Eles eram como pássaros migrando em busca de terras quentes no verão enquanto que eu, sempre fui inverno. Sempre preferi permanecer a seguir com eles. É por isso que o silêncio deste parque é mais acolhedor que a minha própria casa, este banco de ferro frio onde me sento e tento sem sucesso acender outro cigarro é onde eu realmente preciso estar até não saber mais que horas são. De onde estou consigo ver o meu carro estacionado, uma das primeiras coisas que comprei quando me mudei para cá, para longe da minha família e de tudo o que eu conhecia. O que toda essa mudança tem me trazido de bom, afinal de contas? Que motivação encontro nisto tudo?
Por reflexo, eu pego o celular e começo a olhar as fotos na galeria. Há tantas ali e tão poucas são minhas! Vez ou outra o maknae o pega escondido e fotografa tudo o que pode só porque sabe que não poderei ficar zangado com ele. De todos, é o meu mais próximo amigo e cujas palavras sempre acertam em seu alvo, mesmo sem intenção.
—Quando pretende terminar de escrever essa música? –eu me recordo de sua voz límpida como a água de um córrego ao meu redor tentando pegar a folha de papel da minha mão.
—Estará pronta quando estiver pronta. –eu lhe disse da última vez em que me perguntou e ele me olhou com um olhar entristecido. —Desculpe, não quis ser grosso.
—Por que não a guarda para quando estiver inspirado? E começa outra enquanto isso.
Ele não entende muito que músicas são como filhos para mim. Não posso deixar esta de lado, esquecê-la, escondê-la, sufocá-la... Ele não entende que um pedaço da minha alma está aqui.
Ele me dá um tapinha no ombro e vai embora sem dizer mais nada. O garoto tem razão em uma coisa, eu admito: Falta-me inspiração. E como posso tê-la se nem o volante das minhas próprias emoções eu tenho?
Pego-me pensando no passado e em como o tempo tem me transformado na pessoa que sou agora. Não sei quando ao certo as avalanches emocionais começaram a mudar a minha personalidade. Eu, que outrora era comunicativo e extrovertido agora não passo de um caminhante sem rumo que sequer consegue terminar de escrever uma música.
Eu, que me acredito sem habilidade de sequer esperar pelo próximo dia...
Para onde foram as luzes coloridas que iluminavam e enchiam de graça as minhas noites? Tudo tem ficado tão monótono, o barulho me irrita, as luzes me ofuscam, meu corpo é mais pesado do que eu consigo carregar.
Mas onde é que eu estou errando? O que há de errado comigo? Por que eu prefiro passar a minha noite de folga aqui sozinho em um parque deserto e frio do que junto ao acolhedor abraço dos meus amigos? Por que não consigo me sentir bem nem com a minha própria presença?
Nesta noite eu poderia apenas dirigir até o meu apartamento pessoal e afogar a minha consternação com um pouco de álcool quente e depois deitar em minha cama até amanhecer, tamanha era a angústia que turvava a minha visão.
Meu eu soturno e taciturno quer desesperadamente gritar até explodir. Eu só quero alguém com quem conversar, mas tenho medo de que a única coisa que me digam é para que eu seja forte. Isso eu estou tentando ser, mas não está funcionando!
Se eu não fosse tão fraco... se pelo menos eu tivesse um motivo para continuar insistindo... se eu não me sentisse tão sozinho...
Se eu não fosse eu...
Seria tão diferente!
Neste momento, eu penso o impossível. Eu queria poder ser uma ave de verão e seguir com os outros para o sul quando o inverno chegasse, mas não posso fugir de mim mesmo.
Save me
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