À pressa e ainda à meia luz do telemóvel, a mãe veio deixar nas costas do sofá, umas calças escuras e uma sweat vermelha antes de regressar à cozinha.
- Desculpa... - voltou a repetir pelo meio das respirações entrecortadas.
- Está tudo bem. - sussurrei tantas vezes quantas me pediu desculpa - Precisamos de te aquecer primeiro, depois já conversamos, que tal?
- Mas... eu preciso de me explicar, foi para isso que aqui vim, Eliot. - disse, afastando-se o suficiente para nos encararmos - Já adiei demasiado.
O meu coração falhou uma batida, não estávamos tão perto há muito, os nossos rostos não estavam tão perto há muito.
- Estás gelado e a tremer que nem varas verdes, Ryan. - retorqui quando a minha mão foi encontrar o seu rosto que acariciei por instinto. Fechou os olhos e inclinou-se ao toque como se aquilo fosse a melhor coisa que lhe tinha acontecido.
Só lhe faltava ronronar.
- Parece-me que aqueceres é prioritário.
Encolheu os ombros e assentiu, estendi-lhe a roupa e fiz menção de sair da sala, ou virar costas ao menos, alcançou-me o pulso em segundos e nunca imaginei que uma mão tão fria pudesse produzir faíscas, pelo menos não novamente.
Mantive-me no mesmo sítio, com as faces quentes de súbito. Baixei a cabeça e sorri de forma discreta, só para mim, só ao de leve. Isto antes de o ver a lutar com a roupa que custava a despir devido ao estado em que se encontrava.
Ajudei-o a despir a t-shirt, como se aquilo não me estivesse a atrofiar o sistema e sequei-lhe o tronco exposto, como se aquela visão não me obrigasse a morder o lábio.
Depois de muito fingir que vê-lo nu não me recordava desejos antigos, não fazia ideia que vê-lo com roupa minha também me recordaria de desejos antigos. Era uma mistura demasiado única entre estranho e uma das coisas mais perfeitas que já vi.
Foda-se, nem parece que era suposto ainda estar com vontade de o mandar à merda.
- Melhor?
- Hm hm... - assentiu, embrulhado uma vez mais na manta, com a caneca quente de chá que a mãe trouxera, antes de voltar para o quarto mesmo que nos tenha garantido que a poderíamos chamar se precisássemos de alguma coisa - Podemos falar agora? - indagou depois de dar um gole ao líquido fumegante.
- Fala.
- Não há muita explicação... Fui um cobarde de merda, El, fui cobarde e idiota, magoei-te pra caralho e sofri as consequências. - respirou fundo - Mas não consegui viver sem ti outra vez... E como sou um egoísta de merda sinto que precisava de te pedir desculpas a sério, de te dizer que estou disposto a assumir-me em frente a toda a gente. Que não tenho vergonha... não tenho vergonha de ti, nunca tive.
Suspirei, os olhos aguados e um nó irritante na garganta.
Levei a mão ao seu rosto que apenas via graças à lanterna do meu telemóvel pousado na mesa, com a câmara virada para cima.
- Eu nunca te pediria para te assumires a ninguém, Ry, quanto mais em público. - sussurrei - Nunca precisei disso, isto seria um segredo por tanto tempo quanto quisesses, só precisava que não me voltasses as costas porra. Que não me afastasses.
- I'm so sorry... - murmurou, vindo encostar a testa à minha, olhos fechados com força, lágrimas perto de escorrerem.
Estava morto por beijá-lo caralho! Estava morto por perdoá-lo, por repetir outra vez que estava tudo bem.
Mas tinha que ir até ao fundo.
Porque não podia voltar a ver só a primeira camada, porque não foi só cobardia, porque não foi medo, afinal foi ele quem quis assumir-se à mãe!
KAMU SEDANG MEMBACA
Not Only Memories
Romansa"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
~~Capítulo 11~~
Mulai dari awal
