~~Capítulo 11~~

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Eliot POV

Era o pior dos dias para as previsões meteorológicas acertarem com tanta precisão, era o pior dos dias para uma das súbitas tempestades da Califórnia. Não é que por norma durassem mais que um dia ou dois, mas aí estava o problema, hoje tínhamos o pavilhão para ir arrumar e o dia de amanhã e aquele que se lhe seguiam possuíam demasiada importância, demasiadas emoções intensas... Não nos fazia de todo falta estarmos encharcados da cabeça aos pés na cerimónia ou durante a despedida, não era necessário mais dramatismo... a última madrugada bastou. Aliás, a nossa vida este ano já teve suficiente, demasiado, diria eu.

Passei a manhã a dormir e caso não tivesse colocado despertador para a uma da tarde, algo me diz que havia de continuar apagado por mais umas horas. Mas tínhamos mesmo que deixar tudo arrumado depois do caos da noite de ontem, aquilo ficara numa lástima, aposto.

Tendo em conta as caras exaustas do pessoal, estava longe de ser o único com falta de horas de sono e longe de ser apenas o grupo da madrugada a estar nesse estado.

Agora está escuro e a mãe deitou-se há uma hora. Eu, apesar da exaustão física, não conseguiria dormir nem que quisesse ainda mais do que já quero, a luz da casa caiu novamente, durante o dia, pelo menos enquanto cá estive (acordado), fartou-se de acontecer devido ao mau tempo. A minha sorte é ter bateria no telemóvel, ou estaria às cegas neste quarto, onde me limito a fitar as gotas mal iluminadas que escorrem pelo vidro da janela, a divagar na melancolia do final do meu último ano escolar, no discurso que ainda me parecia tão insuficiente tendo em conta o peso do momento que se avizinha... Se me permitisse, ia apagá-lo e reescrevê-lo mais umas trinta vezes e ainda não seria bom o suficiente.

Mas o meu lado consciente sabia que estava tudo ali.

Ecoaram de súbito, os estrondos daquilo que pareciam pancadas na porta, antes que pudesse afogar-me em memórias. Dei um salto, os meus batimentos cardíacos dispararam a toda a velocidade, no entanto levantei-me num ápice, caminhando em passos apressados na direção da entrada, as pernas por baixo das calças de pijama a tremelicarem do medo ilógico, pois se fosse alguém com vontade entrar à força, teria quebrado o vidro das janelas da sala, não seria difícil, não eram tão resistentes quanto isso.

Mesmo assim, quem raios havia de ser louco o suficiente para andar por aqui a estas horas e com este tempo?!

O ranger da porta do quarto da mãe fez o meu espírito sair-me do corpo e voltar a entrar no curto espaço de tempo que foi desse som sinistro, a quando a mãe apareceu, caminhando pé ante pé com todo o cuidadinho.

- Deixa-me ir à frente. - sussurrei.

- Nem pensar nisso! - retorquiu sem alterar o volume da voz, apenas o tom com que proferia as palavras - A mãe aqui ainda sou eu!

Ergui as mãos, rendido e limitei-me a segui-la à distância de poucos centímetros, com o telemóvel numa mão com a lanterna acesa, tal qual ela fazia.

A mãe respirou fundo mal estávamos em frente à porta. Ainda tentei ver de quem se tratava pela janelita da sala, mas a escuridão lá de fora não mo permitiu.

- Quem é? - perguntou a mãe, por fim, no tom mais confiante e seguro que a sua voz de sono conseguiu produzir.

- Donna...?

Aquela voz!

Foi como se tivesse parado de respirar por um segundo antes de trocar olhares com a mãe, numa de confirmar que nos soava à mesma pessoa, que eu não estava a sonhar.

E isso bastou para que me atravessasse à frente dela e abrisse a porta sem pensar duas vezes. Nada me prepararia para dar de caras com um Ryan Diaz trémulo, ensopado dos pés à cabeça, à porta da porra da minha casa para aí às três e meia da manhã enquanto caía um mundo lá fora, ainda por cima com a chuva tocada por uma ventania ainda maior que a da praia na noite passada!

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⏰ Last updated: Jul 16, 2024 ⏰

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