"13 de abril de 2022
Ryan Diaz
Só ao teu lado pude alguma vez sentir-me eu próprio, Eli...
Bem, olá.
Os dias estão cada vez mais quentes e aqui em casa continua frio, desde aquele dia, do último em que cá estiveste. Eu tenho frio, frio suficiente para me armar em escritor ao procurar palavras lógicas para te contar tudo o que sinto através destas páginas, para imaginar que te conto, no caso.
A mãe está algures lá em baixo no escritório e eu aqui, sozinho, como se tornou habitual. Afastei-me dos meus supostos amigos numa de me afastar de toda a gente de merda ainda restante na minha vida, como se isso te pudesse compensar de algum modo e de repente não havia ninguém, aliás ninguém com exceção da Diana. Ela está diferente desde que deixou o jornal, porém ainda me é dificílimo confiar, mesmo que tenha sido o mais perto de uma amiga que tive nos últimos meses.
A mãe tem se esforçado, pelo menos passamos algum tempo juntos. Lanchou comigo, temos lanchado juntos várias vezes, mas agora sou só eu, os empregados e empregadas que entram e saem, a tua mãe está algures também.
Ela parece preocupada quando me olha. Engraçado que imaginava que passasse a finalmente odiar-me.
Não quero que tenhas pena de mim! Não tens culpa, fui eu quem estragou tudo, tudo por querer ser melhor do que fui até aqui, tudo porque não queria desiludir a mãe quando foi ela quem nos desiludiu aos dois. Ela desiludiu duas pessoas e a ti duas pessoas te desiludiram, se é que ainda te desiludi e não estavas já à espera que algo do tipo acontecesse, se é que te entregaste tanto à nossa relação quanto me entreguei, porque entreguei.
Eliot eu amo-te, desculpa não ter dito a verdade, desculpa a burrice que é agir com o intuito de ser melhor, acabando por demonstrar que não passo da mesma criança burra que te abandonou por miúdos mais ricos e populares, mais dentro do meu estatuto, supostamente.
Não aprendi com os meus erros, porra. O que antes foi a manipulação de miúdos, agora deixei que a mãe repetisse.
Desculpa não a detestar, mas acho que não sou capaz mesmo sabendo que o que ela fez, que a forma como agiu matou algo em mim, ela é minha mãe, ela sempre fez o que pode por mim...
Posso contar-te uma coisa?
(Sinto-me um estúpido porque faço esta pergunta como se houvesse sequer uma mísera chance de isto lhe chegar, de voltarmos a trocar mais que olhares gélidos).
Quando estava doente e vieste cá a casa, depois de nos beijarmos e daquilo tudo eu procurei-a para lhe contar que sabia a respeito da morte do meu pai e encontrei-a a dormir, Eli eu nunca a tinha visto dormir durante o dia, a mulher trabalhava de manhã à noite, tudo por ela e por mim e naquele momento percebi que estava a ser uma merda há anos e nunca mais o queria ser, queria ser um filho que merecesse uma mãe como ela... Nunca mais a queria desiludir e por isso, por isso coloquei-a à tua frente, amor.
Não é uma desculpa, sou uma pessoa adulta, sei o que é certo e errado e mesmo assim sei que escolhi o que sei que não é certo. Estou a sofrer as consequências das minhas decisões e estás melhor assim, eventualmente vais perceber que estás melhor assim, eu é que não.
Ontem vi-te sorrir com ele, p'ra ele, ainda assim ver-te sorrir é bom, sabes? Nunca pares, nunca te percas."
Tristan POV
Passaram-se quase dois meses, estamos tão perto do final do ano, do baile, das festas... de ver os meus amigos a terminarem a escola, a seguirem para o próximo capítulo das suas vidas enquanto eu tenho mais um ano até poder fechá-lo também.
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Not Only Memories
Roman d'amour"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
