Live And Let Die

Encanto

Camila:

Acordei às sete da manhã, mas desta vez foi pelo som ensurdecedor e irritante do relógio, ontem mesmo eu estava sendo acordada por Sofia... Me levantei cansada porque essa noite não foi muito bem dormida, eu devo estar ansiosa demais já que hoje é meu primeiro dia de trabalho. Vendas, é isso que vou fazer de agora em diante... ou apenas voltar a fazer, já que tenho experiência neste ramo há um tempo. Tomei um banho morno e rápido, depois aproveitei o café da manhã sozinha porque meus pais ainda estavam dormindo.

Vou trabalhar na loja de móveis dos primos da minha mãe, que são meus primos também, mas prefiro chama-los de tios por costume. O lugar não é tão longe, fica depois do hospital. Vou precisar pegar apenas um ônibus para chegar lá. Acredito que hoje eu só vou aprender um pouco sobre as regras e derivados do meu novo trabalho, também decorar as tabelas de preços, conhecer os estoques e tudo mais. E claro; conhecer um pouco melhor meus primos e tios que só tive contato algumas vezes na vida.

Saí de casa adiantada, não quero chegar atrasada justo no primeiro dia. Caminhei até o ponto de ônibus e me sentei em um dos bancos, tinha uma mulher ao meu lado. [...] Estava meio distanciada em pensamentos, olhando para o nada quando lembrei de algo. Ou melhor: alguém. Na minha cabeça veio aqueles verdes que me prendera, a boca vermelha e bem desenhada, me recordei da leve rouquidão de sua voz. Doutora Lauren Jauregui vagava na minha mente, assim como ontem. Estou intensamente encantada com tanta beleza. Não estou pensando em paixãozinha boba à primeira vista, bem longe disso... apenas me sinto num sentido ébrio da parte. Ela é simplesmente a mulher mais linda que já vi! Estava eu, talvez um pouco presa a isso, tanto que quase perdi o ônibus. Só não perdi por que a mulher ao meu lado se levantou de repente e me despertou do transe.

. . .

Cheguei ao meu destino. Uma grande loja com entrada de vidro e letreiro prateado escrito "Design FLO". Tinha um rapaz alto e forte parado na frente que sorriu quando me viu, o reconheci, era um dos meus primos, só que bem mais velho do que na última vez que o vi.

- Karla! - Disse ele. - Uau! Você está tão mudada! - Me recebeu com um abraço apertado e bom, tínhamos uma ligação quando crianças e, mesmo que o tempo tenha passado, ainda o considero bastante.

- Digo o mesmo, Tyler!

- Na última vez que te vi, você tinha uns doze anos...

- E agora eu tenho vinte e três.

- Eu também! - Ele sorriu. Lembro-me muito bem das nossas brincadeiras, nas poucas vezes que nos encontramos. Tyler sempre foi bonito e continua sendo; Cabelos castanhos, olhos mel e pele bronzeada... e o sorriso perfeito. - Vamos entrar, meus pais estão te esperando!

Fui muito bem recebida no meu novo ambiente de trabalho. Meus tios são simpáticos e meus primos, Tyler e Carly, também. Me explicaram tudo sobre a loja, como tratar os clientes (como se eu já não soubesse fazer isso) e coisa e tal, até atendi algumas pessoas. Meus horários são dás oito às quatorze horas, achei ótimo já que terei o resto da tarde livre para ver Sofi.

O tempo passou depressa. Conversamos todos juntos na hora do almoço:

- Então, Karla... Camila... - Disse Fernando, meu tio. - Você prefere qual dos dois nomes?

- Qualquer um dos dois está bem, tio.

- Karla, é mais bonito! - Sorriu. - Nos conte mais sobre Sofia e seus pais.

Me remexi na cadeira e soltei o ar. Não era bem um problema falar sobre Sofi, porém as pessoas costumam chorar quando eu conto, e eu ainda não aprendi a lidar com isso, com tudo, eu me preparei para falar: