Outono 8

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Estar em uma situação tão estressante e um lugar tão bonito era no mínimo injusto.

A praia em volta da gente parecia até tirar uma com a minha cara, eu sabia como era importante que a hospedeira chegasse certa para mestre Tengen depois do desastre da Yuki. Céus, ali foi onde as coisas começaram a dar errado.

Sempre me lembro do velhote do meu pai gritando com o pai da Utahime por não ter impedido a fuga.

Agito a minha cabeça para que a minha visão volte a focar novamente. A Riko estava tão feliz, brincando de bola na água como uma criança, ela era uma garota gente boa e que com certeza se daria super bem com a Nana, mas eu até achava bom ela não estar aqui.
Se ela estivesse, seriam duas pessoas sem noção do mundo jujutsu tentando dar pitaco.
Não que eu ache o Suguru ou a Nana sem noção desde mundo, mas existem coisas que só quem cresceu nesse mundo entende, coisas que parecem marteladas a ferro quente na sua mente e que você se torna incapaz de esquecer.

Nana e Suguru não tem essa marca, em partes, isso é revigorante, vários preconceitos que eu possuo eles desfazem, eles de fato parecem vivos.

Olhando para o sorriso da Amanai, eu preferia ainda achar ela uma garotinha Mimada e chata, seria mais fácil de aceitar que ela desapareceria, sumindo e sucumbindo a existência de outro ser pelo bem maior.

Cá estamos nós bebendo água de coco e brincando mesmo quando parece que cada fibra do meu corpo vai explodir.

Um dia a mais e já estamos no caminho muito mais tranquilos.

— agora que a recompensa pela Amanai já caducou a gente pode ficar mais de boa né — Dou um sorrisinho para a garota e a sua empregada.

As duas sorriem mais animadas, sabiam que teriam que se despedir em breve, mas eu não queria ser o chato a lembrar disso.

Quando eu estava mais tranquilo, uma coisa aconteceu... Aquele homem aconteceu.

A pessoa que tinha uma aparência bem simplório, sem olhos brilhantes, espíritos amaldiçoados ou qualquer coisa...
Isso que era assustador.

Um homem invisível aos olhos do jujutsu bem na nossa frente, um restringido celestial.

— Suguru, corre com elas, eu alcanço vocês quando der um jeitinho no bombadinho — Digo confiante.

A minha confiança dura a conta exata de eles virarem as costas, eu estou exausto e sei que fiz uma péssima escolha tentando atrasar esse cara que eu desconheço sozinho ao invés de fugir com eles e tentar elaborar algo com o Geto, agora já era tarde.

Muito tarde, já que o meu pescoço está empalado completamente por um movimentos antinatural de uma adaga...

O homem misterioso não arrancou a minha cabeça, me deixou para me afogar em uma poça do meu próprio sangue.

Que frustrante!

Que frustrante!

O mais forte?
O homem que desequilibrou o mundo só por nascer?

Vai morrer em um canto solitário por pura incompetência....

Parece até piada ruim.

Meu corpo tá tão cansado, morrer deve ser um alívio.

Mas é claro, quando a consciência falha, o demônio não se silencia.

O meu, nunca ficava quieto, mas eu sempre fui mais barulhento, ou mais chato... Agora só estou mais cansado.

Me vejo de frente com ele, a forma estranha, o homem com movimentos rápidos e desconexos, seis olhos, três azuis e três vermelhos, uma versão distorcida do meu próprio rosto.

— Autopiedade não combina com o nosso visual — ele diz tremendo as unhas longas enquanto seu braço longo e magro parece estar sendo contido para não avançar contra o próprio corpo.

— Eu não estou sofrendo de autopiedade, apenas eu... Estou aceitando — eu queria engolir minhas palavras na hora que disse.

Aquela versão bestial de mim avançou como um predador sedento por sangue, guiado só por instinto, batendo e arranhando uma parede que nos dividia, uma parede que parecia mais fina a cada golpe...

— Seu fracassado, se você quer desistir, pode ir.... Eu não me importo, Foda-se, mas aquele merda não vai ficar em pune não —  parecia um demônio, arranhando e gritando.

Eu estava cansado, desestabilizado, frustrado e paralisado. A única coisa que não impedia o meu coração de parar era essa bestialidade na minha frente que estava quase rompendo a parede no espaço infinito da minha consciência.

Eu não quero que Suguru se machuque, eu quero que a missão dê certo, que a Amanai encontre seu descanso e sua querida amiga possa se despedir apropriadamente...

— nós vamos morrer... Eu não sei como parar esse sangramento — Digo desanimado.

Nesse momento, eu ouço algo que se parece com o barulho de um fio sendo tensionado e também o barulho de alguém chocado, algo como um 'gasp'

Isso me lembrou Shoko explicando a técnica reversa... Como eu nunca tinha entendido nada. Mas aí... A barreira se rompeu.

Aquela versão criaturesca de mim, sem limites, bestial... Aquilo sim sabia energia amaldiçoada reversa, ou era especial o bastante para me tornar mais sensível a esse entendimento.
Foi como estar deitado ali por mil anos ao mesmo tempo que o meu corpo depurava e tornava rapidamente a energia amaldiçoada sangue necessário no meu corpo.

Eu sentia a ferida se fechar, a minha consciência atingir um outro lugar, me lembrar que não só eu era todo esse desastre que existe na minha cabeça.

A confusão.

O demônio.

O idiota.

Eu, Satoru Gojo, sou e sempre fui...

O mais forte.

Dias de Verão - Gojo/Geto/ LeitoraWhere stories live. Discover now