Notas do Autor
Olá pessoinhas!
Não como uma ave agourenta, já que ultimamente só tenho trago notícias tristes, mas hoje não vou dar notícia nenhuma. A fanfic ultimamente não está para outra coisa que não seja reflexão. Um pedido silencioso para que noss@s leitor@s vejam ao seu redor quantas Ray's têm em nossas vidas e nem são notadas. Desculpem se hoje não tiver beijo, nem hot, nem abraço, nem shipp.
Apenas um pedido: se quiserem conversar, fiquem à vontade.
Boa leitura.
Que tempos penosos foram aqueles anos – ter o desejo e necessidade de viver, mas não a habilidade."
(Charles Bukowski)
Olho através das lentes dos meus falsos óculos de grau os carros que passam do lado de fora da cafeteria onde agora me encontro e percebo que nem este cigarro que decidi fumar nem este café expresso me farão esquecer as palavras do meu terapeuta hoje à tarde.
Faz três anos que sigo o mesmo caminho de sempre até o seu consultório. Primeiro, eram apenas dois dias por mês e agora, duas vezes por semana. Em breve, não sei se encontrarei uma solução mesmo se me mudar para a casa dele ou transformar-me em um berloque que lhe adorne o pescoço noite e dia, ainda assim não será suficiente.
Não é impressão minha quando digo que ele tem motivos para não me aguentar mais, entretanto, dizer-me que preciso tentar ser forte não está me ajudando. Não sou um robô que apenas obedece a uma programação limitada. Não sei seguir algoritmos, regras, leis. Sou apenas uma pessoa e já não aguento mais sê-la, pelo menos, não do jeito que tenho sido. Suas palavras automáticas não têm mais surtido o mesmo efeito que antes e eu percebo que ele nem mais se esforça para ter algum resultado positivo. Estou morrendo e ninguém nota!
Eu até tentei continuar sem a ajuda dele, tentei remédios, tentei yoga, tentei livros de autoajuda, tentei meditação transcendental, tentei... tudo o que estava ao meu alcance.
Cigarro e café são as minhas escapatórias da vez. Não são as melhores nem as mais eficientes, mas pelo curto período em que estiveram na minha vida... a quem estou enganando? Essa merda não está ajudando em nada!
Levanto-me jogando algumas notas na mesa e saio porta afora um pouco depois que ela se abre para uma pálida e provavelmente estrangeira garota passar. Ela não me vê assim como todo mundo que olha em minha direção. Não é a mim que eles veem, mas uma sombra do que pintaram de mim, uma egrégora de um ser que não existe de verdade, uma caricatura nascida da cabeça de alguém... que não sou eu. Eles não me reconhecem quando estou sem máscaras, quando estou sendo eu mesmo.
Sinto como se minha sanidade, minha felicidade e tudo o que tenho de mais valioso estivesse a um fio de arrebentar-se. A imagem que me vem à mente é o colar de pérolas da minha mãe que eu, sem querer, arrebentei quando era criança. Lembro-me das esferas esbranquiçadas rolando escadarias abaixo enquanto a mulher de cenho franzido me repreendia com as mãos postadas na cintura. Não consigo lembrar de uma só palavra que ela dissera na época, mas a imagem das esferas nunca saiu da minha cabeça.
Agora cada uma delas transforma-se em algo valioso que rolaria escadarias abaixo na minha vida se eu não obedecesse ao meu terapeuta e continuasse fraquejando.
Caminho através do passeio paralelo ao parque sempre enfeitado com a algazarra de crianças que vêm e vão preocupadas com suas próprias brincadeiras, seu único propósito no momento. A esta hora da noite não há nada mais ali do que tristes e verdelengos vagalumes que rodeiam as últimas floradas da estação anunciando que em breve o dourado das árvores dará lugar ao branco do inverno. Esse é um dos motivos pelos quais precisei sair de casa hoje à noite. O outro, foi o barulho ensurdecedor cotidiano que meus companheiros de moradia faziam e que só acentuavam a minha irritabilidade.
