Da nossa parte, só Marc havia trazido carro, então demos prioridade às miúdas por causa dos sapatos de saltos altos e calhou-nos aos restantes ir a pé. Saí abraçado ao Jeremy que cantarolava qualquer coisa, divertidíssimo. O Dave vinha de braço dado com o Tristan que puxava para que se juntassem os dois ao Jeremy a cantarem a música que até agora não havia decifrado, enquanto morria de rir a ponto de me doer a barriga.

- Que raio de merda estão vocês a cantar? - indaguei entre gargalhadas.

- Não se percebe logo? - perguntou Jer, indignado.

- Show Must Go On, Eliot! - exclamou Dave, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Matei-me a rir.

- Parem de assassinar a música, coitado do Freddie Mercury! - retorqui.

A boca de Jeremy abriu-se de espanto e afastou-se de mim de braços cruzados.

- Okay... - balbuciou fingindo certa emoção - Essa doeu, não gostei.

- Sim, sim, peço mil desculpas pela minha sinceridade, agora mexe-te, a aguinha boa aguarda-nos! - foi a minha vez de o puxar.

- Não vou, não vou... agora fico aqui, ofendeste as minhas habilidades de cantor! - declarou.

Dave e Tristan riam de fundo.

- Mil desculpas, vá, nunca mais ofendo a tua falta de habilidade, da próxima até me junto!

- Yey! - parecia uma criança.

Lá o arrastámos dali e fomos andando para a praia, não éramos os únicos finalistas na rua, como nós ia outro grupo do lado de lá, gritámos e cantávamos como se o mundo não nos pudesse ouvir, como se nesta noite fosse tudo só nosso.

Diante da praia onde voltava a ecoar música, uma playlist enorme com um pouco de cada gosto, sorri de olhos postos nas variadas figuras do meu ano a dançarem na areia e na água. Troquei um olhar entusiasmado com o Jer, sentia uma coisa parecida com nostalgia já, como se tudo aquilo fosse incrível, surreal e mais incrível ainda por do fim se tratar!

Parecia que se me formava um nó na garganta quando descalcei os sapatos, no entanto resolvi ignorá-lo.

Dei a mão ao meu melhor amigo que deu a mão ao Dave e ele ao Tristan. Uma vez mais, fingimos que mais ninguém nos via e descemos pela areia com as calças arregaçadas em direção à água e os sapatos largados mais acima, junto aos de tantos outros. Pelo canto do olho, reparei nelas e no Marc que ao darem pela nossa chegada, vieram juntar-se, ouvi o gritinho da Valerie e senti logo a seguir a mão macia da Eleanor na minha, os nossos dedos entrelaçados e a sua outra que puxava o vestido para cima, mostrando ainda mais os pés descalços. Valerie entrou a correr mais à frente que nós, as duas mãos a levantarem o vestido vermelho vivo, dançava alegremente, puxou a Lou a quem o vestido escapou e acabou com a parte inferior na água, pareceu preocupada primeiro, depois a loira ergueu-lhe o rosto para que se concentrasse naquele momento, sorriam, abraçaram-se. Jeremy e Eleanor balançavam-se na beirinha abraçados, enroscados um no outro, eu saltitava com o resto do pessoal mais para dentro, as calças já encharcadas das ondas que me rebentavam em cima, os cabelos soltos novamente a esvoaçarem com o vento cada vez mais forte.

A Lua e as estrelas estavam a começar a ser escondidas pelas nuvens, aposto com quase toda a certeza que deve de ir chover, contudo, ninguém parecia minimamente preocupado.

Ao longe, da coluna na areia, começaram a ouvir-se os primeiros acordes "errados" de guitarra de uma música capaz de me trazer uma sensação familiar única, transporta-me para uma paz inigualável.

Good Riddance

Procurei Jer de imediato, quando nos vimos avançámos um na direção do outro a berrar a letra, mal Billie Joe Armstrong começou cantar. Apetecia-me chorar e talvez tenha chorado, talvez seja por isso que o vento me gela ainda mais a cara agora. Abracei-o como se o mundo fosse acabar, incapaz de imaginar a minha vida sem a sua presença constante, sem o sorriso, as piadas, os abraços reconfortantes, a capacidade de ouvir e perceber cada um dos meus momentos difíceis, tresloucados, algo instáveis, mesmo que ele próprio possua as suas inseguranças e incertezas. Era um sinónimo tão belo do que considero um porto seguro, a mão capaz de me ajudar a levantar, não importa a queda.

Not Only MemoriesWhere stories live. Discover now