Cervo

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Era uma encomenda simples com uma resposta 'sim ou não.'

Sim: a troca seria realizada.
Não: cortamos contato aqui.

Quando ele se afastou de Lúcifer e deixou Rosie conversando com o companheiro, não imaginava que a amiga encheria a cabeça do loiro com ideias românticas. Rosie também não imaginava no que Alastor estava se metendo, sendo alertada que iria receber apenas uma encomenda do amigo e que era para guardar para ele.

O seu coração estava a mil. Entraram em contato de maneira sutil, por uma carta simples em um envelope surrado, a qual ele iria jogar fora caso não tivesse um selo curioso. Um emblema dourado fosco e uma auréola. Ele abriu a carta e dizia que era para respondê-lo dentro de dois dias caso quisesse participar do novo plano para o Inferno. Bom, ele respondeu, já que seria benéfico para si. Um contrato com um anjo é mil vezes melhor que com um aristocrata de merda que o obriga a se humilhar para a família real.

O Paraíso acreditava cegamente que Alastor era secretário de Lúcifer. Queriam que ele dissesse os planos do loiro para que pudessem se precaver de possíveis ataques. Como ele explicaria que era um plano chulo? Morningstar era um ser mais simples que o céu imaginava e, até o instante, o único sentimento que o vermelho nutria era ódio.

Um ódio descontrolado, porque Lúcifer era mais forte que ele, porque tinha mais poderio, sentia-se rebaixado perante um governante. Morningstar não merecia o tanto de poder que possuía.

Assim, ele deu a ideia do contrato que o faria invencível: A troca do trono.

Aproximar-se de Lúcifer era um pensamento esplêndido. O objetivo inicial era matá-lo e usar o acordo com Charlie para se tornar o novo Rei. Ele guardara uma adaga justamente para isso. Felizmente, o Paraíso encurtou seu caminho. Os anjos arranjariam uma maneira de quebrar sua coleira e ele os traria os extermínios.

Todavia, ele não supôs o que aconteceria dias depois daquela encomenda dizendo Sim.

O beijo.

Os lábios do celestial eram incrivelmente macios para um ser de milênios, os punhos pequenos o puxando para si, a língua que explorava as nuances de sua boca. Luci era um ser perspicaz que, acima do demônio, conseguia desvendar cada intenção por trás de seus sorrisos falsos e palavras mentirosas. Ele se deixava guiar pelas enganações de Alastor em troca do mais puro prazer.

E, para a infelicidade do cervo, ele passou a gostar da presença de 1,60 e cabelos loiros. Acostumou-se à palidez daquela pele de porcelana e se deliciava profanando a pureza de um celeste. As perguntas segredadas e aulas culinárias simplórias. Cada detalhe naquela convivência o tornara a persona que não era desde que estava vivo. Aos poucos, transformava-se em humano.

O que é irônico, considerando que o próprio Lúcifer o convertia.

Para Al, o governante tornou-se um poço. Quanto mais o conhecia, mais se afundava, mais se desviava do caminho. Ele precisava se conectar com o Paraíso, atualizá-los dos acontecimentos, dizer a evolução da missão. E ele cumpriu a agenda cegamente por tempos até o fatídico ósculo.

No dia do beijo, houve o jantar. E Alastor viu seus contratantes. Os sete irmãos idiotas de Lúcifer. Eles se conheciam pelas cartas. Quando Leroy apertou sua mão, um bilhete escrito em um pequeno papel foi deixado.

'Mantenha-se focado, pecador.'

Um aviso. Era tão evidente o desvio emocional? Externou tanto assim as vertentes de seus sentimentos contraditórios?

Ele gostava de Lúcifer. No entanto, gostava mais do poder.

Leroy estava certo. Foco. Era preciso foco. Religiosamente, manteve o contato detalhando o ataque que fariam, a chacina, a quantidade de almas necessárias para o cervo se tornar tão poderoso quanto um pecado. Enquanto o amante dormia, manteve sua parte e tramava pelas suas costas.

Killing me | RadioappleWhere stories live. Discover now