"2 de maio de 2022
Ryan Diaz
Desculpa, porra sou mesmo um idiota!
A Diana tem tanta razão, Eliot, sou um idiota chapado!
Meu como gostava de em vez de te tocar ao de leve, de te falar em público cheio de medo, ter decidido puxar-te para que fossemos só nós os dois e não que nos limitássemos a sentir como se fossemos só nós os dois, porque sei que também sentiste, sei que também tinhas a mesma vontade que eu, mas passaram dois meses e mais que tudo queria que isto estivesse a acontecer dois meses mais cedo. Quem me dera não ser um cobarde. Quem me dera não ter feito isto só agora porque quando a mãe veio insistir na cena do psicólogo, também veio com a conversa das cartas de candidatura cujas respostas devem estar prestes a chegar e que isso me tenha feito perceber que daqui a um mês não voltarei a ter a obrigação de te ver todos os dias, que daqui a um mês podemos não nos voltar a ver com o quão grande é LA e os Estados Unidos no geral...
Entrei em pânico, tinha passado a noite a pensar nisso e não conseguia viver sem tentar. Quando te vi não resisti e desculpa!
Foi tarde demais, claro que foi... E egoísta! Caralho fiz-te chorar no meio da escola, em frente a tanta gente...
Não pensei em mais nada, quando dei por mim estava a eletricidade a percorrer-me o corpo dos pés à cabeça porque os meus dedos estavam a envolver-te o pulso.
E é completamente compreensível que queiras que este seja o fim quando vejo nos teus olhos que continuamos a sentir o mesmo, porque fui eu que te mandei à merda pela segunda vez, fui eu que te desiludi, mas eu continuo egoísta, Eli, eu continuo a querer voltar, a querer que me perdoes, mesmo que tenha feito merda.
A Diana disse que viu como ficaste, confirmou as minhas suspeitas e repetiu umas duas vezes como estávamos com a mesma cara de merda quando me afastaste, também me chamou idiota, também me deu pelo menos um par de chapadas num dos braços e disse que demorei demasiado tempo e que agora não me querias olhar para a cara, mesmo assim deu-me esperanças, não queria, só que senti o coração a acelerar quando me disse que parecia que estavas hipnotisado no momento em que não evitámos cruzar-nos.
Lembro-me de ficar assim, lembro-me de antes, quando não nos falávamos há anos, ficar embasbacado a olhar para a autoconfiança que tinhas ganhado, a olhar para o sorriso rasgado com que vinhas sempre, que desaparecia quando me encaravas, com os lábios finos prensados um contra o outro, os olhos decididos e sérios. Tinha medo de te contradizer, tinha medo das nossas interações e devia-te a vida para melhorar. Eras tudo o que eu fingia ser, tinhas tudo o que eu sabia perfeitamente que nunca teria, amigos que te adoram, pessoas que te admiram, autoconfiança e humildade em simultâneo, alguém que te ame, tinhas uma boa relação com a tua mãe quando a minha relação com a minha tinha morrido com a morte da nossa amizade, apesar de ter sido ela a colocar-me no círculo de amigos em que estava, tinhas uma vida tão estável quanto possível. Eu fingia que era fixe, que tinha amigos, quando hoje não me lembro da última vez que falei com qualquer um dos gajos com que me dava, metia medo a putos e enrolava-me com gajas semana sim, semana não. Olhava-te de longe e quando calhava a ser de mais perto, afastava-me assim que possível. Tinha medo El, tinha medo de ter saudades, tinha medo de virar costas ao que era ser fixe na minha cabeça.
Isto era assim até há meia dúzia de meses.
Ao voltarmos das férias de natal ainda era o tipo que fazia os miúdos encolherem-se, ainda era o gajo que olhavas com desprezo, depois foste falar com a mãe.
Depois arristaste-te a levar de um gajo que fazia dois de ti para me tirares a merda do cigarro.
E depois contaste-me da história do meu pai.
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Not Only Memories
Roman d'amour"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
