"6 de maio de 2022
Ryan Diaz
Hey, olha, sabes, naquele dia? Depois de desapareceres pelas portas grandes, de saíres e de ter a certeza bem no fundo, de que não voltarias cá a casa, senti-me vazio, quando fiquei sozinho com ela lembro-me de pouco além da sua figura ajoelhada à minha frente a sorrir-me e a dizer que sabia e que estava tudo bem em deixarmo-nos influenciar às vezes. De resto acho que tudo não passa de um borrão, parecia que estava fora do meu próprio corpo. Não me lembro de chorar, não no escritório, na sala, ou em qualquer lugar em que estivesse à vista geral, enquanto estava com gente via as coisas à minha volta a acontecerem, fixo num ponto aleatório do ambiente e num facto, achava que tinha acabado com as discussões.
Quando por fim me fui deitar e me vi sozinho no quarto foi como se de rajada me tivesse dado conta do que se tinha passado e chorei até me faltar o ar, chorei até dormir e no dia a seguir não saí da cama, sentia-me a pior pessoa à face da terra. Quando saí, na madrugada do dia a seguir a esse, parti o espelho da casa de banho ao murro mal me vi nele e odiei cada mais pequena parte da pessoa que ali estava. Com a mão desfeita em cortes enrolada em ligaduras, continuava a sentir-me uma merda e acho que a dor nem era mais física que antes.
Mas continuava a ter uma certeza, que tinha orgulhado a minha mãe, que a nossa relação seria algo além de sermões e decepção a partir dali. Estava tudo um caos, mas ao menos tinha parado de desiludir a pessoa que dava a vida por mim, pensava assim sempre que queria esquecer-me de que tinha acabado de nos destruir aos dois.
E agora, nem as discussões terminaram...
Porque ela voltou com a história do psicólogo e só me faltou mandá-la à merda e no dia a seguir quando nos cruzámos ao pequeno-almoço sugeriu que me reaproximasse dos outros! Juro que não a percebo! Precisa assim tão desesperadamente que eu conviva com gente para parar de se sentir culpada por ter perdido a única pessoa decente que tive na vida,(a Diana tem sido uma boa amiga, mas nem compares) que sugere que me volte a dar com as amizades que ela desaprovava?! Aliás, que ela primeiro me impingiu e que mais tarde criticou! Não percebo, juro que não percebo.
Enquanto trocávamos farpas escapou-me que foste o primeiro a ser sincero comigo... Acho que ela sabe perfeitamente que a tua ausência é o que me tem arruinado, mas ainda não me tinha saído nada tão explícito. Fartou-se de perguntar que raios queria dizer, mas eu já lhe tinha virado costas porque não só quase disse que sabia de que é que o meu pai tinha morrido, como quase disse que tinhas sido tu a contar-me e estava a entrar em pânico por dentro.
Só que dei-me conta de uma coisa ali, que só enfiei os fones e não disse mais nada, porque comecei da forma errada. Porque vou contar-lhe Eli e foda-se!
Tenho adiado demasiado esta merda e agora, agora já não tenho nada a perder."
Eliot POV
Os pais do meu melhor amigo foram jantar fora e quando Jer comentou isso connosco, mandei-lhe mensagem a perguntar se não se importava que estivéssemos sozinhos hoje, porque já apostava que isto fosse suficiente para combinarmos algo com todos, uma sessão de estudos e depois filmes até de madrugada por ser sexta.
Sabendo perfeitamente como era raro que fizesse pedidos destes perguntou-me que se passava ainda por mensagem e convidou-me logo para dormir lá.
Assim saímos da escola juntos depois de nos despedirmos dos restantes, caminhando em silêncio pelas ainda quentes e agitadas ruas de Los Angeles.
Revivi várias vezes o beijo rápido que depositei nos lábios de Tristan, num canto mais reservado, como era nosso hábito e aquele ardor no peito persistia de forma tão irritante que não me dera conta que o esfregava até Jeremy falar.
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Not Only Memories
Romance"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
