"30 de abril de 2022
Ryan Diaz
Bem, parece que comer mal, mal interagir com seres humanos e passar mais de metade dos dias aqui fechado, fez a mãe ficar preocupada, um bocado em demasia...
Discutimos, como era óbvio que aconteceria mais tarde ou mais cedo, porque eu tentei juro que tentei, mas ela quer enfiar-me num fucking psicólogo!
Não quero, não vou e sei que se me ouvisses e respondesses, independentemente de tudo dir-me-ias que estou a ser parvo e de seguida, com toda a calma do mundo ias convencer-me a ter juízo e ver que talvez me faça uma certa falta, mas tu não estás aqui, eu afastei-te outra vez e não vale a pena porque o que me está a acontecer não passa de uma consequência da minha estupidez e não algo que se trate com conversinhas, portanto não vale a pena, não vale o dinheiro, não vale a preocupação.
Olha está a chover TANTO! Meu, já tenho pouca vontade de sequer existir, quanto mais com este tempo de merda...!
Estou sentado à secretária, não o fiz muitas vezes antes de tudo isto sem ser para jogar no PC, agora estou aqui feito idiota agarrado ao caderninho, embrulhado numa manta e cheio de frio mesmo assim, tornou-se um hábito não é verdade? É como se aquela expressão de que o frio é psicológico se tivesse tornado real, se calhar é mesmo, se calhar sou só uma pessoa do tempo quente.
Só sei que isto está cada vez mais deprimente e de quem é a culpa?! De ninguém além de mim.
É a vida, mas...
Caralho queria tanto ter-te aqui!
Eli o dia está ainda pior que mau e sempre que me recordo de ti, do teu sorriso, dos teus lábios contra os meus, não sei se melhora se piora drasticamente pois a saudade parece matar aos poucos a pouca energia que me resta.
Sou um grandessíssimo cobarde, sabias? É possível que soubesses, mas tipo, ainda nem me dignei a tentar remediar as coisas, notaste? E queria, queria tanto ir aí a tua casa ou a outro sítio qualquer pedir-te desculpas por tudo e explicar-te porque agi assim, no entanto passaram dois meses e não tenho o direito, muito menos tenho o direito de te relembrar do que te fiz, de como te fiz sentir, quando agora te vejo ao longe, bem, feliz.
Não tive coragem até agora então de que serve tentar tão tarde?
Quando discuti com a mãe sobre a cena do psicólogo voltei a mandar as merdas da estante ao chão e descobri para lá um maço de cigarros inacabado, estive tão perto de fumar foda-se.
Mas estavas lá tu a contar-me a cena da morte do meu pai e nem consegui manter aquela merda no quarto.
Obrigado, pela milionésima vez, obrigado por teres sido sincero, precisava tanto que alguém fosse.
Acho que depois de ter voltado a ser um estúpido para ela, consigo tentar falar disto por fim, talvez lhe conte de uma vez que sei de que é que morreu o meu pai.
Mas não vou para a merda do psicólogo!"
E mesmo que a principal razão de não querer ir seja o facto de não querer ficar especado a olhar para uma pessoa que não me conhece de lado nenhum, porque foste o único com que alguma vez consegui falar sobre as minhas merdas, por momentos só gostava que pudesses convencer-me a ir.
Eliot POV
Bem, dois meses... Uma gigantesca montanha russa de emoções, diria mais. Fui de não ter forças para me levantar da cama, a dormir abraçado ao Tristan naquela mansão enorme, como se não houvesse mundo à nossa volta. Talvez seja burrice da minha parte, talvez um pingo de maldade, não sei, sei que provavelmente a última coisa que deveria ter feito era envolver-me com outra pessoa quando, quando o fiz acabei no fundo do poço e, para ser sincero, não acredito que esteja ainda fora dele. Eu sei, eu sei que o Tristan se meteu nisto sabendo bem que por muito que quisesse ainda não tinha esquecido o Ryan por completo, mas não queria usá-lo e se vamos ser francos, é o que estou a fazer. A usar alguém que sei que gosta tanto de mim quanto gostava de gostar dele, porque me faz sentir bem, vivo novamente, porque além dos meus amigos espetaculares, tem sido a minha grande razão para me levantar todos os dias, por vê-lo logo ali, ou para vê-lo dali a umas horas, há muito que não ficávamos sem nos ver por mais de um dia, tornara-se num verdadeiro suporte, nenhum agradecimento era suficiente.
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Not Only Memories
Romance"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
