33 - Ora caça Ora Caçador

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Deito-me completamente em devaneio da vida, mergulhando nas profundezas obscuras dos meus pensamentos mais íntimos. A morte súbita paira sobre mim como uma sombra fugaz, um lembrete constante da efemeridade da existência. Mas, estranhamente, não encontro temor nesse encontro inevitável com o desconhecido.

Imerso nesse labirinto de reflexões, vejo-me envolto por um último abraço, onde os braços da morte se entrelaçam aos meus. É uma dança macabra, uma sinfonia de despedida em que me permito afundar, entregando-me à volúpia nervosa desse momento derradeiro.

Estranhamente, sinto-me grato por essa experiência lasciva, como se a própria morte fosse uma amante ardente que me convida para um último enlace antes da partida final. Não há arrependimentos, apenas uma aceitação serena do ciclo da vida e da morte, entrelaçados em uma dança eterna de dualidade.

Nesse devaneio profundo, encontro paz na aceitação do inevitável, na dança fugaz entre o efêmero e o eterno. É um momento de transcendência, onde a morte não é um fim, mas sim um novo começo, uma porta para o desconhecido que aguarda além do véu da existência.

Seguro a bússola de madeira firmemente em minhas mãos, deixando meus olhos percorrerem cada detalhe minuciosamente. A textura áspera da madeira sob meus dedos, os delicados entalhes que adornam sua superfície... Cada elemento parece ganhar vida sob minha observação concentrada.

De repente, uma ideia surge em minha mente, como uma chama acesa em meio à escuridão. Lembro-me vividamente das palavras de Clara, ecoando em minha mente: "A bússola mostra o seu maior desejo". E meu maior desejo é claro: encontrar e fazer justiça ao maldito responsável por todo este caos.

Sem hesitar, abro o objeto e permito que o ponteiro comece a girar, como se tivesse sua própria vontade, como se fosse guiado por uma força invisível. Ele percorre um ciclo, apontando para o sul e depois para o leste, repetindo o processo duas vezes mais, indicando o norte e o oeste. Cada movimento parece carregar um significado oculto, uma mensagem codificada do destino.

Quando o ponteiro finalmente parece prestes a parar, uma voz irrompe no silêncio do quarto, vinda da porta. Meu coração dispara de pânico, e num instante de reflexo rápido, escondo a bússola, como se fosse um segredo precioso que não posso permitir que seja descoberto.

O suspense paira no ar, enquanto aguardo, com o coração martelando no peito, para descobrir quem está do outro lado da porta e o que eles desejam. A bússola permanece segura em minhas mãos, um guia incerto em minha jornada de vingança e redenção.

- Entra! Eu disse e esperava não ser uma visita desagradável.

A porta do quarto rangeu suavemente ao se abrir, interrompendo o silêncio que reinava no ambiente. Num instante, Vitória entrou, movendo-se com uma calma que contrastava com a tensão que parecia emanar dela. Seu semblante, apesar de sereno, era marcado por uma tristeza profunda, e seus olhos, espelhos de sua alma atormentada, revelavam a dor e o arrependimento que ela carregava consigo.

Sem dizer uma palavra, convidei-a com um gesto para se sentar ao meu lado na cama. Seu olhar encontrou o meu, e eu lhe ofereci um breve sorriso, tentando transmitir conforto em meio à tempestade emocional que sabia que ela estava enfrentando. Vitória correspondeu ao gesto com um abraço firme, como se estivesse se agarrando a mim em busca de apoio, e então as lágrimas começaram a escorrer.

Eu senti o tremor de seu corpo enquanto ela se entregava ao choro, liberando toda a angústia e tristeza que havia guardado desde a morte de Kurt. Cada lágrima era uma expressão da dor que ela havia suportado em silêncio, um testemunho silencioso da profundidade de seu sofrimento.

Naquele momento, enquanto eu a abraçava e a consolava da melhor maneira que podia, eu percebi o quanto ela havia guardado essas lágrimas, o quanto ela havia resistido até aquele momento para finalmente se permitir ser vulnerável. E ali, naquele instante de conexão genuína, prometi a mim mesmo que estaria ao lado dela, para ajudá-la a enfrentar a dor e encontrar um caminho para a cura.

RenegadaWhere stories live. Discover now