27 - O Jogo Começou

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- Se eu soubesse que era uma garota da noite, eu não tinha ficado tão arrasado assim desde aquela noite.

Maldito! Ao ouvir suas palavras, senti um nojo profundo e uma raiva ardente me consumir por dentro. Ele estava sendo ainda mais repulsivo agora, destilando mentiras com uma facilidade que só confirmava o quão abominável ele era. Não havia dúvida em minha mente: aquilo era uma mentira, pois conheço bem a natureza dele, e nada irá mudá-la.

Enquanto ele continuava falando, um medo frio começou a se instalar em meu estômago, temendo o que ele poderia fazer comigo. No entanto, forcei-me a focar, a pensar claramente sobre o que fazer e como agir. Minha intuição gritava, alertando-me de que ele tentaria algo, e eu precisava estar pronta.

Sem desviar muito os olhos dele, permiti que meu olhar percorresse discretamente o ambiente, até que notei um pequeno armário de uma porta, todo revestido em madeira, com uma gaveta na parte inferior. Sobre ele, um abajur que imediatamente registrei como um potencial objeto de defesa. Calculei mentalmente que, se necessário, poderia agarrar o abajur e usá-lo para me defender, quebrando-o na cabeça dele se ele tentasse algo.

Enquanto ele continuava a falar, movi meus dedos quase imperceptivelmente, deixando-os repousar sobre a mesa. Mantive-os bem parados, prontos para agir ao menor sinal de perigo. Cada fibra do meu ser estava alerta, preparada para a possibilidade de precisar defender minha integridade a qualquer momento. Era um jogo de paciência e estratégia, e eu estava determinada a não ser uma vítima das circunstâncias.

Encarando-o diretamente nos olhos, senti um turbilhão de emoções fervendo dentro de mim. Minha voz, no entanto, manteve-se firme e clara, refletindo toda a determinação que eu sentia. 

- Sabemos o quão monstro você é e que nunca vai se arrepender de nada do que fez.

 comecei, cada palavra carregada com a gravidade da verdade. "Por isso estamos investigando você. Você é a primeira peça desse jogo."

Fiz uma pausa, deixando que o peso das minhas palavras se assentasse no ar entre nós. Podia ver em seus olhos um vislumbre de surpresa, talvez até um leve tremor de medo, o que me deu uma satisfação fria. Era crucial manter o controle da situação, demonstrar que estávamos no comando.

Então, inclinei-me ligeiramente para frente, intensificando minha presença e firmando meu olhar ainda mais diretamente nos dele. 

- Então, diga o que sabe.

exigi, não apenas como um pedido, mas como um ultimato. Era essencial deixar claro que não havia espaço para negociações ou meias-verdades. Estávamos ali para desmontar cada mentira, cada ato corrupto, peça por peça, e ele era o ponto de partida. Estava pronto para enfrentar o que viesse a seguir, armado com a verdade e a justiça como meus escudos.

Ele pegou um charuto do bolso do paletó e, com uma tranquilidade que parecia desdenhar do momento tenso, depositou-o entre os lábios. Então, acendeu-o com um isqueiro que reluzia à luz tênue do quarto. Enquanto o charuto começava a queimar, uma nuvem de fumaça densa e de cheiro forte começou a se espalhar pelo ar, impregnando cada canto do espaço.

O odor do tabaco era tão intenso que rapidamente começou a fazer meu nariz arder. Tentei disfarçar minha irritação, mas era difícil ignorar o incômodo que a fumaça causava. Enquanto ele tragava o charuto calmamente, me amaldiçoei mentalmente por ter entrado naquele quarto sozinha. Não sei por que não percebi antes, mas naquele momento, senti a ausência dos meus amigos, que deveriam estar ali comigo, fornecendo o apoio moral e físico necessário para enfrentar a situação.

A cada tragada que ele dava, cada vez mais me ressentia de minha imprudência. "Por que eles não vieram atrás de mim?", perguntava-me internamente, sentindo uma mistura de preocupação e abandono. Agora, lá estava eu, sozinho na presença de alguém claramente indiferente à minha causa, tendo que lidar com não apenas a discussão eminente, mas também com a atmosfera sufocante criada pela fumaça do charuto.

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