Entrevista

1.5K 175 462
                                    

"Lúcifer Morningstar, por onde você quer começar?"

Katie possui uma voz típica da televisão, aquela que você ouve e não consegue diferenciar a apresentadora, mas sabe que provavelmente escutou no jornal da manhã ou em um noticiário de fofocas.

Ir ao 666 News não era seu plano inicial, entretanto, mostrou-se ser o mais prático. A tarefa era simples: Uma entrevista com Katie Killjoy a fim de esclarecer o estardalhaço que Vox causou e, por tabela, falar sobre a participação no último extermínio - o que Lúcifer fugia veementemente de se pronunciar.

A ideia surgiu quando Vaggie leu a pedra que acertaram no hotel.

"O filho da puta tá tentando fuder a imagem do Morningstar." A ex-exterminadora comentou enquanto quebrava a rocha com sua mão.

Charlie observou o pai fincar as unhas na palma.

"Eles não vão acreditar nisso, porque não é verdade." Sorriu nervosa para o loiro. "Não é, pai? Valentino soltou Angel por pressão, não por um poder misterioso angelical."

O anjo mexeu a cabeça negativamente. O bilhete preso à pedra pairava no chão.

Fora Lúcifer.

No fim, era aquilo que ele valia. Uma habilidade incômoda e séculos de fracasso. Um aperto atormentou seu peito. Uma sensação ruim que subia do estômago até a garganta, prendendo sua respiração. Seus medos ficaram claros novamente. Ele se esqueceu do que representa quando estava ali ao lado deles, de tudo que perdeu e que estragou em sua existência.

Por que ele se importava com aquelas palavras? O loiro nunca ligou de fato para o inferno e quem nele habitava. Deixou acontecer os extermínios, provocou uma onda de genocídios sem razão. Ignorou todos os conselhos de Lilith e se manteve apático. O povo infernal adorava a esposa e com razão.

Ninguém o queria ali. Nunca o quiseram. Queriam Lilith. Agora que ela se foi e descobriram um motivo para suspeitarem do atual rei, uma legião de rebeliões iriam se instaurar.

Afinal, jamais confiariam em um celestial caído que pode interferir efetivamente nos assuntos do submundo. É melhor alguém que seja um deles.

Ele recordou do jantar com Mammon. Qual será a reação dos pecados quando descobrirem? Dessa vez não teria apenas o porco da ganância o criticando, mas também os outros.

Seu celular vibrava incessantemente no bolso. Ligações perdidas, pedidos de explicação, mensagens ignoradas. Ele resistiu ao máximo pegar o dispositivo para ver qualquer coisa. Ainda assim, sabe que não poderia fugir.

Angel mexia no celular. Reclamações de vários soberanos passavam na sua timeline. Um vídeo de Mammon iniciou na tela.

"Conversei com Lúcifer faz um tempo, ele não disse nada sobre essa merda. Vocês sabem que ele teve uma reunião no Paraíso, né? Vai saber o que eles conversaram lá. Me pergunto se ele vai começar a arrancar contratos para o programa de redenção da filha dele. Espero que seja mentira, se não vai fuder pro lado dele." O tom inconfundível do pecado ecoou pela sala.

O anjo evitou o impulso de se encolher em posição fetal e pedir desculpas.

"Ele não tem provas." A voz radializada o tirou de seu abismo, como sempre. Os presentes encararam Alastor, esperançosos. "Vox não mostrou nenhuma prova concreta e ele nem terá uma. Se Lúcifer disser que não pode fazer isso e explicar a rivalidade dos Vee's comigo, talvez deixem de lado essa baboseira."

"E se houverem câmeras no estúdio?" Dust questionou sabiamente.

O vermelho riu.

"Meus tentáculos destruíram aquele local pútrido. Se tiverem câmeras, foram inteiramente quebradas antes mesmo do rompimento do contrato." O nascimento da solução normaliza os ânimos no saguão.

Killing me | RadioappleWhere stories live. Discover now