Antes do plano de ação

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O teor caótico dentro daquelas gigantescas paredes aumentou conforme sua respiração acelerava. É uma legião de chifres, rabos e focinhos que se misturaram no saguão do hotel - mais pessoas que ele imaginou que teria, não o leve a mal, mas Lúcifer nunca acreditou verdadeiramente no projeto de Charlie. Era uma ideia maravilhosa e altruísta, qualidades que admira na filha, porém, essas almas jamais iriam sair de suas vidas conturbadas e imundas para, bem, realizar exercícios de confiança e cantar músicas otimistas. Ele crê que será uma moda infernal passageira, como todas que já tiveram um dia - só Deus sabe o quão insalubre foi a época do canibalismo. O que lhe preocupa de verdade é o Céu.

Desde os primórdios, nunca gostaram de novas visões. A censura teve sua usualidade por milênios até recorrerem o exílio. Lúcifer, sendo o primeiro condenado ao submundo inóspito e pútrido, dedicou-se por algumas dúzias de anos à redenção das pobres almas calejadas. E conseguiu em determinado período. A conquista do purgatório o aproximou desse sonho de redimir-se com o Paraíso. Eles não poderiam julgar totalmente a alma humana e alguns dos que seriam condenados ao inferno adquiriram a benção angelical. O loiro recebeu a chance desejada de fazer diferente e iria agarrá-la com mãos firmes.

No entanto, Lilith se recusava a ceder. Ela reuniu habitantes para uma luta sangrenta, a qual perderam em um piscar de olhos.

Assim, surgiu as duas leis primordiais do Universo:

Não se mata anjos.

O Inferno é eterno.

Lúcifer perdeu o controle do purgatório e de sua própria vida. Noite após noite, afundou-se em invenções sem propósito, o amor por patos se tornou uma obsessão insana. Inundou a casa com esses bichos amarelos. Lilith achava fofa a paixão no início, todavia, começou a irritá-la. Afinal, ele foi o ser que apoiou os desejos independentes da esposa, o livre arbítrio. Enxergá-lo de maneira decadente partia a admiração da mulher.

E nasceu Charlie. Ele não era um bom pai, mas tentava seu melhor.

Porque ele, por fim, iria se dedicar para proteger alguém.

Eles planejam algo? Por que não marcaram uma reunião com ele sobre a rebelião ainda?

Será que finalmente assustaram o Paraíso?

Lúcifer teme por Charlie. Caso o contra-ataque angelical seja na sua filha, ele não medirá esforços para instaurar uma verdadeira guerra contra os que um dia foram seus irmãos. Lilith irá reunir os pecadores em uma cúpula para treiná-los novamente e...

Ah, pensou o Lucifer, Lilith sumiu. Há sete anos.

Um aperto atingiu seu peito. Alisou a aliança com o dedão.

Prendeu a respiração por meio segundo e soltou pesadamente. A saudade é como uma agulha longa e mais afiada que perfura seu coração. Não machuca. No entanto, torna-se incômoda conforme o caminhar dos anos.

"Imagino que esteja orgulhoso do nosso Hazbin Hotel"

O corpo se arrepiou com o susto. Lúcifer quase sentiu a necessidade de desfazer esse sorriso irritante na base do soco.

"Estaria mais orgulhoso se não se chamasse Hazbin Hotel."

A risada de Alastor trazia seus nervos à flor da pele.

"Creio que terá que falar com nossa querida Charlie para a mudança do nome do hotel, Senhor Morningstar. Ela é uma garota tão doce..." Os olhos de Alastor caíram sobre a aliança "Puxou a mãe?"

Os nervos extravasaram a pele e queimaram. O loiro colocou um dedo no peito do demônio do rádio, empurrando o tecido do blazer vermelho.

"E você parece alguém muito seguro para um pecador de merda" O sorriso intacto ferveu sua nuca. É quase humilhante ter que olhar para cima com Alastor "Não se esqueça que você vive porque eu permito. Eu que mando aqui."

Killing me | RadioappleWhere stories live. Discover now