- Deus do céu, oh Ryan entra! - exclamou a mãe que voltou lá para dentro mal o viu dar passos pequeninos para o interior, como se estivesse aterrorizado.

O vento que entrou naqueles minutos bastou para me gelar os ossos então nem quero imaginar como não estará ele, de quem até os dentes batem! Ainda por cima estava a fazer-me tanta confusão aquela sua figura de aparência amedrontada, parecia demorar eternidades a entrar! Antes de apagar a minha expressão embasbacada do rosto para dizer qualquer coisa, já o tinha puxado pelo braço para dentro para que saísse daquele temporal.

- Q-Que é... Que é que estás aqui a fazer?! - indaguei gaguejando.

- P-Precisava mesmo, mesmo de f-falar contigo. - murmurou entre tremores e só quando lhe ouvi a voz reparei nos seus olhos vermelhos, inchados e chorosos, tão úmidos, quanto estava todo o resto de si - A mi-minha m-mãe mandou-me ir para uma festa... com filhos dos parceiros dela, mas, mas... não consegui mais. P-P-Por fa-favor. - fungou.

A mãe voltou do quarto de rompante com uma toalha grande e uma manta das de inverno nos braços, enrolou a toalha à volta dos ombros dele depois de o fazer tirar o casaco encharcado e estendeu-me a mim a manta.

- Oh rapaz, o que é que te deu, ainda assim?! Já viste esse estado? A Claire faz sequer ideia que aqui estás?? - ia questionando entre dentes, com a preocupação evidente nas suas sobrancelhas franzidas - Filho vai com ele para a sala que eu vou ver se faço um chá, precisas de algo que te aqueça. Ah e vê se lhe arranjas qualquer coisa para vestir!

Dirigi-lhe de imediato um olhar tão preocupado quanto o que dirigia a Ryan, antes que pudesse desaparecer na cozinha.

- Importaste de ires tu buscar, por favor? As sweats estão na cómoda e devo ter umas calças de fato de treino para lá também.

Ela suspirou, mas assentiu, percebendo perfeitamente que não o queria deixar só e posto isto guiei a figura trémula para o sofá na sala.

Ainda completamente incerto do que estava a fazer, sentei-me ao seu lado e comecei a usar parte da toalha para lhe secar minimamente os cabelos, o rosto, mesmo que isso não servisse de muito uma vez que em menos de nada, a toalha estava tão encharcada quanto as roupas que se lhe colavam ao corpo.

Acho que nunca me senti tanto um idiota quanto neste momento, em que devia continuar furioso com o rapaz diante de mim. Mas ontem quase morreu para tentar salvar-me sem saber nadar e hoje está neste estado sentado na minha sala, praticamente às escuras.

- D-desculpa... - balbuciou - Está a ficar tudo ensopado por minha causa e e n... não sei, não sei se devia, não devia...

De um momento para o outro a voz falhou-lhe e baixou a cabeça, foi como se o visse desabar diante dos meus olhos.

Parecia aquele dia, no quarto feito em cacos.

Soluçava baixinho como se lhe tivesse acabado a energia.

Senti os olhos a arder e o coração a partir-se aos bocados, olhei para o teto, respirei fundo e substitui a toalha que o envolvia pela manta grossa, passei-lhe as mãos pelos braços na tentativa de aquecer o seu corpo que continuava a tremer sem parar.

Incapaz de me controlar por mais um minuto, puxei-o, ainda enrolado no cobertor, para mim, sem me preocupar um segundo com o facto de que estava a molhar-me também. Só queria que ficasse bem, que parasse de parecer tão frágil, destruído.

Porque a ideia era que com o fim deste ano, tudo, esta merda toda ficasse nas memórias, nas recordações apenas! Eram memórias, era para serem só isso e agora ele está a chorar-me nos braços, ontem tentou salvar-me sem pensar e veio até aqui a pé, sabe-se lá desde onde, só para falar comigo e o meu coração fraco é incapaz de lhe ficar indiferente, em especial quando ainda bate por ele.

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⏰ Last updated: Jul 16, 2024 ⏰

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