— Vamos logo estrela— ele disse ainda rindo.

Coloquei o capacete. James acelerou aos poucos rua abaixo. Fui me acalmando; não era tão diferente assim de dirigir um carro.

Até que, opa, a primeira curva pareceu um golpe de karatê contra o ar, o que me fez apertar a cintura dele com mais força.
Cortamos pela rodovia. Toda vez que passávamos por um buraco, meus dedos apertavam com mais força a cintura de James, e ele morria de rir. O vento balançava minha camiseta.

— Espero que sua roupa não saia voando — James disse.

Ele estava falando! Como se fossemos apenas dois passageiros normais em um passeio normal de carro.

James estacionou a moto – quero dizer, a scooter – e eu me atrapalhei para sair dela, com uma perna levantada no ar como se eu estivesse considerando dar um chute em alguém. Minhas pernas tremiam quando tocaram o chão.

Tirei o capacete e James riu.

— Você tinha que ter afivelado — ele disse.

— O quê? Não tinha nenhum cinto de segurança — eu disse, apontando para o assento. — Achei que você fosse o cinto de segurança.

— O capacete — ele disse. — Você não afivelou. Eu estava indo devagar pra que ele não caísse da sua cabeça. Mas, se eu tivesse acelerado só mais um pouquinho, teria saído voando.

Eu tinha sérias dúvidas se aquilo tinha sido realmente devagar, mas sorri com a possibilidade de talvez um dia andar mais rápido com James.

Ele me levou a um restaurante a céu aberto. Fez nosso pedido assim que nos sentamos, dizendo uma longa frase em alemão com algumas palavras que eu reconheciam

Perguntei a James se era para lá que ele levava todos os garotos fugitivos que ele acolhia. Isso acabou levando à história sobre como seu primeiro relacionamento de verdade foi com Lily no ensino médio, durante os anos no internato.

— Eu achava que ela seria meu Liebe — James disse, dando a última garfada na nossa janta , uma massa com molho vermelho mais deliciosa que eu já havia provado em toda a minha vida. — Eu não estava esperando que a gente fosse terminar. Fiquei arrasado.

Tentei evitar o desconforto que surgiu no meu estômago. Pensei sobre a relação deles hoje em dia, imaginando, até ele me contar sobre tudo que aconteceu depois.

— Fico muito sensível quando pessoas que eu gosto ficam magoadas comigo. É a minha parte mais americana. Somos muito emotivos. — Ele fez uma pausa. — Pode-se dizer que eu tenho um trauma.

— Nos Estados Unidos a gente chama isso de ghosting — eu disse.

— Sim, tenho muito medo de fantasmas — James riu, provavelmente muito orgulhoso por ter feito uma piada sobre relacionamento e Halloween ao mesmo tempo.

— Depois que eu e Lily terminamos, ela ficou meses sem falar comigo. Então um dia eu entrei no quarto e ela estava sentada na cama de Remus, os dois já eram melhores amigos naquela época, como são hoje em dia. Ela sorriu pra mim e me convidou para a conversa. Então não me ignorou mais depois disso e hoje somos quem somos, uma família.

O garçom parou na nossa mesa para nos servir o a sobremesa. James disse “danke”, sinalizando para que eu provasse a torta e, enquanto comia uma fatia fina que derretia na boca, pedi que ele continuasse a história.

Tomei um longo gole de vinho tinto. Era impossível não pensar em Marcus e em como eu provavelmente o magoei quando decidi cortá-lo da minha vida daquele jeito.

— E você, quais são os seus fantasmas?

— Marcus — eu disse — Conheci ele quando fiz transferência no ano passado, ele me apresentou a escola, jogava no time, era difícil imaginar um homem tão atraente quanto ele. Vou te poupar do detalhes. Mas ele foi gentil, carinhoso. O primeiro garoto com quem fiquei. Me deu esperança.

— Sinto muito — ele disse.

— Tudo bem — eu respondi, e então ergui minha taça.

— Tim-tim — ele disse, suspirando.

A sobremesa era doce, macia e recheada de chocolate. O brilho das luzes espalhadas ao redor do restaurante ficou mais forte. Voltamos aos tropeços para a motocicleta de James – eu, pelo menos. James bebeu só uma taça; eu terminei a garrafa.

Ele me levou até meu apartamento, a viagem de moto parecia menos assustadora aquela hora do dia. O sol estava se pondo atrás dos prédios e cheiro da cidade era diferente ao cair da noite.

— Como está sendo morar sozinho? — ele perguntou quando descemos da moto.

— Bom — eu disse. — Mas eu meio que sinto saudades de morar com Você.

— Eu sou um ótimo colega de quarto mesmo — James disse, balançando os braços.

— Você tem sido muito querido comigo — eu disse, balançando os meus. — Você …

Antes que eu pudesse terminar a frase, James agarrou meus cotovelos e me puxou para perto, tocando meus lábios com os seus. Um simples selinho.

Fiquei imóvel.

Devo ter parecido horrorizado, porque James fez uma cara triste na mesma hora. Foi exatamente como aquela fração de segundo no carro com Marcus, na primeira vez que a gente se beijou, quando eu me afastei.

James  começou a gaguejar, dizendo que sentia muito.

— Não — implorei. — Desculpa.

— Desculpa pelo quê? — ele perguntou, confuso.

O fato de estar um pouquinho bêbado e ter um lugar só meu fez com que eu me perguntasse a mesma coisa. Desculpa pelo quê?

— Quer subir? — perguntei com um sorriso de meia boca.

James parou, olhou para mim, completou meu sorriso e negou. Fiquei confuso, pensei que talvez eu tivesse imaginado as coisas erradas, que...

— Não agora, estrela — ele disse, sorrindo, minha pele queimou quando ele se aproximou e deixou um beijo na minha bochecha.

Ele se despediu, subiu na moto e desapareceu pela rua. Repassei na mente tudo que eu sabia sobre James, tudo sobre o dia de hoje. Subi as escadas.

Ele me beijou.

Não foi um beijo.

Deitei na cama.

Ele me beijou. Não foi um beijo.
Aquilo me fez sorrir.

Alguns momentos depois, peguei no sono.




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