Capítulo 22

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Capítulo 22 - Luara

"Vai no baile hoje?" digito mensagem pro João e mudo de aba pra olhar o saldo do meu banco.

Vou juntar boa parte da graninha que tô ganhando na padaria pra comprar um notebook e começar uma faculdade on-line.

Vai demorar um pouco, mas já defini essa como a minha primeira meta de mulher trabalhadora.

Mensagem de Voz de JP: Vou nada, bicha. Te falei ontem, tô indo pra casa da minha tia em Paciência. Vou passar o final de semana lá porque é aniversário da minha vó e vai ter comes e bebes. Queria ir? não, porque aquele marido da minha tia é um homofóbico fudido. MAS eu vou é pela comida. E pela minha vozinha — ouço o áudio e sorrio com o jeitinho dele de falar.

Eu amo que João não tem máscara nenhuma. Isso não é só comigo, é com todo mundo. Ele simplesmente não tem medo de ser quem é.

Isso só me deixa mais culpada porque tudo o que envolve o Digão eu escondi dele. Não me orgulho, muito pelo contrário, me envergonho.

Mas no começo, era só trabalho e essa parte tava terminantemente proibida de sair da minha boca. Depois que virou algo a mais, como eu ia contar pro João sem explicar sobre ele tá me pagando por um serviço ou outro que me mandava fazer?

Entre mentir e ficar quieta, eu preferi deixar quieto, mas que me arrependo é verdade pra caralho também. Ele vai esfregar a minha cara no asfalto quando souber.

Mensagem de Luara: Tudo bem, amigo. Amo você

Penso em mandar mensagem pra Luiza, pra saber se ela vai, mas eu soube que TH tá envolvido em algum serviço pro Digão. Então ela deve ficar off esse final de semana.

Bufo. Muito ruim ficar sozinha.

Eu já era pra tá acostumada, mas não consigo gostar de ser solitária não.

Mensagem de Digão: Fica pronta 23h — leio a mensagem, que chega assim que eu respondo o João.

Mensagem de Luara: não vou

Mensagem de Digão: Já mandei avisar que hoje não vai ter camarote pra ninguém, vai ficar vazio só pra você
Mensagem de Voz de Digão: Vamo curtir nós dois juntos, pretinha. Faz jogo duro não.

A última parte da mensagem ser em áudio é pra quebrar minhas duas pernas. 

Mensagem de Luara: vou pensar

Mensagem de Digão: 23h vou mandar alguém te buscar.

Decido descer a favela até a lojinha que tem mais perto da minha casa pra comprar uma roupa, aproveito e pego umas coisinhas de maquiagem. Tudo baratinho que tem por lá.

Minha mente tá dividida entre querer ir nesse baile com ele ou não.

Desde pequena eu ouço muita coisa ruim sobre se envolver com caras tipo ele. Sobre privação de liberdade, violência, relacionamento abusivo e sobre ser alvo. Por melhor que o cara seja, estar envolvida com ele sempre coloca um alvo na sua cabeça.

Depois do Ney ficar em cima de mim mesmo com mulher em casa, eu não duvido de nada do que me falaram.

Mas, por outro lado, ultimamente tudo o que eu mais sinto é uma necessidade maluca de me sentir viva. E, porra, as sensações que ele me causa fazem eu sentir cada célula do meu corpo vibrando.

Eu quero viver isso. Quero a experiência mesmo que amanhã não signifique nada, nem pra mim nem pra ele.

Não ligo pra compromisso. Não quero fidelidade. Quero sentir isso que a gente tem, que eu não sei o que é, mas mexe comigo de um jeito bom.

Depois do Picolé me pegar em casa de carro, eu ando até a parte reservada, procurando o Digão.

Solto um suspiro no momento em que nossos olhares se cruzam. É sempre assim, eu sei que ele vai me olhar dessa forma e ainda fico com vergonha.

Ele tá sentado no sofá, o som tá alto, segura um copo, apoiado no joelho e a outra mão tá na barba.

Usa uma camisa branca, do jeito que eu amo, marcando os músculos do peito e contrastando com a pele preta.

Ele é gostoso e sabe que é gostoso. Tá aí de onde a marra dele vem.

Picolé: Tá entregue, Patrão — Diz, quando chegamos próximo a ele, que levanta e coloca o copo numa mesinha.

Digão: Valeu, meu mano — Desvia o olhar de mim. rapidamente — Pode ficar na segurança ali na entrada.

Picolé concorda, se afastando de nós dois, e Digão volta a me encarar.

Luara: Já falei pra você parar de me olhar assim — fico com vergonha, mas não abaixo o olhar.

Digão: Impossível, pretinha — morde o cantinho da boca, me analisando — Já tentei de tudo, papo reto mermo, mas tu chega assim...

Abaixo a cabeça, olhando pra minha sandália, fugindo da sensação de borboletinhas  na barriga.

Digão: Como que tu pode ser tão linda assim? Puta que pariu. — ergue meu queixo, me obrigando a olhar em seus olhos de novo — Tu tem algum feitiço, pretinha.

Luara: Feitiço nenhum... — sorrio e ele sorri também.

O sorriso dele assim, sincero, é lindo. Ele sorri com o olhos também... Que homem.

Digão: Não pode ser normal essa vontade de que sinto de você — beija o cantinho da minha boca e eu respiro fundo — Tu tem um brilho diferente. Um cheiro diferente. Bagulho fora do comum.

Luara: Você diz isso pra todas... — apoio os braços no seu pescoço, minha unhas trilham um caminho pelo cabelo disfarçado — Acha que eu tô de bobeira e vou cair nesse papinho gostoso.

Off: Eu caio mesmo.

Digão: Tu sabe essa parada não é verdade, não digo isso pra qualquer uma — cheira meu pescoço, me arrepiando — E nem fudendo que eu sou o único sentido essa porra.

Ele prende a mão na minha cintura, colando nossos corpos. Eu fico doidinha na mão dele, isso é fato.

Mas também não sou de bobeira não. Não quero que ele pense que sou uma boneca na mão dele, tenho minhas vontades também.

Por isso, beijo de leve seu pescoço e arranho a sua nuca, sentindo ele se entregar mas sensações que eu causo da mesma forma como eu me entrego às dele.

Nossas bocas se encontram no encaixe perfeito. Eu percebo que ele é cuidadoso, mesmo deixando o beijo forte e bruto.

Digão: Quer beber o que? — fala baixo quando nós afastamos, um pouco rouco, perto do meu ouvido, por causa da música alta do baile.

Luara: Tanto faz, eu não bebo muito — encolho os ombros — Teu beijo tá com gosto de whiskey.

Ele sorri pra mim e me dá um selinho.

Digão: É GreenLabel com redbull, quer? — concordo com a cabeça e ele pega um copo na mesa, me servindo.


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Nota da autora: Pra quem não me conhece ainda, saiba que eu amo conversar com vocês 🫶🏼

Sobre Luara e Digão: Dois gatos escaldados se relacionandokkkkk

Ligações de Alma [M]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora