Not Only Memories

~~Capítulo 10~~

Lembro-me de estudarmos, de o ajudar com matemática, de jogarmos pelo meio dos estudos, dos seus choradinhos e bebedeiras intensas, das nossas conversas de meio ano e música ouvida sem se fazer mais nada. De como é distraído e tão preocupado em simultâneo, das nossas mil noites a dormir lado a lado desde novitos. Do entendimento que um olhar nos consegue dar.

Jeremy...

Afastámo-nos quase no fim da canção e vi brilharem-lhe também os olhos, húmidos tal qual os meus que haviam de lhe ter humedecido o casaco que se esqueceu de tirar.

Fomos lá fora para isso, o resto do pessoal veio fazer o mesmo, sacudirem-se da água e encherem-se de areia, por ironia.

Marc mandou-se para a areia, Dave fez logo o mesmo, fiquei com pena daquela camisa rosa e das calças brancas.

- Vocês vão ficar bonitos, vão! - troçou Elle que continuava com o vestido arregaçado e trazia os sapatos na mão.

Diana fora das poucas a ficar por lá, ela e Tristan continuavam a dançar bem à beirinha, o vestido longo e volumoso a girar com as voltas dadas, os seus cabelos agora livres até da fita azulinha a dançarem no ar como a portadora dançava.

- Vai lá! - induziu Lou em tom de brincadeira, dando uma cotovelada cúmplice à melhor amiga que fitava a morena daqui.

Valerie revirou os olhos, mas correu na direção deles em menos de nada, não tardou muito a que Tristan as deixasse sozinhas.

Resolvi regressar à água quando Val nos chamou, uma vez que Diana saíra, cansada, para se juntar a Ryan, sentado na areia.

Bem, tentei não me focar nele, seguir com a minha vida e afastar-me daquele teatrito de olhadelas, no entanto acabei por ir lá parar, olhei os dois que sorriam enquanto conversavam sobre coisas que me eram desconhecidas, escapou-me um sorriso mínimo também, não o percebi bem, confesso. Acho que partiu qualquer coisa do facto de não o ver só, de que mesmo que se mantenha à parte, longe da água, como lhe era natural, havia quem abraçasse o seu verdadeiro ser, estava feliz por ele.

Talvez tivesse chegado mesmo a hora de o colocar atrás das costas.

Sorri um pouco mais e senti que se me marejavam os olhos, novamente, então voltei-me para o mar e para os meus amigos que continuavam a aproveitar alegremente. Era o que deveria fazer, era para isso que aqui estava.

Andei, andei para dentro, saltitei ao som da música, a minha mão tocou a da Eleanor que me sorriu por instantes, os meus dedos entrelaçaram-se com os da Louise e demos voltas de mãos dadas.

O vento a fazer tudo esvoaçar, as ondas a rebentarem contra nós e um certo frio que aumentava cada vez mais.

Dei um passo, depois outro e falharam-me as pernas quando a força do mar que puxava e puxava, me fez cair. Faltou-me o ar, nem me dera conta que estava tão para dentro, tentei voltar ao de cima e não fui capaz e sei nadar bem desde pequeno!

Se calhar se tivesse mantido a calma, ter-me-ia escapado a tamanho desespero, contudo não demorei a perder o controlo ao corpo, a sentir os batimentos cardíacos dispararem, a engasgar-me com a água que me entrava pelo nariz, depois pela boca que abri já em pânico... Estava cada vez mais difícil respirar, mover-me por conta própria, ali, enrolado na merda da onda que me embrulhava o corpo e a roupa que o tornava mais pesado!

Pensei em fechar os olhos, mas temia não voltar a abri-los.

Ainda tentei voltar ao de cima, desenvencilhar-me, mas faltava-me a força.

Caralho, não posso acreditar que vou morrer afogado, que vou morrer afogado no raio da madrugada do meu baile de finalistas...!

Não era capaz de me manter acordado, já não me restava ar nos pulmões, a água apoderava-se deles e alguém se aproximou, um vulto... era indecifrável, no entanto, mesmo assim apetecia-me chorar de alegria, alívio. Só que os meus olhos fecharam-se contra a minha vontade.