Matando-me

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"Saiam do quarto."

"Alastor, mas Serah disse..." O guarda de cabelos rosa tentou contestar.

"Não me importo com o que Serah mandou. Saiam."

As portas se fecharam, isolando Alastor e Charlie na alcova. Uma pequena quantidade do gás roxo ameaça invadir o local. O vermelho invocou uma redoma em tons escarlate ao redor deles.

Char abraçou o próprio corpo, uma tentativa genuína de trazer conforto. Ela encarou o pecador com tristeza e desapontamento.

"Você nos traiu."

A única frase partiu Al. Entretanto, ele se manteria firme no plano. Emoções desnecessárias iriam atrasá-lo apenas.

"Ninguém pode nos ouvir aqui." A redoma variou entre a completa escuridão e um vermelho sangue. "É hora de conceder meu favor."

Ela se encolheu ainda mais.

"Só por isso veio até mim? Pra conseguir o controle do Inferno?"

Conversa inútil. Ele precisava cortar esse papo furado logo.

"Sim, Charlie." Arqueou a mão na direção dela. "Vamos cumprir o combinado."

A menina não queria tocá-lo. Sequer dividir o mesmo ar que ele. A abóbada ao redor deles a sufocava. O que aconteceria se ela fugisse?

Ela gostaria de tentar.

Mas não dava para fugir. Não sentiu uma gota de força desde que acordou. É como se ela fosse uma casca vazia, incapaz de sequer erguer um copo d'água.

A contragosto, direcionou sua mão para apertar a do cervo.

Quando as peles se tocaram, uma explosão de luzes surgiu, que era cortada pela penumbra da redoma. Raios carmin e branco explodiam no toque. O sorriso do radialista se destacou naquele pacto psicodélico. Seus orbes derreteram em um líquido negro e escorreram pelas bochechas enrugadas. Os chifres se expandiram conforme as luzes incendiavam o pequeno espaço no cômodo e um vento bagunçava os cabelos da garota. A garra de Alastor machucava sua mão.

Um grito. Não podiam ouvi-los, mas os dois ainda ouviam o exterior. Milhares de vozes clamando socorro. Al se curvou, sem quebrar o aperto. O corpo do pecador se contorcia e as veias saltavam, roxeando sua pele. Aumentou a pressão no contato.

"Isso me machuca!" Charlie não conseguia soltá-lo. A mão da princesa começara a sangrar.

Com a voz empoeirada, ele finalmente anunciou:

"O contrato entre nós.." O poder proeminente da morte dos hóspedes entra no corpo em uma velocidade assustadora. Ele quer arrancar as próprias artérias. É uma dor insuportável. Sente como se tivesse morrendo de novo. Aqueles cães rasgando sua pele, comendo os músculos e tendões. Milhares de vermes apreciando a carniça. Ao mesmo tempo, um prazer sem igual preenche sua corrente. Quase não pôde concluir a frase. O ferimento na testa volta a sangrar. ".. Está desfeito."

Outra bola de luz.

A loira não acreditou nas palavras que ouviu. A pupila dilatou e diminuiu, a boca semiaberta buscava ar. Por que ele encerrou o contrato ali? O que ele tinha em mente com isso? Se fosse para conseguir sua confiança, era inútil.

Soltaram as mãos. Alastor caiu de joelhos no chão, rasgando o terno ao agarrar os braços. A Morningstar observava aquilo com nojo e receio. Os ossos do vermelho estalavam.

Antes de formular uma frase, o cervo levanta a cabeça para a princesa. Jorra um sangue preto de seus glóbulos. Ele grita. O berro é composto de centenas de vozes.

Killing me | RadioappleWhere stories live. Discover now