontrar um pouco de paz.

Live And Let DieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora