Capítulo 27 - Olhos que se cruzam

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19/04/2019, 14:30


A lentidão na qual meus dias passam é torturante, as horas se arrastam e me dão a certeza de que toda a tristeza que estou sentido será eterna. As manhãs são ainda mais dolorosas, pois sempre que acordo com o vazio da cama ao meu lado sinto como recebesse novamente a notícia daquele maldito acidente e soubesse que estou sozinho outra vez. Eu perdi Pedro duas vezes e sinto que estou perdendo Cadu também, afinal como posso competir com a mãe dos seus filhos.

De um lado estou eu, uma aventura que surgiu de um momento tão sensível e doloroso, cheio de incertezas e sem expectativa de nada. O que tínhamos em comum era a dor de perder alguém que amávamos, mas o destino se encarregou de nos separar até nesse ponto. Do outro lado tem o modelo ideal de família do qual ele tanto idealizou e que agora pode ter de volta. Tem a esposa que ele acreditava estar morta e que milagrosamente voltou a vida. Me parece que estou em uma batalha perdida.

A situação que nos colocamos parece cada dia mais insustentável, nenhum dos dois sabe como agir ou que passo tomar a seguir. Temos dormido em apartamentos separados, mas é inevitável que nossas vidas estejam interligadas. Sou eu quem tem cuidados das crianças enquanto ele está fora, sou eu quem cuida da casa, quem faz comida e até quem leva roupas para ele no hospital quando precisa, por isso mesmo que eu queira manter distância, é totalmente impraticável.

Toda vez que nos vemos é como se um murro de três metros com cerca eletrificada se formasse entre nós dois. Nenhum de nós está preparado para lidar com as decisões que precisamos tomar.

— Vamos crianças, nós temos que nos apressar. — eu disse tentando fazê-los entrar no carro, enquanto eles tentam fugir da cadeirinha.

— Nós vamos ver a mamãe? — Diogo perguntou enquanto eu colocava sua irmã no lugar.

— Sim, vocês vão ver a sua mãe lá no hospital. — eu disse a ele.

— E ela vai voltar com a gente pra casa? — ele continuou.

— Hoje não, mas logo ela poderá voltar.

— E nós vamos voltar a ser uma família? — indagou, suas palavras soaram como uma sirene na minha cabeça. Como eu poderia me interpor entre essas crianças que aprendi a amar e última oportunidade de terem sua família reunida.

A sensação era de uma faca sendo cravada em meu peito. Tenho uma escolha pela frente e ela seria a mais dolorosa que tomaria em toda a minha vida. Se escolhesse lutar por ele, teria que passar por cima da esposa doente em uma cama de hospital, dos filhos que sentem falta da mãe e da família que conheciam e até dos sonhos que Cadu tinha com a esposa. Por outro lado, se desistisse, meus próprios sentimentos seriam feridos e, se tudo que vivemos nos últimos tempos for real, os dele também serão despedaçados.

Desastres em ComumWhere stories live. Discover now