26 - Verdades Sejam Ditas Parte 2

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Eu estava no banco do passageiro quando Heitor estacionou o carro a poucos metros do bar, em uma sexta-feira à meia-noite. A cidade estava animada, as ruas fervilhavam de pessoas, mas havia uma tensão no ar que tornava a atmosfera quase tortuosa. O bar em si poderia ser considerado um lugar belo, com sua fachada iluminada e o burburinho de vozes que se misturavam à música alta. No entanto, a beleza superficial escondia um lado sombrio, repleto de atividades ilícitas.

Dentro daquele estabelecimento, ocorriam crimes que seriam motivo de escândalo em qualquer cidade minimamente funcional. Mas aqui, parecia que tudo tinha um preço, inclusive a justiça. Eu sempre soube que em nossa cidade, dinheiro e influência compravam mais do que bens de luxo; compravam silêncio e impunidade. As autoridades, que deveriam proteger e servir, muitas vezes escolhiam fechar os olhos. Se você tinha status, jamais seria preso ou sequer acusado.

Sentado ao lado de Heitor, observando o vai e vem diante do bar, eu refletia sobre tudo isso. Eu sabia que não era apenas um desabafo silencioso de quem se cansou de ver o errado prevalecer. Era um chamado para ação. Havia decidido, com uma determinação fria e implacável, que iríamos derrubar esse sistema corrompido, peça por peça. Nosso objetivo era claro: chegar ao topo, ao "Rei", aquele que, de seu trono invisível, controlava os fios da impunidade na cidade.

Heitor e nossos amigos compartilhávamos essa missão. Não seríamos mais espectadores passivos. A luta seria longa e perigosa, mas necessária. Aquele bar, com seus segredos e suas sombras, era apenas o começo.

- Sejam discretos, não arrumem confusão não digam seus nomes verdadeiros nem de onde são, Kurt é a hora de você ficar é...- Heitor nos avisou tópicos importantes.

- Eu entendi oque quis dizer, pode deixar. 

Eu estava observando  Kurt quando ele ativou seu disfarce. Como sempre, o processo era instantâneo e surpreendente. Em um momento, ele era apenas Kurt, com suas feições normais e inconfundíveis, e no seguinte, transformava-se completamente em alguém diferente. O disfarce que ele escolheu dessa vez era de um homem branco, loiro e de olhos claros. Observar essa metamorfose nunca deixava de me impressionar, mesmo já tendo visto ele mudar várias vezes antes.

Cada detalhe da nova aparência era meticulosamente ajustado. Seu cabelo escuro se desvanecia, dando lugar a fios loiros que caíam perfeitamente em torno de seu rosto. Sua pele mudava de tom, adquirindo uma palidez que contrastava fortemente com sua cor original. Os olhos, antes castanhos, agora eram de um azul vívido, quase penetrante. Ele até parecia mais alto, de alguma forma, ou talvez fosse apenas a postura que mudava com o disfarce, tornando-o mais imponente.

Eu sabia que por trás dessa transformação havia uma algum tipo de habilidade sobrenatural que eu ainda não conseguia compreender completamente. Kurt nunca entrava em detalhes sobre como funcionava; ele apenas se transformava, conforme a necessidade surgia. E a cada vez, mesmo esperando e sabendo o que viria, eu me pegava paralisado por um breve segundo, fascinado pela fluidez e pela rapidez da mudança.

Ali, parada ao lado dele, enquanto Kurt ajustava o colarinho de sua camisa branca e verificava sua aparência no espelho, eu refletia sobre quantas identidades ele já havia assumido e quantas ainda viriam. Cada disfarce era uma nova história, um novo capítulo. E, apesar da familiaridade com o processo, a sensação de novidade e surpresa nunca desaparecia completamente.

Após a reunião em que ficou clara nossa missão, eu estava abalada. O nome Harrison Clarke ecoava em minha mente, trazendo consigo uma onda de calafrios e ansiedade. A ideia de cruzar com ele novamente, especialmente se estivesse assediando outra garota, me enchia de um fervor perigoso; eu sabia que poderia perder o controle e comprometer tudo. Eu tentava afastar esses pensamentos perturbadores quando a porta do carro se abriu. Saí do veículo com uma rapidez que surpreendia até a mim mesma, movida por um ímpeto ágil e determinado.

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