Capítulo 13 - Perguntas que não quero responder

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02/03/2018, 23:38

Av. Telles, Rio de Janeiro – RJ

601 A


Minhas lágrimas já tinha secado quando cheguei ao meu, agora vazio e escuro, apartamento. Estava seco e oco, como se tudo que costumava existir dentro de mim tivesse escorrido pelos olhos nas últimas horas. Minhas pernas se moviam involuntariamente em direção a minha cama, onde deixei meu corpo cair e ser envolvido pelo cobertor, tudo isso em uma espécie de piloto automático. Não tinha forças nem para pedir ajuda, só fiquei no escuro em silêncio esperando que o sono me levasse para algum lugar que pudesse sentir algo.

Mas tudo que veio foi a escuridão.

O despertador soou as 7 da manhã, horário que eu normalmente iria levantar para correr no parque, ao mesmo tempo, em que o Pedro estaria resmungando para eu desligar logo aquele barulho ensurdecedor. Depois, quando eu voltasse da rua, ele ainda estaria na cama ronronado como um gato velho preguiçoso. Mas agora essa realidade me parece tão distante, como se tudo isso fosse parte de outra vida. Ele não estará mais ao meu lado e o peso disso parece comprimir meu coração contra o peito.

O dia anterior ainda pairava sobre a minha mente, como uma nuvem pesada e escura pronta para derramar a sua tempestade sobre mim. Tinham sido horas naquele aeroporto aguardando notícias sobre o voo desaparecido, mas elas nunca chegaram. Tudo que ouvimos foi que já tinham começado as buscas no ponto onde a aeronave tinha sido captada por um radar pela última vez. Depois disso só vieram pedidos de calma aos familiares, que a essa altura já conseguiam manter os ânimos.

Já a noite fomos dispensados de lá, disseram que deveríamos aguardar em casa que seriamos comunicados sobre qualquer atualização, mas eu sabia que a maioria daquelas pessoas estaria lá no dia seguinte atrás dos seus entes queridos. Eu sabia que precisava sair da cama e ir descobrir o que estava acontecendo, mesmo que isso significasse ter que lutar contra cada célula do meu corpo que implorava para que eu continuasse ali deitado.

Escorreguei pelos lençóis e me arrastei até o chuveiro, arranquei as roupas e entrei debaixo da água gelada, esperando que ela conseguisse limpar ao menos um pouco do que estava sentido. Fiquei sentado no azulejo frio apenas refletindo em como as coisas seriam daqui para frente sem o Pedro para ser meu porto seguro.

Depois do banho finalmente coloquei meu telefone para carregar, logo muitas mensagens e avisos de ligações perdidas soaram descontroladamente do aparelho. Eram dúzias de amigos que tinham visto a foto do Pedro estampada no jornal ou nas redes sócias como um dos pilotos do avião que tinha sumido. Alguns pareciam realmente preocupados comigo, já outros não escondiam que só queriam ter notícias do que estava acontecendo em primeira mão.

Respondi as poucas que achei importante, mas uma se destacou. Mari implorando para eu atender suas chamadas. Então, sem pensar muito, eu disquei o seu número e esperei que ela atendesse. Sua voz saiu esganiçada e estridente, quase um grito de desespero. Das poucas palavras que entendi ficou claro que ela estava realmente muito abalada.

Desastres em ComumWhere stories live. Discover now