Capítulo 31

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Capítulo 31 - Luara

Digão: Eu disse que tu precisa? — segurou meu queixo e nem o ódio que eu tô sentindo é capaz de amenizar o que ele me causa — faço só o que eu quero. Quero te dar muito mais do que o que tu precisa, suprir suas necessidades é pouco pra mim, isso aí tu arruma qualquer fudido na rua pra fazer. Mas o que eu ofereço pra você, preta, só eu posso fazer. Não quer me dizer o que ela te disse, tudo bem, eu vou respeitar, mas te garanto que até o final do dia eu vou saber exatamente as palavras que ela usou.

Vejo sinceridade em tudo o que ele diz e no fundo sei que é  verdade, mas essas palavras me atingem em um lugar onde não sou capaz de lidar agora. É profundo e eu não tô pronta pra profundidade.

Luara: Você pode correr atrás de saber o que você quiser por meios próprios — digo olhando nos olhos dele e com meu coração batendo forte — Mas não fica esperando eu correr pra te contar as coisas e nem pedir pra você resolver, eu mesma lido com os meus problemas. Tenho só dezoito anos, mas já vivi muita coisa na minha vida...

Digão: Eu nunca duvidei disso...

Luara: Não tô dizendo que você duvida, só tô te mostrando que essa imagem que você tem de mim, de garotinha indefesa, não existe — ele me olha daquele jeito que me desconcerta, mesmo que eu esteja puta com ele — Posso ser imatura pra muitas coisas ainda, mas você nunca vai me ver chorando pelos cantos, independente de qual seja a putaria que a vida tenha aprontado comigo. Eu tô acostumada com a porrada já.

Digão: Tem muita coisa que eu posso aliviar pra você  — coloca a outra mão no meu rosto e as duas palmas tocam minhas bochechas — To ligado que tu é mais mulher que muita mina da minha idade e mesmo assim tá tudo bem desmoronar às vezes.

Luara: Não tá não — sou sincera olhando pra ele — Se eu desmoronar, se você desistir, quem vai me erguer depois?

Eu sei que a minha pergunta fica ecoando na cabeça dele. Ecoa na minha também. O tempo todo. Não é que eu seja realmente sozinha, mas não tenho mais um amor incondicional para me sustentar. Era assim com a minha mãe, eu não tinha medo antes, porque sabia que ela estaria ali, independentemente de quão grandiosa fosse a merda em que eu estivesse metida.

Agora, todas as relações que sobraram, pra mim, parecem tão superficiais que nem mais cogito depositar essa confiança. Tenho o João e a Luiza, são amigos muito especiais, mas cada um tem seus próprios problemas... Não quero que ninguém pare a vida pra me socorrer.

E também não espero que ele seja essa pessoa, não vou me entregar fácil porque eu sei que esse cara tem potencial pra me deixar na merda.

Luara: Quem te suportou quando você desmoronou? Ou você teve que se reerguer sozinho? — sigo em frente quando o silêncio dele  diz tudo — Enfim, posso ir pra casa ou você tem mais alguma coisa pra resolver comigo?

Ele olha em um olho meu de cada vez e estala a língua, levando as mãos pro próprio cavanhaque.

Digão: Vou falar pro picolé te levar  — cruza os braços e contrai o maxilar.

Luara: Não precisa, quero ir a pé.

Não tô me importando se ele tá puto ou tá com nó na mente de tanta informação, eu já tenho um monte de sentimento pra lidar, não vou tentar contornar os dele. Não é nem por egoísmos, é mecanismo de defesa mesmo.

Saio da sala sem olhar pra lado nenhum porque tudo o que me falta é dar de cara com mais alguém indesejável na minha frente. O caminho até a minha casa é quase um vulto, só quero tomar um banho e ficar na minha.

Quando subo a escadaria, chegando em casa, a imagem do meu amigo me esperando quebra o meu coração. Ele mexe no piercing da sobrancelha e cruza os braços, liberando a passagem da minha porta.

O João é a última pessoa que eu poderia magoar.
Tiro a chave do bolso e encaixo na fechadura, abrindo a porta, e faço sinal pra ele entrar.

Luara: Como tá sua vó?

João Pedro: Nem vem com histórinha, sua sonsa — gesticula, batendo a porta — Eu sou o que? Um corno né? Vou passar um final de semana com a velha e quando eu volto, a sua vida tá de cabeça pra baixo. Que isso, um filme?

Luara: Amigo, eu acabei de quebrar a Gabrielly na porrada — mostro minha mão pra ele — olha isso, tô tremendo de ódio, cara.

Parece que a adrenalina tá abaixando e eu tô tendo real dimensão do que eu fiz.

João Pedro: Eu já sei, Luara! E não é porque você me contou, é porque tá na página de fofoca do morro pra todo mundo ver! — fala puto comigo, mas sem perder o jeitinho dele — Tá certo isso? Tá certo, sua cachorra? Falsa!

Luara: Não foi falsidade! — me defendo — Eu nem sei como vim parar aqui! Foi do nada!

João Pedro: Foi do nada, sim! Você tropeçou e ops... Caiu sentada no pau do dono do morro! Tropeçou de novo e uma CADEIRA voou na cara da Gabrielly — ele encena as frases.

Luara: Eu sei que tô errada... Eu não queria mentir pra você, sabe que eu não gosto disso, mas eu não podia contar, amigo... Tem muita coisa envolvida.

João Pedro: E pode contar agora?

Luara: Agora eu quero que se foda — dou de ombros

João Pedro: Eu perdoo fácil, Luara. Meu mal é esse... — deita no sofá e me olha de rabo de olho — É você me contar tudo com detalhes e me dizer se as fofocas sobre o pau dele são verdadeiras... e pronto, esqueci que tu é uma falsa.

Luara: Não vou te falar do pau dele — grito.

João Pedro: Vai sim ou eu vou embora e nunca mais olho na sua cara!

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notas da autora:
feliz dia das mães, nosso alicerce 🥹🫶🏼

Ligações de Alma [M]Where stories live. Discover now